segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

DA MÃE

Era mais que meia noite, quando a mãe acordava de seu profundo sono, e como que enclausurada dentro de si, assistia um próprio espetáculo de um momento solitário e angustiante de desespero sem entendimento, de sensação sem motivo, de algo inalcançado pela razão, porem suficientemente real para desassossegar seu corpo naquela cama, agora fria e mau quista, de pedra, ardida em fel, e traiçoeira ao longo dos lençóis. O medo destilava seu éter entre as paredes do quarto, que a espremiam sem parecer, e aos poucos sugava o ar viciado e infecto que transbordava dentro do pequeno quarto. Estava sobressaltada e ao mesmo tempo sentia que soava frio, já que o tecido em baixo também estava encharcado, junto a fronha de seu travesseiro empapado das conseqüências de seu estado febril. A ausência do pai talvez lhe importunava no seio da alma, mas acostumada estava a solidão e ao árduo empenhar diário de se manter em segredo consigo mesma. Não teria motivos para se apavorar a essa altura do jogo, tudo estava mais claro do que nunca e em seus olhos acendia a certeza de se bastarem sozinhos no escuro. Não precisaria de ninguém mais, nem dos pais mortos, nem do bebe recém abortado, nem do pai. Tudo o que precisava existia bem ali, ao seu alcance, dentro daquela pequena casa escondida num ponto desse mapa disfarçado de mundo. Suas mãos, e seus filhos, que dormiam ao quarto ao lado. Alem dessas paredes era ficção que não importava, e na verdade, funcionaria unicamente como instrumentos dispersos, espalhados pela vida, para que conseguisse manter o que já de fato possuía. Não refletia muito além dos motivos pré-existentes, e nada queria de novo, nada a mais deveria interferir no modelo ideal organizado ao longo dos acasos e resultado de uma equação que se pensada em produto diverso se daria. Não, não teria porque se amedrontar agora, o pior já tinha passado, e o remorso de não haver sido o suficiente para aquela mãe defunta não corroia mais seus dias com ácido e veneno. Sua carne já estava retalhada por lagrimas incontáveis, que como água escorrendo em pedra, trazia a erosão para sua pele, vincando cada fossa de sua face envelhecida. Jovem era, porem jovem havia sido. Seu rosto hoje misturava o rosto de duas mulheres, uma do amanha, vinda precocemente do futuro, e outra do ontem, para sempre ancorada e petrificada no passado. Seus dias eram um enrejicimento completo, uma ancora impelia movimentos bruscos e secos, o que a adequava perfeitamente para o modelo padrão dessa rotina criada, dessa vida sem ambição, dessa resignação absoluta. Não haveria de olhar para trás, de frente o bastante para arrancar essa máscara de fortuita culpa dissimulada, pretexto para atrasar o que estaria naturalmente por vir, não haveria de entender que nada poderia ter sido feito alem do que foi feito. Sua mãe estava morta, e disso nada mais se extrairia. Não houve acidente, houve fato. Não existiu culpa, e sim desculpa. Nada mais poderia ser feito. O impressionante da morte é o absoluto egoísmo que pode fustigar e evidenciar através do sofrimento dos vivos, que fazem questão de atraírem para si funestos resultados quando insistem em sofrer numa proporção maior do que a própria vida, como se pudéssemos deixar de enterrar nossos mortos, como se pudéssemos nos condenar a existir para sempre. A força de uma ausência existe suprema quanto mais notada, e mais ausente se torna a presença dessa falta incontestavelmente presente, desse impossível absoluto, quase que afrodisíaco êxtase de se morrer junto todos os dias, estando vivo da maneira que se concebe estar vivo, da forma que se sabe o que isso significa, até o limite de sentir o que de fato é viver, do código criado para decifrar o que interpreta-se como vida, e da certeza que isso tudo de fato existe, e não é a morte, sendo esta algo diverso, que em tese, também existe, com a diferença de que nunca ninguém morreu antes para se saber se existe qualquer coisa além de vida! Os lençóis continuavam ensopados, e junto a sua respiração penosa e densa, o barulho da chuva apedrejava ainda mais seus ouvidos, martelando as telhas sem perdão, insistindo em demonstrar que a vida chovia, e que esta de fato era um temporal. O inferno deveria estar lá fora, mas será que o diabo já não haveria de estar dentro da casa?

Lentamente as imagens do sonho voltavam em sua memória, e se apoiavam distantes nos traumas mais reais que nos acompanham pelo resto da vida. Levava as mãos na cabeça, e as massageava, como se esse gesto fosse trazer alguma forma de alivio a essa agonia atroz revelada no meio de uma madrugada de tempestade, imposta pelas trevas da noite que se faria infinita naquele específico lapso temporal.

Sonho, pesadelo, realidade, os conceitos eram muito tênues, diluídos em sua afetada percepção naquele momento. Qual a fronteira que não seja subjetiva para segregar esses poderosos monstros?

Qual teoria permitiria que se fosse criado um nível aceitável para se classificar as coisas como sendo diferentes entre si? Como sendo melhores se sonho, ou piores se pesadelo, ou ambos se reais? Qual pesadelo não comportaria uma realidade, e não dialogaria com ela de forma mais cruel e dilacerante que o próprio bom dia de um marido bestial, podendo inclusive interferir o suficiente na sucessão de fatos que muito são tidos como extremamente reais? De que forma um sonho se difere do real, se estamos sonhando vivos, pois já nascemos de olhos fechados, nascemos mordendo a terra? A mãe ainda ardia em febre, e delirava aos poucos, sem água, sem fria água para aplacar o fogo vil que acendia suas pálpebras em chamas, e lhe conduziria para os escombros finais de seu insuportável mundo. Maldito passado que insistia em não passar nunca, que pela febre combustava em sua noite mau dormida, que pelo sono atravessava os bloqueios de suas artificiosas defesas, malgrado os protetores anjos que não a acolhiam quando sob o fado baixava os infringíveis olhos da treva.


A madeira da cozinha reluzia, peroba ou nogueira, reluzia opaca, mais pelo esforço da cera, do trabalho constante de lustrar, e limpar, e varrer, e depois novamente limpar, e muito sujar, todos os dias um pouco sujar, para limpar de novo, e varrer, com vassouras endiabradas esquecidas em área de serviço ausente, junto a copos e talheres e facas, espalhados, servidos ao longo da mesa de madeira reluzente; luz que invadia a cozinha, certa fobia de se estar confinado, preso em uma espera que não termina, que não acaba antes de se importunar com todas as ansiedades cabíveis numa pequena cozinha. Também tinha café, negro, como os cabelos de Maria que balançavam, que reluziam, mais que a madeira, mais que luz fria do dia, onde não se sabia se manha ou tarde, já que algo dilata-se no tempo dos sonhos, nos momentos que estamos acordados numa cozinha pendurada em algum lugar do passado, uma cozinha no inferno, ou numa casa abandonada qualquer, numa cova, ou até mesmo, uma cozinha no cemitério, uma cozinha para os mortos. O filho ainda não tinha, mas tinha barriga, tinha cabelos negros cumpridos e barriga, linda, meiga, cândida e pequenina Maria. O café para o marido passava, que da hora passava, e seus pés já balançavam, pois má sensação lhe aturdia, algo que enrosca-se no pescoço, como quando travamos o maxilar, e jura-se que o estamos quebrando com pressão e força, e de súbito acordamos com os dentes cerrados. Faltava-lhe ar, talvez não era mais dia, e sim, tarde bem após o entardecer, e luz não existia, nada alem de treva para alem da janela. O café preto esfriava, e dos seus olhos uma lágrima escorria. Assim esperava pobre Maria, sem muito do seu esposo conhecer ou esperar, já que grávida a pouco se fazia, e casar as pressas era tudo o que melhoraria sua situação. Casada, sozinha, ansiosa e com vontade de beber mais café. Frisava muito esse café, talvez por ser um motivo, ou um pretexto. Uns bebem café, até o cheiro do café forte presente se sentia, outros água ardente, outros ainda bebem veneno no fim do dia, ou até mesmo urina.


Nada se bebia, e a sua garganta estava seca, árida de vida e voz, emudecida de vontade de se mexer. Com uma mão apoiava-se no colchão, e um esforço extremo fazia para se levantar, infelizmente seus membros estremeciam, e numa queda ela voltava a deitar-se. A temperatura estava alem do suportável, seu sono a tinha exaurido. A tempestade continuava gritar implacável fora daquela singela cela disfarçada de casa, e os corvos insistiam em declamar os versos do desespero humano, petrificado por gerações intermináveis nessa eterna busca de se justificar a cada nascer do sol, a cada nota dada por um vento que sopra de longe uma poesia erudita por demais à sensibilidade por demais racional. Sua fraqueza era percebida em cada uma de suas células enfastiadas e engolidas pela própria metamorfose de se existir ao longo de uma continuidade que muda, que transforma, que pede pelo novo numa geladeira de criações congeladas e possibilidades esfriadas para sempre. A febre tenderia aumentar, e conforme sua degradação moral e sensação de insignificância penetrasse em sua percepção, mais estaria condenada a não abandonar seus medos, e não suportar o mínimo de interferência em tudo aquilo que já tinha estabelecido como normal, como aceitável, como digno. A ignorância lhe faria escrava dos próprios valores, e massacraria sua paz como as mandíbulas de um lobo faminto beijariam a pele de um gorduroso carneiro, o símbolo do sacrifício, o antagonista da vida colorida pelo real e profundo significado da liberdade. Os seus dias de dependência macabra haviam passado, os dias em que submissa a um marido alcoólatra lhe retiravam a autonomia de expressão e poder de significar sua própria vida, mas será que não fora substituída por uma outra dependência tão mortífera quanto, será que o que elegemos como absoluto não nos pode devorar na primeira oportunidade de prova? A vida haveria de lhe testar no caminho em busca da água, da partida de seu deserto rumo ao oásis daquela cozinha, a mesma cozinha dos sonhos, onde sua febre poderia ser atenuada, ou imposta fatalmente para o resto de seus dias. Não mais dependia daquele marido que abandonara o lar, havia contornado o poço com o próprio trabalho, afinal, a independência do outro é mais do que um alivio para qualquer câncer moral, devastador de auto-estima, aniquilador de sonhos. No fundo por mais que se atire aos ventos o quanto deve se lutar por ela, aquele que as rédeas na mao segura, conduz todp seu desejo para manter a carruagem exatamente no mesmo lugar, atolada no charco de seus “podres poderes” e mesquinhos domínios, já que assim, através do controle indigno e manutenção dos limites alheios, aplaca-se a própria incapacidade de existir sozinho, e se bastar sem a necessidade de manter a fogueira do ego alimentada pelas lagrimas do alheio, que infeliz, sustentará em sua vida a sensação de significado, advindo de uma subjetiva escravização do pobre que ainda tem-se como ente querido e amado, num amor sem limites, sem condições, um amor incondicional repleto de exigências e entraves, mas que ressoa protegido pelo ar de uma liberalidade solidária e absolutamente desinteressada. Sim, Maria havia se livrado de um marido, mas será que com ele também se foram as algemas?


Noite de treva,
Intumescida pelo charco de teus olhos,
Noite singela,
Vasta pelo medo do abismo
Do piso sem assoalho,
Do falar sem som,
Emudecido pelo nada que significa
Venha arrebatar dessa vida
O resto de dignidade,
Que sem alma petrifica,
A ultima possibilidade,
De uma felicidade merecida!!


Assim mergulhava a mãe em seus próprios calafrios, e ainda sem se retirar da cama, se via ofegante e perturbada pelas imagens de alucinações de um pesadelo vivo, de uma morte sem vida. Assim as almas dos anjos condenados voltariam para reconduzir ao inferno um ingênuo que julgava do martírio ter escapado, e da travessia sem madeira de cruz, sem calvário explicito, sem chagas e moscas que lhe zumbiam ao redor da carne, desfigurada pelo estupro da própria moral, e das mentiras civilizadas convidadas por ela, ter desviado.


E os demônios do interior lhe zombavam a cada instante noite adentro.


Demônio de pedra, pelo tempo cativado,
Em olhos de Fedra alimentado,
Olhos de Fedra com cores de Frida
Recobre teus sentidos, e revelado,
Disforme em amor desfigurado,
Em ódio semeado,
Busque teu fim ,em forma aclamado,
E restitua o movimento,
Em teus membros engessados!
Ó, clamor de vozes noturnas,
Sinfonia macabra,
Se faça presente, e do intimo
Desse infeliz sorridente,
Se transforme, e em parto indesejado,
Não se mantenha apartado,
Revelando face transluzente,
No canto esquerdo do espelho
Em notívago reflexo,
Que da alma o corpo se faz ausente,
Em felicidade sem sabor,
Para sempre no externo cume,
Reinar absoluto,
De luto sincero,
Demônio do interior!



E a chuva ainda caia lá fora...

sábado, 18 de dezembro de 2010

(Caligu) Lua

Eu sou como a Lua, perversa na silente camada que encobre o céu, sou dissimulada e invisível em minha totalidade, e ao mesmo tempo, brilhante em tudo que mostro para cada par de olhos que para sempre obrigados estão a me enxergar…

...a sentir o perfume de minha luz, esparramado pelas incontáveis fendas da escuridão na Terra, pelas trevas interiores dos seres que ainda se rastejam em busca de compaixão, de auto piedade, de uma mísera faísca de prazer que nada significa ante o espelho incontestável da solidão de uma velhice que rasga a carne, inexorável, e inunda os dias com a banalidade mais atroz cabível dentro dos repetidos gestos de desespero!

Sim,

Silente e intocável, como um piano fantasma flutuado nas espumas do oceano. As brumas do tempo congelado num mar de pedras e remorsos, e amores naufragados no abismo do desejo...

Sou secreto e intolerável, e mesmo assim, sondado eternamente pelas presas canibais da ignorância primata do instinto, da cegueira no palácio dos odores de tintas e cores impenetráveis,,,

Para que serve a loucura, senão para diluir a dose atroz de realidade advinda com a reflexão? Para que serve o vinho senão para manchar os lábio e calar a boca do outro que exibe a piada fracassada de sua própria existência?

Ébrio e intolerável, caminho vacilante no equilíbrio, porém, com toda certeza devastadora de não precisar de seus olhos para enxergar... de suas mãos trêmulas ante a ameaça de perder um flash na capa de revista mais vendável, na revista de um pente fino numa amizade oculta por uma seda negra que encobre o delírio, a perversão, e a vontade pura de aniquilamento,,,

Descontrolado ao ponto de evidenciar a loucura desinteressada do amor, e ser julgado por isso pelas chamas ardentes de uma fogueira transformada em peste, no câncer social de devorar aquilo que denuncia a falta de brilho e coragem, o próprio reflexo da ingratidão nata para aqueles que mais que a mão, estendem o coração sem pedir o sangue de volta...

Não existe propósito no incondicional, não existe condição quando se de fato é...

As taças permanecem para sempre cheias, transbordando no vazio habitado de um bar...

Os cigarros eternamente acesos, apagando as mãos que com tanta ansiedade tragam a própria alma disfarçada de fumaça...

Sinto o silêncio de uma noite perdida no espaço,

Sinto a mim mesmo na dificuldade da vida...

Sou a dor da transformação, e a aceitação da crucial distância que sempre existirá entre um e outro, independentemente do jogo e das cartas, todos perdem num vínculo sem memórias, num banho de sangue, onde o aparentemente mais fraco serve a todos que acreditam serem fortes, mas que no esquecimento, utilizam a ironia para não rir da deficiência em comum, do total e absoluto desamparo, do homem e sua insegurança...

Sou como a Lua, que revela as imperfeições sem pedir licença, que bebe das águas dos mares sem encostar, e que não cobra nada pra enfeitar o céu, para insinuar o mistério e a poesia, e para seduzir tudo aquilo que se permite um instante verdadeiro de paixão...

Para que temer o absoluto?  Para que refrear o inevitável, e dizer não quando todos os poros são preenchidos pelo bruto querer... pela flor infinita do romance perpétuo?

No perfume da noite respiro a solidão de um astro, e perdido no ponto certo de um universo, sinto a dor e o prazer de ser uma única galáxia, uma estrela que se multiplica diante de um olhar de cortesia, que brilha quando encontra o sincero, e na oportunidade dos desfiladeiros do dia, depara-se com um abraço que é de verdade uma ponte....

E mesmo na moderna extinção do homem essencial, ainda respiro o seu cheiro, e incontestável, caminho em seu percalço, mesmo no sensorial do automático incômodo causado, dou inalterado meu gesto e minha atenção, e como todas as outras luas que já morreram, resistirei a viral hipocrisia do reconhecimento até o ultimo instante, nem que para isso, tenha que ser a única lua no espetáculo do céu!

E depois dela, nasceu o Sol!



Fernando Castro

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

TEOaGONIA

Acordo, ainda me doe o peso das pálpebras. Sinto-me como um papel úmido em branco a um passo de desmanchar-se. O frio do despertar me toca os ossos. As notas distantes de um piano me tocam na espinha. E por minha medula, percorre o medo e o silêncio da palavra. O que se tem a dizer? Num mundo fantasma de sombras e futilidades, como ser científico e não prolixo? Como não ser redundante e  sim autêntico, no esgotamento da originalidade, onde tudo soa envelhecido, como o mofo que assola o armário, como a penumbra no esgoto? A vida lhe ultrapassa sem pedir licença. As pessoas fazem parte da vida. E você, faz parte do que? Morremos na tentativa de decifrar o mundo, que em última análise, é a tentativa de decifrar a si próprio, e não perecer na mediocridade do banal, do ser comum sem iniciativa. Tantas ferramentas postas na garagem, o que fazer com elas? Será mesmo útil, será mais do que egoísmo? Nenhuma filosofia parece fazer sentido, nem mesmo o ceticismo. Porém, difícil é acreditar em qualquer coisa. Difícil é aceitar que se tem que acreditar, como um remédio para dor de cabeça, elegemos um ídolo para não ficar vazio o altar, mesmo que esse ídolo seja você mesmo, quando o terror do Narciso é que após ler sua própria história ele se depara com a ciência do seu afogamento iminente, e com a impotência ante o nada que poderá ser feito. O tempo de fato parece existir apenas na pele, o retrado de Dorian na calvície dos dias, e na paralisia dos músculos das pernas. A língua se cala e não beija mais. O silêncio abate a voz da dança, e o sangue evapora como orvalho esquecido na manhã, soterrado pela emancipação da aurora. Carne e pensamento apodrecendo dentro de um corpo transfigurado em uma jaula. O escravo se alimenta de ordens, e o senhor, será que se basta alimentando-se de escravos? Será que sua perspicácia infalível não o iguala ao mesmo escravo dolente ao chicote e mudo em sorriso e desejo?


Rasgo a cortina de meu quarto e arremesso o relógio no chão. Fecho a janela para o mundo não entrar, mas seus tentáculos passam pela fresta da porta. Sua escuridão aparece ao meio dia, na visão perturbadora do mundo cotidiano, em uma cena cotidiana, num cruzamento cotidiano. Um poste de ferro segura uma caixa preta com luzes que se intercalam, e determinam o movimento de automóveis, pressupondo-se absorvido o sentido preconcebido para essa palavra. Auto-móvel. Automovente. Auto funcional. Um transporte ou um assassino? Um amontoado de metal, de tinta e tecido, e combustão, sobre a mesma idéia milenar repetida a exaustão chamada roda, uma simples roda da pré-história e de borracha move o mundo, chamada pneumático, vulgarmente conhecido em sua forma abreviada, curta: pneu! Encurtamos tudo para facilitar a vida, inclusive a morte, quanto mais as palavras. Em breve não existirá mais vogais, nem eu nem vc, mto em breve tdo desaparecerá na ansiedade de se facilitar as coisas. Ficará fácil demais, não precisaremos nem nascer, quanto mais morrer!

Um pássaro grita no fundo, e atira no imaginário a sensação de um pântano fantasmagórico no meio da cidade infernal. O eco do caos em cada freada de ônibus sob pressão. Na lotação do silêncio, ficamos sufocados de tanto dizer nada que de fato importa, nada que não seja uma migalha para os pombos infectados, uma piada; e para as galinhas fáceis e fabricadas para serem servidas na hora do almoço. Um frango frito, desmanchando-se na boca todo o sabor plástico do supermercado. Não existe mais tempero. Engolimos o mesmo sabor, o mesmo esperma, a mesma angústia de ter que se engolir algo para não sufocar. E as pessoas ainda se casam e têm filhos. Por incrível que pareça, mesmo com todos os bueiros destampados, a humanidade consegue se proliferar. Gafanhotos e bebês juntos na maternidade do mundo. Não damos conta de limpar nossas fezes, e continuamos defecando dentro do quarto, na suíte presidencial do desespero, matrimonial do suicídio, e liberal do capitalismo moderno. Pelo menos ainda nos resta um pingo de dignidade, e de intimidade, já que por enquanto as casas ainda não são fabricadas com câmeras nos quartos. Podemos urinar nas paredes e ninguém ficará sabendo. Podemos até mesmo engolir urina sem avisar ninguém. Fantástico! Deveríamos fazer isso mais vezes, certamente sentiríamos mais o gosto da vida e sua mudança do que quando saímos de casa para votar. O gosto seguramente será menos plástico do que a lasanha congelada no inferno de um freezer. O sabor de líquido quente escorrendo pela garganta e se dirigindo para as nossas entranhas. Daí a Cesar o que é de César! Venha a nós o nosso próprio reino. Na nossa sacristia pessoal inventamos o nosso próprio vinho, Chateau Margaux, e devoramos nosso próprio Penteu, la merd, vive la merd, c’est tout ce qu'il y a! Realmente sempre foi muito mais fácil engolir os líquidos do que os sólidos. Não precisamos gastar tanta energia. Não precisamos fazer muito esforço em um mundo que abrevia as dificuldades. Não precisamos mastigar. A fumaça também é fácil de engolir, mesmo com as pessoas morrendo de câncer, a fumaça continua sendo fumaça, entre os dedos, no cigarro, entre os ossos, no crematório. No crematório divino que é a vida, para onde vamos depois de incinerados? Para onde vai a fumaça que caminha em direção ao céu? Talvez as lagostas também serão extintas, como os dinossauros. Talvez sobre apenas o sabor artificial dos crustáceos, e do homem que caçava lagostas. Será como um sonho, e Hesíodo não fará mais sentido fora dele. O homem será o único mito intacto, porém, depois da fissão de seu próprio átomo, quem restará para contar sua história?
O que sobra além do amor quando estamos acordados? Será que no indigitado altar cabe qualquer outra coisa que não ele?



O que sou Eu?

Invalidado pela incontinuidade do amanhã
Sabido não eterno em corpo de criança crescida
Uma Rosa que o tempo prometeu
No seu esplendor,
Envelheceu!
Esse sou Eu
E um pouco mais
De fome de dias que não voltam
De um tempo deixado para trás
Junto a ânsia das horas que faltam
Para um pouco mais
Experimentando do novo indiferença
No ausente eternizado pelo imaterial
Sou o físico se desmanchando
O pedaço de pétala de um sonho mortal
Acordado antes mesmo da noite acabar
Pelo ponteiro parado sem tempo
De vida, envelheceu
Enforcado no carrilhão das almas
Devir no amanhã sem hora
Esse sou Eu
Tempo que envelheceu
No ontem do agora
Esse sou Eu
Infinitamente
Resfriado pelo gelo
De um único fio de cabelo
Sustentando meu tempo
Que chovendo lá fora,
Se perdeu!


Fernando Castro


Boa noite,
Para todos os anjos que me cercam,
e para todos os sonhos que me aguardam!

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

LAOCONTE

Olhos não se fecham no final,
Atemporal sentido na carne
Em queda de muro divinal,
Um mural de sonhos e pesadelos
Destroçado pelo cume bestial,
Na selva de demônios e anjos
Brindando no cego desespero
As conseqüências do imoral
Onde os anjos se perderam
No limite perecível
Entre o divino e o carnal!!


Entre a luz e a escuridão,
Ainda restava uma saída,
Quando a carne apodrecida
Dizia sem perdão,
Não mais escutais as lágrimas funestas
Dos tantos imorais, e recusais abrigo
Aos profanos festivais
De teu sangue com teu sangue
Na carne de teus pais,
De teu irmão com tua irmã,
Nas montanhas em bacanais,
E se livrai dos corpos tantos
Amontoados aos pés dos santos
Que gritam o despudor enjaulado em
Terços brancos e castiçais,

Expulsais, expulsais,
As velhas bruxas dos seus conventos
E arrebatais os vetustos padres
Imorais, brindando a pedofilia
Com a batina, e sacralizando
Os meninos com seus punhais...
Não mais, não mais,
Pediam os verdadeiros santos
Que com seus chifres assustais,
O vermelho em sua pele
Transformais o mito da visão
E fazei do pranto algo para libertar
A morte de todos os santos
No vestido tão manchado de branco
Da santa virgem recalcada nos vitrais

Expulsais, expulsais,
E gritais para nunca mais,
Ser violado o sepulcro do amor
Em todo horror que triunfais,
Em todo pudor que dissimulais,
Quando veste a noite as tantas
Fadas, prostitutas imorais,
E juntas desfilais, acendendo
A tocha insana do ego
E suas conseqüências insanáveis
O ego despedaçado, destroçado
Por uma fúria sem precedentes,
Um cavalo sem medidas e pudores
Devorador mais que a serpente
Que se enrosca
Mais que o perpétuo lenço
Que sufoca
Encharcado de sangue inocente
Por uma civilização belicosa
Milenar, construindo suas escolas
Em cima de ossos e cadáveres
Das tantas Hiroshimas e Nagasakis
As Rosas belicosas
E os Cogumelos da destruição
Criando os seus filhos em abismos
Sobre a mesa de chá
Dos lares insepultos
Sobre o abraço da jibóia
Das tantas cidades do futuro
No amanhã de antes de ontem
Das tantas e tantas Tróias
Varridas e socorridas pela chama
Expurgadas pelos beijos de Napalm
Carbonizadas em Jesus Cristo
Nas noites serenas de Natal

Santo Deus,
Expulsais, expulsais,
O demônio líquido e negro
Do óleo que acende as chamas infernais
Extraído do submundo
Do inferno na Terra
Das profundezas do Malebolge
Nas noites que perscrutais
Como morcego de Judas,
Nos vícios infiltrais vossa medida
E mandais, mandais
Rouco dissonante
Sufocar com as próprias mãos
O profético grito de Laoconte
E seus filhos devorais,

Devorais,
Sua carne cética
Para com vossas ladainhas infernais
Mastigais, mastigais,
E voltes para mim
Com o diabo no corpo,
O sangue negro na bandeira
Dos desertores e desterrados
Mutilados,
Mastigados por minhas mandíbulas
E com a certeza apática
De uma redenção incondicional
E criança, nunca mais,
E desejo, nunca mais,
E nos teus gritos e sussurros
Vermelho será a parede de tua alcova
No silêncio de tua filosofia
Escatológica
Onde os vermes sobrepõem o pensamento
E no dote infernal
Do meu falo cavalar
Destroçarei vossa muralha virginal
Para desespero de toda castidade
Dos pequenos filhos de Laoconte
Devorados nas águas de sal
A beira da praia em temporal
De um pesadelo em chamas
No mundo moderno
O abraço da jibóia
Devora-se assim
Com um beijo do inferno
Os aclamados filhos de Tróia!!!

Fernando Castro

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Moonlight Sonata

Lua inabalada, brilha contra qualquer dizer,
E mesmo escurecida, calada, no toque de um lado obscuro,
Onde a chama humana não pode ver,
Também será Lua, e também estará lá....
Caminhando solene, desesperada por sempre ser a mesma terra que lhe cabe, o mesmo pedaço de ser,
E mesmo sem querer, será Lua, mesmo sem saber que é...
Entre nós está o infinito, mesmo sem querer...
Entre o meu amor e o seu corpo de lua, infinita, está tua decadência perpétua e inatingível,
Os teus goles remotos no passado enterrado pelas lágrimas do presente,,,
Um presente de casamento entre o ser que não se tem, e o ter que não é...
Ainda sinto teus beijos dilacerando minha carne,
Os teus peixes carnívoros num aquário de plantas imortais...
Ainda sinto o teu perfume de palavras navegando pelo meu pensamento... e os teus olhos de lua, percorrendo a vastidão de minha noite e iluminando o profundo silêncio abaixo de meus pés...
Toda possibilidade um dia já foi impossível
Toda saudade um dia já foi encontro
E por que?
Será esse o verdadeiro tempo?
Somos filhos do passado, e pais do passageiro, que anda, e que voa, e vive para se dispersar, no mundo da Lua, na terra do inefável beijo imortal...
A inefavibilidade do lado negro lunar também está lá...
Independentemente de se crer ou não se crer, as trevas também gritam na imensidão do satélite,
E se não gritam, mesmo as escutando, não será a nossa loucura suficiente para lhes dar a voz!
De volta ao princípio.
O que fazer quando somente o trauma leva ao raciocínio?
Raciocínio que conduz de volta ao trauma
O que fazer quando todo conhecimento nos guia de volta para a mesma perplexidade que o criou?
E as mãos continuam agarradas no vento,
E o abismo,
Dependurado em baixo de nós
Todas as noites, o mesmo silêncio ao luar,
A mesma Lua nos enxerga, sem falar, emudecida pela própria onipotência fecunda que dela brota,
Injustificável, não precisa falar,
Muito menos explicar porque é Lua, e porque será...
Somente ser, e pertencer a classe das coisas que não precisam de respostas
O milagre que não se pensa
O retorno que não volta
A luz da escuridão
Na Lua que habita a alma, impenetrável
Razão sem saber
De toda inenarrável
Viver e morrer
Não nos é dado escolha,
Nem de vir, nem de partir
E mesmo na ilusão do controle
De se atirar ao precipício,
Todo o peso do mundo o empurra, sem o pobre saber, pois já que se tem o poder,
Por que não faz agora?
Isso, vamos,
Acabe logo com isso,
Agora...
...
Não pode, não é verdade?
Pois então,
Esta fora do seu alcance,
Fora de nós
Do tempo sem hora
Estamos todos juntos
Morrendo aos poucos
De tanto que vivemos
Sem perceber que existe um tempo
Que devora, devora
E nem eu nem você
Será Lua ou Aurora
Para brilhar fora
Do tempo abreviador
do nosso tempo de outrora
onde sem pensamento
brincávamos juntos na demora
de perceber o sofrimento
e na poesia senhora
do tempo sem tempo
assistindo de mãos dadas
sem hora,
as gotas das chuva,
caindo lá fora!
...



F C

terça-feira, 30 de novembro de 2010

ÉREBO

Desce o manto da noite sem cura, do absolutO sem preservação,
Manto de lágrimas silenciadas pelo prazer, pela busca voraz de satisfação sem limites,

Aí também, noite de desespero, está a pulsão...

Está nato... evidente, Tânatos da noite, nato em nós, dentro do coração, aceso como um holofote...

O que nos arrasta para a fúria? Na dança do descontrole, seja bem vindo o acidente...

A dança da morte, na pulsão de vida do Strindberg em todos nós!

O sangue não para de jorrar pela boca, pela ferida aberta em seu corpo, uma cabeça aberta na calçada, no amanhecer dos mortos, dos trogloditas que dominam o inferno, os filhos de Nix,

Os filhos antagonistas da vida, as presas canibais no cúmulo da bestialidade, filhos da Besta, na consagração máxima da irracionalidade, das cavernas enfeitadas de civilização, sofisticação anabólica da brutalidade, na covardia de uma orgia de covardes sincronizados com o medo e a destruição...

Não posso mais sofrer, não posso tampouco lutar contra a invencibilidade da ignorância tardia,

Talvez sejamos mesmo treinados para sermos fracos, e como parvos delimitar a pequenez de um diâmetro de ilusão, nos fechando num círculo por demais estreito para se respirar...A própria incompreensão se debatendo num aquário sem oxigênio...

Talvez seja mesmo apenas vaidade, e além dela não resta sequer um impulso real para nos transformarmos em algo além de esterco,

Adubo para os próximos mortos, e carne sem distinção... Nascemos felizes e morremos alienados, o que nos transforma também nos mata, o que nos liberta nos acorrenta, e o conhecimento conduz ao desespero da sabedoria, à certeza de que tudo continuará na indiferença de nosso esforço, na alegria de nossa ausência, na perversão da tão volúvel bondade humana, nascida para a caridade tal como para a inveja, sem perdão, automática, sem prazer no prazer alheio, e sem gozo fora do egoísmo, pois na superfície da pele, apenas um sente, e esse um independentemente de ser eu ou você, sentirá sozinho....

Será a solidão a ausência de amor? Ou será o amor a ilusão da ausência de solidão?

Pois então, que os olhos continuem fechados, ignorando a dor trazida pela claridade, ignorando que também na luz mora a escuridão, e que aprendemos a ver ficando sem enxergar... ficando sozinhos!

Mais uma vez, morro nos braços da sua agressão, e na sua hostilidade me faço imortal... no seu ódio, existo fora de mim, e mesmo sem precisar dizer mais nada, sangrando, terei compaixão daqueles que me morderam e arrancaram um pedaço, pois certamente, para todo o sempre, estarão infectados...

F.C.

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

A Rosa Tumular

A Rosa tumular,
Adormecida,
Em seu silêncio noturno,
Transforma-se em crepúsculo
No poente da vida,
Esquecida
A Rosa adormecida,
De vida que implora
Por mais vida,
De lágrima que chora
Por mais um dia
Apenas,
Que seja lhe dada
Rejuvenescida
O prazer de se ter
O retorno daquele que foi
Para longe dela,
Sob seus pés,
Embaixo da terra
Adormecer
E nas raízes do incógnito
Envelhecer sem tempo
Sem hora,
Aquele que partiu
Para a lágrima inatingível,
O soluço intangível,
Do amanhã inalcançável,
Para uma rosa que chora,
A Rosa tumular
Em silêncio sensível,
De um amor perecível,
Plantado em meio de trevas
A Rosa negra da morte
Em seu silêncio intraduzível
Desdobra-se a cada dia,
Em pedaços
Se transforma em agonia
Com os pés descalços
Cruza a tempestade dos sonhos
Atravessando os encontros
Rodeando-se de prantos
De buracos tantos, que no simples desespero
De se sentar para jantar
Expressa todo lirismo decadente
De suas pétalas envelhecidas
Em lágrimas no vaso
Recortada imagem
Da beleza raptada
Selvagem
E podada para o eterno
Na prisão de um apartamento
Desmoralizado convento de santos
No eco do pranto
Se desfez como o quadro
Morto de Siqueiros
Onde os bebês estão mortos
Onde o resto da humanidade
Definha-se na sucata humana do desespero
Na lágrima mundana de um enterro
Para todo o silêncio do mundo
Se manifestar
E sem possibilidade de resgate
Nos caninos dos vermes
Naufragar,
Esquecer
Morrer,
Talvez perecer antes do tempo
Mas que tempo?
Que esforço que não seja ilusão e tentativa
De Adiamento?
Mas para que?
Que Rosa tumular não nasceu para morrer,
E enfrentar seu enterro?
Rosa de Siqueiros
Num país de araras sem donos
E vozes em baías de coqueiros
Lamentáveis
Versos de desespero
Na Explosão da Cidade
Na Fúria da Tempestade
Perdeu essa Rosa um amor
Na indiferença cruel de uma troca
Do que não tem mais volta
Do que não fala
Do que não se diz
E mesmo assim todos escutam
A cada dia, a cada hora
No abandono constante da carne
Vulnerabilidade do corpo
Em deplorável doença
Pétalas de imunidade
Na imunodeficiência
Do amor sem resposta
A ida sem volta
Sem volta
Sem hora
A Rosa de Lenora
No umbral do silêncio imortal
Pergunta essa Rosa tumular
À ave atemporal
Que pousa em seu ombro
O eco do pranto
De todas as lágrimas de todos os corpos
Pergunta essa Rosa de Lenora
Para todos os corvos:
- Será dada uma chance?


E foi quando que a ave imortal
Ao olhar de relance
E enxergar o fatal
Desespero para fora
De seu alcance
Responde fraternal:
-Sim minha flor,
Será dada uma chance!


E mesmo mentindo
Calando sua dor,
A ave fingindo
Que ali estava, celestial
Lhe chora sorrindo
Encobrindo o temporal
E trazendo o romance
À Rosa de Siqueiros
No Eco do Pranto
E quando muito,
Minha flor, lhe digo somente:


-Descanse, descanse !!


E grito fremente
Para que prossigas sem aviltar
A pureza inerente
Para que eu afiance
Um resquício de alegria
Nesses olhos errantes
De trágica poesia
E temperamento inconstante
Mas por favor,
Rosa tumular
Não venhas mais me perguntar
Se será dada uma chance,
À mais infeliz das floras
No infinito banimento
Do tempo que arde sem hora
Da lembrança de ontem
Que irrompe no agora
Presa no abismo dos canteiros
Onde todas as almas
Perdem-se nos mesmos erros
E enterram-se
No mesmo desespero
Em lágrimas incontáveis dos dias
Que passam,
E passam,
Inabaláveis e serenos
E tudo é igual
Na serenata do silêncio
Tumular
Rosa da Terra
Enterra-se sem poder
Interromper o final
E tudo é igual
Com o gosto de terra na boca
Terminamos sem querer
O tempo sem hora
E talvez sem tempo
De amar
O silêncio em nós mesmos
Na Rosa de Lenora
Quando a ave imortal
Na cadência das horas
Sem aviso pousar
Junto ao silêncio
Que nos esquecemos de escutar
Sem mais tempo para amar
Na cadência das horas
Fora de alcance
Na voz de um grito
Quando a ave de Lenora
Trazendo em seu bico
A Rosa tumular,
E mais nenhuma chance...
Em silêncio nos dizendo, agora:

- Descanse,
...descanse!



Fernando Castro

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

A Rosa em Silêncio

A Rosa,
Inominada...
Cravada numa tela sem tinta
Sem voz,
Num quadro sem som
Quando na ausência escarlate
Dava-se o tom,
E o xeque mate,
Sem voz
Sem teto,
Sem vida,
Um ventre morto
Sem feto,
Um olhar absorto
No cume do silêncio
Sem voz
Sem nada
A tinta e a noz
De Édipo Rei,
Sem lei,
Absurdo
Cego, não enxerga o pintor
Surdo,
Não escuta os próprios gritos de dor
O terror
De calar o indizível
De sentir o inexprimível
E de ver
No escorrer das tintas no pincel
O laurel de espinhos
Buraco negro no céu,
E sozinho
Perceber o silêncio na solidão
O vasto mundo sem voz
Por debaixo de todas as telas
O vazio inominado
Por de trás de todas as cortinas
As lâminas de faca sem misericórdia
Por de trás de todas as retinas
Quando todas as crianças adormecem,
Nos travesseiros dormem as guilhotinas
As crianças também estão mortas
E a infâmia as faz perecer antes do sexo
O preconceito sem razão
As faz enlouquecer
Antes do belo gesto
De se deitar,
Livres,
E virgens, se perderem como as rosas
Esquecidas na prateleira
De uma jardineira sem pudor
Num gramado sem distinção
Onde o sangue de amores proibidos
Escorre como a tinta na tela
E pelas mãos
No desejo do pintor
Sem nome,
Sem cor
A rosa é cravada numa tela sem tinta
No veneno da aquarela
A dose letal
O embrião que caiu da janela
O filho que se perdeu no vagão
Descarrilado,
No silêncio da solidão
Sem nome, sem cor
A rosa cruz cravejada na pele
A luz e o calor
Do silêncio da vida
A Rosa do amor
Em pétalas de diamantes,
Onde esconde-se o rosto
E os belos amantes se beijam como vaga lumes na escuridão
Como enfeites de natal
Para olhos faiscantes,
Em nome do pai,
Sem medo da polícia
Os meninos perdidos na dor
Revelada, machucada,
Os meninos escondidos na flor
Envenenada
No silêncio da Rosa
Perdida,
No centeio do campo de silêncio
Uma trilogia
No triângulo da incomunicabilidade
Da tela, da morte vivida a cada dia
A flor de narciso
E sua metamorfose
Surrealista,
Num silêncio a perder de vista
A vastidão desértica
Costurada no interior
Por debaixo da carne
Dentro da cela
O silêncio da Rosa
Sem voz
Cravada na tela
Inominada
Sem voz e sem cor
O silêncio da dor
De ser um só
Quando no pecado de todos
Existe o mesmo silêncio
De ser nada mais do que pó
Areia colorida,
Espalhada na praia
Onde os corpos desolados se amontoam
Em ilusões de conectividade
Em barracos humanos
De hiperatividade
Com um único fim de iludir
Por não suportar
A real condição de ser
E saber
Do silêncio do pó
A indelével dor de ser um só
Na agonia de uma rosa infinita
Congelada para sempre em si mesma
Sozinha
Em sua sonata ao luar
Um desespero que finge amor
E a eterna dor
De vagar, de vagar solitária
Sucumbindo a cada instante
Devagar
A cada sonata
De rosas em silêncio
Que morrem sem deixar vestígios
Sob a luz tumular
De uma noite ordinária
Na solidão do luar



Fernando Castro

O Silêncio das Rosas

O silêncio das rosas,
espalhado como catedrais de cinzas,
Encaixotado pelos sepulcros humanos,
Em horas bestiais,
Diz com seus versos mudos,
As dores e absurdos que as palavras vossas,
Na voz do submundo
Com tanto esmero calais,
Calais,


O silêncio do hiato entre ser e almejar
Entre querer e conquistar,
Te faz um reflexo,
De um vazio agudo,
Na íris encharcada no olhar de um mundo,
Onde, sobretudo,
O teu encanto se desfaz,
E por hora de juventude,
Não volta nunca mais...


O silêncio, consumidor da tua paz,
Na cor lacrimosa
Desses olhos de rosa,
Vence calado e tanto faz
Que na áspera ausência de palavras
O teu gozo ou desprazer
Insista em não dizer
O que esses olhos sem saber
Chorando revelais...
Revelais,


Revelais vossos olhos,
A dor de não saber para onde olhar
E, no entanto,
Ainda piscar de tanto sentir
Um deserto a enxergar,
Uma areia movediça nos olhos,
Que se calam,
E não olham para outros olhos
Sem ver não dizem o que enxergam
Gritando lágrimas sem cor
No silêncio de rosas
Que quando calam,
Choram as lágrimas já mortas,
E quando falam,
Choram os mortos já em pó
Enrolados nas tantas notas
De veias e de sangue
De artérias e aortas...


Parando o fluxo de um coração
Para sempre silenciado,
Choram essas rosas as lágrimas de um soldado,
Para sempre desarmado de sorriso e respiração,
Na transpiração das flores da morte
Que quando caladas,
No coro da noite esbranquiçada
Choram sem dizer não
E no choro da razão esfumaçada
Choram sem controle
No sabor da maldição em vício
Trazendo ao paladar da vida
A indulgência do perdão
De todas as noites
O mesmo pedido
Todos os ratos
Contraídos,
Roendo as próprias almas, morrem sem dizer
Eu também posso ser fraco
E na fortaleza do meu poder
Eu também posso ser silêncio
Na ânsia do meu dizer
Na floresta de rosas
Posso ser
Espinho sem corte
Ou na seca de um galho
Posso ser sem vida
O espelho refletindo a morte
Na aparência ingênua de uma pétala
Ou na aparente ausência de uma técnica
Posso ser a voz que derruba o grito
Cética,
No doce ponto e vírgula de uma janela um tanto poética,
Para o jardim de minhas seringueiras
Olhos de jabuticaba em sua aparência profética,
Posso ser o silêncio das rosas
Que quando falam
Choram heréticas,
Toda beleza que pode conter a liberdade
De ser sem ter que nada dizer
Simplesmente por ter tudo dentro
No infinito ser,
Que ao menos chora,
E mesmo às vezes,
Quando, sem lágrimas de rosas,
Cora,
se lembra de agradecer
Todo o silêncio que conseguiu escutar
Nas conversas com as tantas almas
Que seus olhos enxergaram pelo mundo
E mesmo sem morrer,
Em silêncio,
Como uma rosa no meio da chuva
Conseguiu ver...
Logrou de ouvir o amanhã
E de saber que todos os mortos ainda vivem
Em silêncio
Em tudo que não é dito
E tudo o que importa
Também não está lá
Entre a dor das palavras
E o eterno silêncio
Das lágrimas mortas

O silêncio das rosas!



Fernando Castro

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Inominado,

Na sua poética intraduzível da indiferença também aprendi a abandonar,
E no descaminho que a todos toca,
Aprendi a fingir um sorriso quando o coração arde de fome,
E mágoa de saber que também em ti,
Amigo das bolhas espumantes,
Carece um sorrir para se alegrar além das aparências,
Um pulsar, por mais efêmero e fugaz,
Que de fato esteja imbuído de preocupação,
E uma risada desprovida de piada nas minhas ausências,
E ironia mordaz
Nos intervalos que estamos juntos!
Amigo da fome e do desespero,
Um dia me ensinou a dividir um pedaço de pão,
E assim o fazendo,
Ele se multiplicava como um milagre...
Mas esqueceu de me ensinar como não devorar
Sozinho,
Todos os pedaços!
Um dia me intuiu que seria para sempre
E convenceu minhas inseguranças a naufragarem no mar de seu peito
Para nunca mais,
Mas ai também,
Inominado,
Esqueceu-se de mostrar que esse mar não era raso,
E que todas elas voltariam à tona de acordo com o capricho imperscrutável da sua maré,
E nas minhas lágrimas de impotência,
Confirmou que para sempre não existe,
E que talvez,
Ao teu lado
Nem mesmo o amanhã... Inominado,
Calaste nos meus olhos o que berravas para o mundo,
E esfriava em meu ventre
O que um dia era seu maior motivo de orgulho,,,
Nada mais além de uma cena simples e delicada
Da lembrança sem fantasia
De nós dois caminhando pela praia...
Pela ardência do calor indireto do sol,
Esquentando nossos pés e inchando nossos corações de um vermelho fogo intraduzível...
Reanimado pelas saudades,
E pela minha certeza de que um dia me amou...
E mesmo que por um instante,
Nesse dia eu existi ao seu lado,
Como um cúmplice de toda verdade que esperavas de mim,
Inominado amigo,
Mas que após a saturação de teus paradoxos,
Não enxergavas nem mesmo em você,
Defeito sem propósito,
De propósito efeito
O carregar para fora de mim a possibilidade de crer em ti,
Festeiro de todos os santos,
Mago de todas as religiões, onde no altar das contradições
Guia-se pelo totem do seu interesse,
Do seu preconceito faceiro,
E conveniente,
Amigo do peito
Esmagado,
Do peito onde o músculo vital foi arrancado
E do coração fizeram-se as tripas
Meu gigante inominado
No abando de si mesmo ainda resta uma lágrima de mim,
Escorrendo solitária, com frio
No gelo do espelho onde teu rosto esqueceu sua imagem
Maquiagem dos sonhos,
Na ilusão de nós dois
Um pouco de mais pó na cara
E base,
Mais base para sustentar a beleza
No peso da incoerência
E esconder os vincos de traição,
Desmascarado
Inofensivo,
Amigo Inominado...
Assim,
sem palavras na boca,
Despeço-me com um beijo
Sereno, sincero...
E torço que para nas inverdades de teus julgamentos
Algum dia deixe de acreditar nas mentiras
usadas para justificar
o Inominável
nas entrelinhas das letras que juntas escrevem
Amar
E que soltas,
Jamais teriam escrito sequer uma sílaba
De Desprezo



Para o meu amigo imaginário,
Que me abandonou quando o sonho virou pesadelo...
E quando nos teus olhos de sempre
Te vi Inominado!



Fernando Castro

terça-feira, 16 de novembro de 2010

2001: la nave que se vá


Como num sonho, a grande nave continuará sua jornada, independentemente de lembrarmos dela ou não. Como o sonho continuará sendo sonho, mesmo quando esquecido de ter sido sonhado. Talvez quando lembramos que o sonho é sonho ainda sonhando-se, ele se torne mais real, pois se aproximará do que de fato é; como na vida, quando lembramos que é vida ainda vivendo-se, se torna ela mais vida, mais cor e mais precisão. O infinito continuará sendo infinito querendo nossa razão contemplá-lo ou não , podendo esta alcançar seu fim ou não, ele continuará lá, para sempre, de onde veio, e para onde caminha, intocado pelas nossa certezas, inatingível pela nossa ciência, apesar de perscrutado pelo pensamento sem fim, incomensurável, que também nos habita, que também se pensa ser sem fim, pois dentro de nós, também está o infinito, vivo, em sonho e em realidade, misturando os absurdos da nossa finitude com vozes que destinadas estão a não se calarem nunca mais. Para o resto da vida, mesmo surdos para o mundo, ouviremos nossos fantasmas, mesmo sem fé, estaremos acompanhados e o peso das correntes ainda se faz ouvir balançado nos esboços de uma escadaria que todas as noites temos que cruzar para atingir o outro lado da escuridão, onde a luz não penetra nem para esquecer a dor de ser treva, e nada existe lá além de nós em plena contemplação de nossa solidão absurda, por ser ao mesmo tempo, tão impossível de ser real. Para onde vamos certamente condiz com o lugar da onde viemos.  Será que temos alguma idéia? Será que importa, ou que fingimos não se importar justamente porque importa por demais para deixar de se fingir um sorriso, e sorrir-se? Penso nos chips e na nano robótica... Será isso o infinito dentro de um mundo visível... Será apenas conceito e improbabilidade, ou o invisível esta sendo criado por nós para se infiltrar em nós mesmos, ao ponto de termos sentinelas nas veias se comunicando com o espaço? 2001 em sua perfeita odisséia inacabada, sem fim! Ali estava o infinito e o eterno retorno, ali estava o incompreensível alinhado com a poesia da musica e da imagem: penso em Strauss em seu Danúbio azul no celeste da Terra, e o mesmo Danúbio quando numa cena de La nave va, uma gaivota surpreende a mais alta casta de refinamento humano de uma época hoje morta em seu almoço. Com o pedigree do inesperado ela devasta o linear daquele salão com a mesma fúria que a autonomia de uma máquina rebelde desconstrói o previsível numa missão espacial. A nave de Fellini versus a nave de Kubrick, em paralelo no tempo que se dão, em transversal, no ponto que se cruzam, ambas em rumo ao desconhecido sondável pela razão, limitado em um destino, porém cercadas pela imprevisibilidade do mundo e de tudo que tange a existência. Uma em rumo a uma ilha para se dispersar as cinzas de uma voz, a outra, à Júpiter, para possivelmente se aproximar de uma resposta para as cinzas. Aquela pairando sobre a onipotência do oceano, absoluto e desconhecido, esta, cortando o ar sem gravidade, atravessando o mistério do espaço e seu infinito, sua perplexidade insondável. Ambas cercadas pelo incompreensível e pelo absurdo. A imprevisibilidade no timão dos acontecimentos. O inenarrável, já em Beckett o Inominável, e  em Ionesco, vejo seu rinoceronte desfilando pelo deck  do Gloria N., a nave que vai, e fatalmente, como sua irmã astronauta, não volta nunca mais. Rumo ao futuro, que não regressa ao passado, e que ao mesmo tempo, é conseqüência deste numa análise onde se abstrai o tempo e verifica-se que nada volta para lugar nenhum, quando nada vai, nada retorna, pois tudo acontece ao mesmo tempo, a ida e a volta, a vida e a morte, o infinito e o fim. Tudo é possível, e não existem limites. Não existem ponteiros. Por que não existe razão nem resposta para se limitar o improvável. Não existe nada de real além do gozo e da alegria de se pertencer a um instante tão alucinadamente quanto se pertence a uma noite de sono. Não existe memória que não possa ser criada, e desejo que não se realize, quando de fato se sabe o que desejar. E o que é saber desejar senão ir de encontro consigo próprio cada vez com mais precisão e sabedoria nos detalhes, cada vez com mais experiência e controle das perfeitas imperfeições que de fato não estão lá, e nada são além de meras aparências espectadoras da sua distração, do desvio, da luz que não refrata ao cego que morre de tanto ver, e mesmo assim, implora para nascer cego novamente? Strauss inaudível, surdo no espaço, colorido em todos os tons da Terra... assim ouviu Zaratustra em seu desejo, em sua metamorfose de Kubrick, que nos revela sem máscaras, e sem necessidade de temer o que não se sabe, de dizer o que não se aprende calculando máximas inverídicas num ábaco de prepotência e vaidade! Podemos muito mais do que “esqueletos que procuram aquecer-se” ou que disputam um enforcado na pintura de James Ensor, que escancarou as máscaras mórbidas do absurdo mordaz humano de se enfeitar com morais fadadas ao pó, ou com o tempo burlesco de convenções que retira do homem seu gesto natural de ser homem e o aproxima da carnificina de si mesmo. Não há o que julgar, e os canibais têm o direito de se devorarem se assim o quiserem. Não me digas como devo amar, apenas ame.  O que nos resta depois do silêncio? No vacum do espaço nossas palavras se desmancham sem sentido, porque brigar por um fora dele? Absurdo é sempre ter que justificar, absurdo é dizer não para os náufragos sérvios na iminência da 1ª guerra mundial ou na iminência de qualquer coisa. Como supor o confronto com a marinha austríaca ou a rebeldia de um computador projetado para obedecer, e mesmo supondo, como abandonar o humano a sua má sorte somente por que enfrentarei a proporção contrária? A antítese sempre se manifestará ao longo da vida por estar em sua essência, e da comunhão também virá a solidão, como da paixão o desespero, e do amor, a inevitável dor, de se amar, e de não se amar mais. De morrer sem conhecer tudo, quando de fato, só temos a nós mesmos para conhecer. Impossível não se entregar. E na alegoria do espaço ou do oceano, sendo o turbilhão de vida que nos cerca, de desejos,  convites, e mundos, e quartos e salas de jantar, sendo um navio ou uma espaçonave, nada mais é do que nós no meio da vida. Essa nave sou eu, e esse navio é você. Sendo que la nave va para o infinito, na odisséia do espaço de nós mesmos, que se confirma a cada dia, a cada hora, a cada instante esquecido de ser marcado pela imprecisão dos nossos relógios assombrados pela precisão incontestável da vida. Que venha o início, pois jamais foi tão mágico se aproximar do final.

Fernando Castro

em 15 de novembro de 2010, uma odisséia no quarto!!

terça-feira, 9 de novembro de 2010

O velho frasco e o fresco vazio

Era manha vital de doce novembro, quando a primavera invadia as jardineiras, e um sorriso de flores se espalhava pelo jardim.

O vazio, imemorável, esquecendo de devorar mais um pedaço de ti, meu amor, deixando-te um dia mais para o esquecimento, lamentava as sobras de tua voz, insistindo em envolver-me pela cintura cada vez que cometia o crime de me lembrar de teus lábios molhados, gigantes, intocados pelo tempo e seu bisturi do envelhecimento, sua lamina de acaso, quando se desmancha a beleza sem tocar, quando se ama o inverno sem semear o gelo e a neve por de trás dessas tuas pálpebras frias , glacialmente afastadas do centro de um coração!

não sei mais se posso convalecer junto de teus braços, e sendo assim, também sinto que não mais posso pensar em continuar ao teu lado, meu anjo sem rosto, sem gosto de esperança...

o vazio é abominável, e se espalha junto ao frio da manhã,
a chuva não tem intenção de parar,
e o nosso lar também não resistiu...,
vazio,
como um candelabro de gelo que caiu no chão,
algo partiu,
para nunca mais voltar,
como uma estátua fundida que volta a ser pedra,
essa dor se misturou no espaço,
e esse amor se diluiu no negro da escuridão,
na sobrevida do esquecimento,
não há mais reconciliação
nada mudará, e no tempo ainda perdido quando gasto para lembrar
vejo teu reflexo
como um mapa borrado por uma rota já gasta
vejo o teu reflexo
insistindo em iludir, lutando para refletir o que já basta
o que não ilude mais,
o que iludiu
o que hoje cicatriz
deixada na carne
para sempre
o remorso
e o vazio

f.c...

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

RAINHA DA SOLIDÃO

Rainha da solidão,

Deseje uma vez mais a minha partida, em cada encontro, em cada submissão de um olhar, deseje uma vez mais a minha transpiração solitária, muda, transparente na ingenuidade de um sorriso sem provocação, de um até logo sem despedida num beijo sem gosto de desejo, sem intenção,,,,

Rainha noturna,

Responda os meus dias em cada amanhecer, em cada gosto de madrugada sem companhia, e assista a decadência da minha vida social no isolamento que cada por do sol carrega em sua luz,

Crepúsculo dos anjos, dentro do mesmo quarto de hora, a cada hora, dentro do mesmo quarto sem paredes de lembranças acompanhadas pelo convite inesperado de sua presença, de seu hálito sem ofensa e medo de estar só...

Sim,

Carregue-me nos braços pelas mãos da comunhão, pelo obscuro lado do abandono, da casa sem lar, do diabo sem cruz,

Na calefação da esperança contaminada pela fé, deseje uma vez mais a minha partida, e implore minha presença num átimo de solidão sem ausência, de vida sem morte, de metamorfose sem dor,,,

Escreva nos teus lábios o segredo para não estar só... O convite para falar sem palavras, e viver novamente um instante desfalecido pelo tempo sem proteção, com a medida do entendimento desprovido de dúvidas, e respostas revestidas de segurança...

Não agüento mais sem ti,

Não posso mais sem saber o depois,

Venha até mim e me arraste das chamas sem contenção,

Rainha das pupilas tímidas,

Sóbria enlouquecida

Rainha da solidão,

No desespero das mãos que se unem

Do querer que expressa um não

Sem querer, sem porque,

Sem entender o que de fato estás a dizer

Com aquele gole, com aquela flecha travada no calcanhar,

Venha sem resposta, mas venha na dádiva de dar

De pertencer, de se saber que mesmo na fome

De vida e ânsia de mais vida

Não se precisa morrer



Não precisa se condenar ao luto infindo

E a distância amarga de uma nota sem dó

Sem início e sem redenção

Rainha da amargura

Em lágrimas de pó

Das noites em trevas

Rainha da solidão

Me condene a tortura sem fala

Mais ao menos me deixe ao abandono de um irmão

De um único desespero sem o sentido da inverdade!

Abrace os meus ossos

E diga para esse alguém

Que também sinto saudades

Que na lágrima de soluço

Tento dizer realidade!

Por favor,

Mesmo no passado

Olhes para trás

Na tempestade humana

Do centro de um furacão

Olhes para os pedaços que juntam um só

E neste interminável condão

De sentimentos não ditos

E ofensas sem perdão

Responda que sim

Rainha da solidão

Responda que ainda me resta uma mão

E um corpo de alma

Nas entrelinhas desse mistério

Que a vida chama

Paixão

Mas que eu

No absoluto impedimento de mim mesmo com todas as faces da existência

Chamo loucura e impossibilidade

De paz e silêncio

No eco perpétuo

Das vozes da solidão



FC

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

NOSTÁLGICOS

Sem tréguas, o vazio de uma piscina cravada no asfalto, no mergulho de pedras esquecidas por uma pedreira de homens e crianças afogadas...

Assim é o destino, inextrincável banimento, assim são as lagrimas, ausentes também nos olhos, as duas piscinas vazias carregadas por um tremendo peso de carne e osso por milhares de dias... por incontáveis instantes de incompreensão e exílio,,,

A própria carne exilada para sua perene decomposição, os proprios ossos condenados ao cadafalso de um túmulo advindo com o parto, com o obscuro por trás de cada sorriso, com a lágrima invisível na profundidade dos olhares rasos, secos, e ao mesmo tempo, úmidos de silêncio e desespero,,,

Não podemos explicar as velas queimando no infinito do jardim,

Os pêssegos apodrecendo sua beleza na distância opaca de uma árvore...

As folhas se despendido de uma rosa no indecifrável caos de um temporal

Lagrimas serão o legítimo substrato da alma, quando esta se revelar sem mais desculpas para espelhar a autenticidade que aprendemos escolher

Dor o desvio inevitável que certamente voltará ao início quando nos depararmos com o todo em tudo que sempre foi fim

O choro se confunde com a chuva inexplicável, e a pele com o adubo orgânico semeado em torno dos berços... das tantas bandejas nos berçários refogadas com fraldas e bebês

Corpos nada mais são do que indiferença e obsessão entre si,

Uma lavoura de almas enfileiradas num arado de medo e prazer

Dor e desejo

Medo do infindável desconhecido,

Prazer pela célula consciente da percepção

O Eu sensorial

Esquecido debaixo da tempestade, seduzido por cada uma das formas insaciáveis descobertas para sempre, sem freio, sem repetição, sem possibilidade de retorno

Toda filosofia continuará em parceria com a loucura,

No pensamento abstrato de uma angústia por demais concreta

A morte é mais um prazer que aprendemos a temer

E no fundo,

Será ela a única resposta que trará alguma solução...

Sendo assim

Aprendendo a morrer,

Arrancamos dos nossos pescoços todo o nó umbilical para sempre enrolado em nossas gargantas

E quando menos hipócritas

Morremos mais felizes,

Celebrando a liberdade

Que finalmente resolveu nossos grilhões cortar

No tão esperado dia de finados...

Nos dando asas em baixo da terra

Transformando os nossos sonhos em pó!

Assim cantaram os corvos

No dia do meu funeral...

Assim cantaram os anjos,

Na noite do meu amanhecer!



Boa noite


fc

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

O que trago de mim?

E mesmo assim, ainda dou mais um trago…

Mesmo sem lábios para apoiar o cigarro, faço questão de sentir a fumaça e despejar o calor do seu batom em minha boca... faço questão de enlouquecer com uma valsa surda para os mortos, esquecidos na indiferença do que viveu ontem, e se esqueceu de morrer de novo...

Não mais tenho como fugir da vida, mesmo sendo tragado por ela a cada instante, a cada respiração, a cada trago no cigarro de si mesmo, manchando os dedos de amarelo e a alma de vermelho...não tenho mais como dizer não!

Manchando os lençóis com a toda a aberração que o desejo pode trazer a tona, em gargarejos sanitários, em descontrole proposital, perdendo a vergonha que atrapalha o erro, e tira do gozo o gosto de prazer... perdendo o medo.... desligando a trava que mora dentro de nós

Não tenho como fugir de mim mesmo, mesmo perdido no absoluto de meus extremos, na incoerência da duvida e da falta de sentido, no não sentir quando tudo se sente, quando tudo se abraça sem saber como encostar...

E mesmo assim, ainda dou mais um trago

Em dia de mortos que ainda vivem, e se entranham dentro do nosso pensamento como vermes revelados em baixo de um toco podre num pântano de crianças envelhecidas, de adultos inconformados, de velhos enlouquecidos...

Mesmo no auge da contaminação e na imperiosa necessidade de banimento, mastigo o pó amargo da própria existência sem voz, muda de desejo e vontade, cega de discernimento, e surda ante o mínimo comando que pede uma resposta...

Na imobilidade me atrofio, e sinto que algo ultrapassa meu corpo como um gancho que suspende minha alma para fora, tira as minhas vestes, e me coloca na posição de marionete sem maquiagem, sem músculo livre de um cordão...

E mesmo assim, ainda dou mais um trago

E mesmo assim, trago o desespero para dentro de casa, quando vivemos uma alucinação e já não sabemos em quem confiar, muito menos quem somos, e o que fazer com tudo isso que sentimos quando reiteradamente giramos nossos dias no subconsciente das mesmas perguntas, quando antes do ponto de interrogação, deparamo-nos com a face gélida do vazio abominável...

Tudo é vazio, e ao mesmo tempo, tão cheio de vida...

Tenho medo de não ser mais nada, e não ser o que sempre quis ser

Livre

Tenho medo de morrer enquanto vivo

E permanecer na escravidão do acaso atemporal

Num frasco de perfume barato, engarrafado como um aroma pobre sem fixador

Tenho medo de dar o próximo trago, e antes de acordar para a vida

Me deparar com o velório de mim mesmo

Onde nada restou para tragar

E mesmo assim,

Nesse encargo perpétuo de suportar o que somos

Sem anistia ou indulto

Ainda dou,

Lastimável

Um último trago



FC

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Voz e paixão

Eu tambem quero amar,
e nao só sentir,
mas dividir esse desespero com todos que me cercam!
Desespero por estar preso numa caixa onde o vício maldito abomina a expressão,
onde o carinho espontâneo se transforma em paranóia...
Quero muito mais do que o simples contato raso num dia de mortos,, numa festa de bruxas!
Finados são as nossas emoções que não conseguem explodir na realidade todo o tesão de estar vivo.... respirando com vocês a ausência do medo, o calafrio em goles que se desmancham em álcool , o abraço sem cotovelos, onde o ponto de apoio se transforma em fumaça de pedra e sorriso...
Todo o resto é morte, todo o sangue é vida... tudo ao redor é desejo e vontade
Só me resta dizer obrigado, por sorrirem de volta, por fazerem a confiança acontecer, por me darem um abraço...
Só me resta tudo que tenho, pois o que perdi nunca fez parte de mim, e o abandono nada mais é do que o medo e a insegurança de não completar a partitura de vida que me deram para dançar....

Show me from behind the wall

As folhas continuam caindo, e as árvores sem tempo vão acabar envelhecendo, quando no fim da estação,as lágrimas também sofrerão o outono infernal,
Nada mais nos separa,
Experimentamos o gosto de se morrer nos braços de um desconhecido
Numa bolha de sabão destruída pelo simples toque,
Uma cápsula, sem direito
Sem freios
Sem condição de se manter eterna, sem sopro
Uma real possibilidade de ser amado,
E devolver para esse mundo todo o sonho
Do pesadelo de viver sozinho

Uma última vez
Obrigado por confirmarem a minha existência
Me dando um sentido para dizer
Sim
Eu estou vivo!


FC

sábado, 30 de outubro de 2010

Pássaro Azul

como um passaro azul,
que percorre as minhas janelas da noite
soturno, calado, veloz,
e abraça meu parapeito com asas de diamante
vem tua aurea imaculada aproximar-se de meus segredos
secretamente noturnos, vividamente humanos
vens tu de lua mordaz e de palavreado cáustico
derramar veneno em meus tumores,
elixir de féu e sangue, de amor e cura
deleite de vozes, calmante de dores
dores amantes, de sangue e de voz


corre passaro meu da noite
voa em seu grito veloz
alucina os umbrais de minnha janela
e grita sem traqueia um sufoco apaixonado
respira em mim meu querido amante
a velocidade desse beijo atroz
dentro do quarto
paredes de carne, ofegante
respira comigo esta noite de passaro
noite de passaros amantes
redescubra o descoberto
e se cubra de cobre e acido metal
cobrindo as dores de pó
salvando o amargo do doce
em linguas amarguradas e tristes
antes de ti, tao só
acobertadas pelo esquecimento
cobertas de lembranças e de saudades de rapina
voa para mim menino alado
descoberto de tudo
descoberto em tudo
sem pele, sem penas
meu passaro estrelado
de duras e árduas penas
um formigueiro no figado
desse penoso amor fatigado
aconchegue sem cena, sem bisturi e ferrugem
passaro de bico azulado
rasgue de noite minha pupila acordada
abstraia o velorio dos corvos
e voe passada a noite
passaro para além do passado
voe costurando o futuro
da noite e do dia
com a agulha noturna
são amores transpassados
andarilho de asa e bengala
voe para alem da espada
e traga nebuloso em teu bico o frasco
desse amor dependurado em abismo
rechaçado em velório de homem
pelas asas inchadas de cinismo
ao exilio,
enchadas e picaretas que cavocam a fome
de um coraçao de passaro apedrejado
e atormentado de insonia
de saudades
adarilho dos deuses
voe , voe, voe...



FC ..p/ um passaro na gaiola!

Doce LUA

Me arrastei por vielas Meu passado morou nas ruas
Ela sempre esplendida, eternamente bela
Fada protetora, ó Lua!


Velou por meus sonhos despejados
Apazigou meu interior, livrou-me de intrigas
Dividiu com a luz entardeceres ensolarados
Ao pé da montanha, por de trás da colina


Brilha em minha face glória tua
Luz divina, sempre alerta
Minha deusa que vigia, ó Lua
Paixao inspiradora de jovens poetas
Deusa minha, Vida tua
Astro que impera....? Imperatriz!
Incólume no céu minha doce Lua
Gardênia nos meus campos, embriaga Flor de Elis
Uivam lobos à sua dança, solo e nua
Porteira de minhas saidas embriagadas
Anjo celeste me cobre de amor com asas tuas


Sobre o teto de meus sonhos
Calada de minha noite
Meia noite e meia, meia, meia taça
A dose a mais que ultrapassa
Meio doce, meia Lua
Envolta por uma cortina de fumaça
Seja minha ou seja tua
Coberta por um manto de neblina
Seja tua ou seja minha
Impera no meu céu, ó Doce Rainha


Pupila prateada que por meus sonhos vela
Circulo majestaoso transforma meu céu em aquarela


Calmante hipnótico de teu encanto
Acima das águas, acima do mar
Padroeira de iemanjá, mãe de todos os santos
Foi em teus braços em que apreendi a nadar


Confronto de meu mundo
Sempre a minha escolha iluminar
Introspecção involuntária, mergulho profundo
Te beijo na praia, sobre a luz do luar
Nada mais que te toques, nada mais que te possuas
Num barco de pescador
Admirável mundo do Eu, admirável Mundo da Lua!!



23.07.2003   na casa da Paola!.....7 anos atrás

FC

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Sombras e Fósforos

Num ruido calado, as sombras de um temporal esquecido dentro de um copo de lagrimas, grito ofegante algumas palavras surdas q nao se fazem ouvir num mundo de sentenças vazias.

De trás para frete revivo o retrocesso de uma noite voraz, onde dentro de um amontoado de gente fui encontrando pedaços humanos em corpos inteiros. Passei por impressões e pensamentos solitários, mas ao refletir no olhar alheio percebia o quanto de vida estava dentro de mim, fora do copo, flutuantes numa pista de dança, numa auto-estrada de vida!

Quando sinto q grito, e percebo em mim as vibrações trazidas pelo eco do outro, realizo q não estou sozinho! Vejo que não é preciso gritar, e um acorde de sutilezas traz muito mais energia do q uma explosão de ofensas!!! Certamente estarei conduzindo a sombra do homem para a luz! Aprendo a viver rarefeito, respirar de acordo com o tempo do agora, e a sonhar com o que posso tocar de verdade! Aprisionado num passado q não acontece mais somente devoro a possibilidade de experimentar uma felicidade sem pretensões, sem crime, sem mentiras!

Novamente embarco distante do eu, daquilo q fui e não quero mais ser, para o lugar do novo, e do inesperado! Estou aberto para viver tudo q se postar diante d mim! Não temos mais tempo a perder longe do amor! Vivo o que sou , no tempo e no espaço ! Morro um pouco a cada dia, aquilo q não mais significa, e deixo a esperança guardada dentro do coração, para talvez um dia, reviver tudo aquilo q minha ausência me permitiu sofrer, perder e morrer!

Em luz de chama lhe toco
Sem velas de luar profundamente te respiro
Tua voz que me chama, tua chama que me grita
Tua paixão que me devora
Vivo latrocínio amado de um coração amante roubado
Um jarro quebrado, um vidro partido
Sinto o Corte de vida que teu amor me conduz,
na veia, a doce picada do algodao doce,
o doce semblante dos teus olhos de mel sem respiros,
de suspiro e de foice,
dos teus belos beijos sem almofadas
que em noites de aniversarios
me veem como coices!
E sempre a viver em dor latente de uma certeza sem luz
Incerteza de fato esse amor sem sentido
Louco de pedra na província do medo
desse amor meio que perdido
no meio de tantas outras trepadas e malabarismos no farol
Urbano decreto desse gosto sem beijo,
do tesao sem camisinha
do alto risco chamado desejo!
Amores de risadas efêmeras e entristecidas
Olhas tu e encara-me de frente
Rente ao meus olhos, dores ébrias e frementes
Encara cara a cara, descarado carão de duas caras
Meu caro em olhos de fumaça,
de olhar tão caro
Debaixo da névoa, ao longo da relva de isqueiros e fósforos
De olhos famintos e gelados
Numa agonia selvagem sobre as molas do colchão
Enrolado em lençóis e cobertores baratos
Cobrindo dores e parapeitos escancarados
Ante o nada e seu convidativo mergulho
Distante de mim e de você
Acordo em cima de nossos retratos
E em fotografias não reveladas
na tela de um computador quebrado
E Vejo o papel, somente o papel que restou de ti
Na impressao de que estamos mortos!
Durmo em silencio,
Para em voce nunca mais acordar!!!



Quanto d alma se pede um corpo deitando na lama do dia, trancado num quarto de hora?

FC

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

"afaste de mim esse Cálice"

que trago eloquente,
pois bebo as avessas da taça
e na voz tua que me transpassa
encontro te luzente,
e de um clamor vivente
rogo-te que escutais
meus passos comedidos em gestos,
e em frases minhas,
tangentes ao copo,
aquele que nao mais entornarei!


nao entornarei também as taças,
nem ante a vis trapassas
que para o fundo do cálice me levais,
controlarei assim ereto
o desvio de nexo que doses outras
do passado acobertais!


sofro de bom grado,
meu libertino envidraçado,
e sem quebrar ou estilhaçar,
arremesso para longe esse cálice
para nunca mais o entornar!


atiro-o para fora de meu iluminado jardim,
e não mais suportarei sua nefasta presença
embriagando as damas da minha noite,
ou melhor seria,
a única Dama de ferro da Noite do meu jardim,
de aço verde e perfumado,
plantada aos montes em torno de mim,,,,
de ferro, pois difícil de moldar,
mais facil a taça nao mais entornar!


por mais que o faças,
com frescor sedutor e convidativo,
repudio o copo
e fico afastado, longe,
em ti somente embriagado,
desprezando o teor alcoolizado
dessa flor de jasmim,
plantada aos montes em torno de mim!


renego nos campos de cevada
a fermetançao adúltera que me faz transpirar,,,
e abomino nas vinhas da ira
o rubro escarlate
que na taça frisante me faz bacante,
me faz delirar!
que me faz cantante,
e dançante
e me faz fauno em fins de março,,
meu possuidor galáctico,
embriagando-me apenas de ti,
em tons violáceos,
nos muros de nosso jardim,,,
faço-me feliz,
pois somente em tuas "fontes borbulhantes"
matarei minha sede,
aonde brinda nossa Lua,
com o cálice do Sol!
Lua nossa que vem,
em puro deleite,
nosso meta físico apreciar,
pois tua meta em mim poeta
metafora para dentro de mim,
nas pétalas dos copos.
nos vidros das flores,
das gardênias, dos lírios, em ti jasmim!


Eu jazo em ti,
e "ti" jaz em mim,,,
e para muito alem
dos copos e das garrafas
vive curioso e pulsante
nosso interesse mútuo, enfim!


para além dos versos alcóolatras
e etilicamente envenenados,
jaz nossa vontade!
e para muito distante
das plantações de papolas
e dos campos de centeio
mora nosso querer!


e ademais, faço me lenhador,
destruidor de vinhas imortais,
para destilar o teu amor ,
em meu peito brando,
em meus braços sóbrios,
destituido do ébrio cambalear,
das falas trôpegas,
dos ímpetos vorazes,
do lastimável saltitar!


e mais, faço me trovador,
e pelos campos insinuo-me cantante,
alegre e jovial, menino impecável,
de todo polido ,
de verso e grinalda,
de trovas e risos ,
para amizade tão divina
em vias celestinas,
pisando em estrelas,
desta forma vir brindar!
deste jeito consagrar,,,
amizade inestimável
além dos goles, dos tragos,
para alem dos frascos,
e dos invólucros de vidro


venho por fim,
somente em ti etorpercer
e ludicamente sorver
das taças de teus lábios
o beijo tépido em fulgor
lascivo em testura
e cujo teor entorpecedor
embriaga nas almas
os sentidos e o sentir
desse lúdico trovador
mergulhando-o nesse líquido volátil
destilado, etéreo:
lucidamente embriagado
por esse perfume
chamado Amor!



q os deuses nos abençoem!

Amém

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Thelma&Luise

Na diversidade das colorações de uma palmeira, encontro dos teus olhos o verde. O verde castanho azul que me persegue... Nas possibilidades albinas de uma folha qualquer, em sua falta de pigmentação vejo toda a beleza contida num acidente, numa imperfeição, como um sorriso solto na paisagem, destilado, servido com sal e limão, atenuado pelo conforto do gelo, pelo calor de seu acolhimento no paladar... Pequenos goles, grandes mordidas... Pequenas lembranças, grandes momentos... A capota abaixada, o sol envenenando os olhos, rasgando a pele com sua fúria. O vento nos libertando de sua paixão incendiada, nos emprestando sua armadura para amortizar as delícias pirofágicas dessa queimadura de alto risco, desse calor em ebulição no corpo, na delícia de um beijo, na falta de controle em elevada temperatura... De carne e alma, de corpo e delírio... Mais nada dentro do quarto de um motel no fim do mundo. O ventilador divagando preso no teto, devagar tentando se libertar, girando em torno de si mesmo por todo o resto de sua vida, devagar tentando se soltar... Ventilando lentamente toda a poeira levantada daquela estrada de areia, daquelas molduras desérticas que abraçavam aquela hospedaria como se fosse um quadro esquecido na parede de um sótão, implorando atenção, pedindo para ser olhado uma última vez. O zunindo de duas moscas acrobatas emprestavam para a cena a sutiliza que faltava para se insinuar o desespero, a mortandade no meio do nada, o desejo de seca num cacto afogado de lágrimas e suor desprendidos dos corpos entrelaçados pelo feitiço da paixão. A mágica que lhe conduz até o fim do mundo, e lhe faz atravessar a civilização para não encontrar nada que não fosse o outro, e todo o resto, na areia e fumaça, simples esquecimento. É como o exílio voluntário aterrando todas as possibilidades de comunicação. É como o próprio banimento sendo servido no meio da tarde junto a generosas doses da tequila boiando no interior da garrafa, protegida pela transparência do vidro, contido pela forma de seu recipiente, como a paixão, que sem rédeas ou guia, se esparrama espalhando-se por tudo que lhe cerca... ela precisava daquela garrafa para se manter em pé, contida, para poder ser utilizada e servir de algum propósito, o de não ser manter em pé, o de não se conter, o de se esquecer dos propósitos! A cada passo, a madeira rangendo no piso comemorava o triunfo do instinto sobre o que ainda lhes restavam de razão. O tanque não passava de um quarto, e o intuito era ainda de prosseguir viagem. Avançar ainda mais para o infinito sem volta que os abocanhava, e não significava nada mais do que o fim. Aquela hospedagem de fato era o último fio de novelo que os prendia por um mero capricho do tempo, em farpa escorregando da porta, em um cabide de arame farpado sem condições de conter o peso da violência daquele vestido de sedução e loucura, que como chumbo, mergulhava para o fundo do oceano de terra e poeira, para as sevícias áridas daquele deserto... Alguns abutres sobrevoavam os telhados como augures a sua enunciação, prevendo a inevitabilidade pairando no ar, rondavam seu póstumo jantar com toda a ansiedade que as penas não sabem conter, e resmungavam consigo mesmo entre rasantes e bicadas por demais animais para um ser humano compreender.

-Eu não te amo mais, chegou a hora de partir!

Um misto de indignação e orgulho misturava-se naquelas palavras desgarradas do fundo de uma alma assolada por todo um turbilhão de sentimentos fervilhando numa caldeira de emoções quando, misteriosamente, o outro entranha-se em nossa realidade ao ponto de se fundir com o oxigênio. As lágrimas choravam para dentro. Aqueles músculos jamais se dobrariam para demonstrar a dor, e sem o fazer, já aclaravam tamanho sofrimento que compadecia tudo que de inóspito havia na Terra, e as rachas daquele solo árido e sem vida eram como se fossem um gramado de cores e seda se comparados ao seu rosto. O silêncio do outro respondia. Sabia que estava condenado. Sabia que havia lhe conduzido a loucura. Sabia que tinha feito ser irreversível. As balas do agora eram de metal. O último beijo era de sangue e alma, de carne e desejo... uma faísca de renascimento naquele vale da morte.

- Sempre o mesmo hálito de porco!

Mas aquelas palavras assinavam sua sentença. Eram como navalhas no último fio que o sustentava ante o abismo. Por um momento quis se arrepender do que havia dito, talvez mais por provocação e hábito do que intenção de ferir, mas já era tarde demais, e sabia disso. Dava-se a partida no carro. As trevas abraçavam a noite. A hospedaria era agora um ponto banido para a eternidade inalcançável que habita o passado. Nunca mais. Nenhuma palavra que não fosse o barulho do motor explodindo no espaço, e o atrito dos pneus arrastando aquela terra para o alto e transformando a poeira num véu do casamento que não aconteceu, costurado na traseira daquele cadilac 66 condenado ao divórcio na precoce sepultura, a dor na trágica despedida, ao choro preso na voz que engoliu o “me perdoa”. Acabava o combustível. Nenhum outro lugar na Terra para ir senão para o inferno. Até que ponto o continuaria testando? Até que ponto prosseguiria com aquele seu jogo absurdo? Uma palavra resolveria a questão. Um único gesto, uma só expressão. Estava tudo claro, todos sabiam, só era preciso dizer. Os dedos tremendo na coronha. Os olhos implorando por um estímulo para que pudesse frear suas mãos. Os maxilares cerrados. O coração na boca. Iria mesmo até o fim?... Permanecia impassível. Por mais que todo seu ser entregava-se loucamente, era uma estátua... O amava tanto que jamais poderia consentir que esse amor se tornasse real. Vontade de chorar, e gritar para o universo, porém os olhos freavam as lágrimas. Morria de tanto hesitar. Não dá mais para conter. O silêncio puxava o gatilho no instante em que os lábios estavam se abrindo para dizer. Tarde demais. O quanto de morte cabe num único instante de vida?

Um estouro rompia o silêncio. Gritos de profunda dor. Um instante depois, um segundo estouro. Os coiotes uivavam. Os abutres silenciavam-se. O quanto de vida cabe num único instante de morte? O cheiro de pólvora se misturava com o gosto das lágrimas perdidas no ar. O quanto de amor cabe num único instante de silêncio? A eternidade se cala. O quanto de silêncio é necessário para se ouvir eu te amo? Nunca mais. Adeus, os meus pecados desaparecerão como fumaça, mas o meu amor vingará para sempre.

sábado, 9 de outubro de 2010

2012 é JÁ

COMPANHEIROS E COMPANHEIRAS,



Respeitável público, está aberta mais uma sessão de chacotagem para os próximos quatro anos. Damos início a mais um espetáculo de global entretenimento com os mais exímios e profissionais palhaços e ilusionistas que uma democracia pode ter. E acreditem ou não, por incrível que pareça, não é o Demo que está por trás disso, e sim os democratas, os seus perfilhados discípulos do regimento dos estercos colossais do lábaro estrelado, das fétidas margens do Ipiranga ao Tietê, da igualdade penhorada, onde no terror da esperança a Terra desce, literalmente para o inferno.


A esquerda, hoje extrema direita, ontem impeachment, amanhã centro avante, pois logicamente no meio posso escolher mais rápido o lado que me interessa, está tão abastada pelos banquetes de impunidade que nem se incomoda em eleger terroristas, facínoras e, muito em breve, para os próximos leilões eleitorais dos municípios: pedófilos, estupradores e traficantes reiterados, uma vez que a venda de drogas pode ser muito mais lucrativa do que a própria prostituição em si, pois somente para isso é mantida ilegal, quando a prostituição já se consolidou prática comum e muito bem difundida e aceita pelas salas do Congresso e camarins do Supremo Tribunal. Tráfico de animais em extinção pelas sobras dos corredores da Amazônia, e de ministros e juízes, de acordo com as conveniências, pelos corredores de Brasília.



E realmente o indecente e imoral é aquele que se vende na esquina, que troca instantes de seu tempo retribuindo o pagamento com sexo, no qual somente o seu próprio corpo é oferecido no negócio, e não recursos e disponibilidades financeiras que certamente interferirão em muitos outros corpos além do físico único e pessoal do prevaricador, da sub-raça educada para fingir em terno Givenchy, e sorrir, e mentir quando negocias almas como se fossem pão, exímios profissionais do latrocínio indireto, deuses degenerados que comandam um país por eles transformado em inferno.


Realmente a prostituta que é indecente, o travesti, o miche nas calçadas do Dante, o mesmo Dante que colocou os tiranos sufocados numa poça de sangue fervente em seu inferno; o traficante de rua que é indecente, o trombadinha que bateu uma carteira ou assaltou uma velhinha no farol. Realmente são eles o problema do país, e jamais direta conseqüência dos estupros sociais e intermináveis orgias sem decoro na gestão do governo, e deveriam ser exterminados em praça pública, queimados como se faziam com as bruxas... Que absurdo ainda não terem sancionado uma lei permitindo, para os imunes deficientes que sofrem de outras imunidades que não seja a parlamentar, a pena de morte nesse país, nessa latrina pintada com a sétima maravilha do Mundo e araras, e mico-leão-dourado, e futebol... Meu deus, que mico... Está na cara, todos sabem quem são essas prostitutas que já deveriam ter sido liquidadas com a sífilis, e as pestes ainda sobreviveram ao HIV.


Quanta piedade de Satã para não fuzilar as perversões desses nazistas no poder com um falo suficientemente grande para os fazerem sangrar e vomitar pelas entranhas todo o champanhe que arrotam com o dinheiro público, e assim se afogarem na indigestão das próprias risadas quando riem de nós, os palhaços, que elegem palhaços para nos governar.


Devemos ser no mínimo estúpidos, burros e merecedores das fezes maquiadas de bolsa família que nos servem no almoço, pois já dizem que os governantes são um reflexo de seus governados, e se os governados de fato são bestas selvagens agonizando no prostíbulo de uma busca egoísta, impensada e instintiva pela maior quantidade de prazer que podem obter, certamente quem os governa não fará diferente, e sugará do entorno cada molécula da existência compatível com seu gozo.


E de fato são as bestas que elegem as bestas. As bestas que não somos nós, pois essas bestas nem sabem ler, e os que sabem, se candidatam para cargos públicos, com algumas presidenciais exceções, quando supomos a leitura habilidade em nível a cima da fala, e se nem falar se sabe, quanto mais se ler... Enfim, é essa esmagadora maioria de acéfalos que elege a mesma rapina para uma constância eterna, enquanto os acéfalos permanecerem acéfalos, e enquanto as rapinas permanecerem mastigando seus respectivos cérebros, e o voto contar pelo número de crânios subscritos, independentemente deles estarem vazios ou não.



Ou seja, nada mudará, uma vez que não existe o mínimo interesse de se educar as bestas, de se domesticar a ignorância que sustenta o circo, de fazer com que eles deixem de procriar partidários da imbecilidade. Nenhum real método concepcional de sofisticação e incentivo ao pensar que não seja fingimento, poeira, e testículos estéreis para a feijoada escrava de todo domingo fausto e indefinitivamente igual, por mais que se faça uma dieta, costure o estômago e empurre os intestinos para dentro do baú da felicidade, continua a mesma merda. Que ainda por cima, é vendida como pasta de dente nos intervalos do café com leite dessa prática política centenária.


Portanto, meus irmãos, somos NÓS, o resquício da esperança, o nada em termos de número e o tudo em termos de capacidade. A Democracia é uma fraude. Um embuste utilizado para nos manter silenciados, calados, sem poder de real ação, sem opinião. A liberdade de imprensa é um mito, para não dizer um mico, o tal mico-leão-dourado em extinção, ninguém nunca viu. A tripartição de Poderes então acho que dispensa comentários: uma piada, de fato. As cláusulas pétreas uma armadilha, sentinelas, uma verdadeira muralha de pedra em torno desse monstro com boca de ralo que suga a todos, o Leão Democrata da União, a besta vermelha. As liberdades e garantias constitucionais um algodão doce, que desaparece na boca, uma migalha para o bebe parar de espernear no berço, uma chupeta para calar a boca.


Assim sendo, não nos resta outra alternativa a não ser começarmos de fato a nos importar.

Nós que poderíamos fazer e não fazemos.

Nós que saberíamos como fazer e não damos a mínima para essa babaquice toda.

Nós que estamos cagando para o poder, e não nos importamos com política ao ponto de ler os jornais, fazer meia dúzia de piadas, e nos contentar com os sinceros sorrisos de amigos num boteco de esquina, amontoado com as sinceras prostitutas, com os cafajestes de carteirinha, com os meninos apátridas nessa terra de ninguém.

Nós que na nossa inércia deixamos os porcos se apoderarem dos quartos, a nadarem na piscina e a transformarem a casa toda num chiqueiro. Nós que fazemos da vida o que de fato ela é, uma festa de alegrias e amizades, acabamos nos divertindo demais, e nos distraímos ao ponto de não perceber a potencial gravidade do que está acontecendo, o tamanho do dano dos cupins nos alicerces de madeira, que por mais peroba do campo e jacarandá entranhados na base, um dia a casa cai, e como nos sentiremos se por nossa negligência e excesso de satisfação e bons momentos, ela cair na cabeça de nossos filhos, ou dos filhos dos nossos amigos?


Portanto meus irmãos, está mais do que não hora, precisamos nos organizar, nos reunir, nos estruturar. Precisamos pensar. Precisamos falar sério. O sonho não acabou, essa é uma mentira que nos vendem, pois querem que nos conformemos, pois no fundo, eles nos temem, eles sabem do nosso verdadeiro potencial. Sabem do que somos capazes. Não se esquecerão nunca da Maria Antonieta, pois com tamanho peso em suas cabeças, se derretem todas as noites em pesadelos com medo do travesseiro se transformar em guilhotina.


Ainda estamos em tempo.

E que venha a transformação, a verdadeira.

Por que devemos aceitar as coisas que nos dão, se podemos fazer melhor? Se temos a chance de melhorar o mundo, por que deixá-lo como estar? Só porque é mais fácil acreditar que é impossível mudar o planeta, e que ele se muda sozinho,,,, se todos pensassem assim ainda estaríamos com os dejetos pelas cavernas; e se ao menos ficasse como está, mas ele se deteriora. Chega! Por quanto mais tempo meus irmãos, deixaremos com que eles o deixem pior? Esses palhaços girondinos, e jacobinos, e florentinos naquilo que chamam Poder?


Por quanto mais tempo iremos criar um serpentário para nossos filhos e alimentar as cobras com os tantos sapos que engolimos? A cobra que plantaram dentro de nós com anos de ardil subliminar e inteligência diabólica, e que nos mantém paralisados com veneno de egoísmo e indiferença.

Que soltem as fadas das prisões e que as borboletas voltem a voar pelos jardins!

Por quanto mais tempo, meus irmãos, iremos subtrair do mundo o seu direito vital, absoluto e universal de salvação?

Que saiamos de casa, que unamos nosso pensamento, que lutemos para poder celebrar a verdadeira paz, a nossa, o nosso saber de que fizemos o que podíamos fazer...

Sem mais demoras,

Que venha a Revolução!





Fernando Castro

TEMPESTUOSAMENTE

E Deus desfez a mulher
Em suas intimidades,
em suas ondas de pele
E músculo,
acentuando suas fragilidades
em desacordo
com a violência sutil
da sua resposta febril
ante o mundo e sua
Infinidade..

Ante a perplexão de
um homem e sua
absoluta incontensão, seu
visceral descontrole
na mais aparente
falta de solução...as suas
pernas que tremem e
na impotência mascarada
pela vergonha de dizer
Não posso...
se estabelece o
esplendedor de uma
Lua feminina
para tudo que significa
Nosso!

Tudo que jamais respondeu
quem sou Eu,
e da onde vim,
se da pobreza ou realeza,
de um ser, só nos
resta uma única
certeza de um ventre
chamado natureza
para aquilo que der
ou vier, só nos resta
na boca, a contingente
e única resposta
de ter nascido da vida
de uma única mulher!

E portanto, seja
na fúria mais juvenil ou na
reflexão
mais madura
só nos resta a mesma
resposta para refrear
toda a loucura...

Se no planeta de homens
comandando homens
sem decoro, sem
postura, sem
envergadura para manter
o equílibrio numa reta
qualquer,
que as rédeas sejam dadas
e a comunhão governanda
por aqueles que dão a vida
pelas diretrizes de
uma mulher!!

E Deus refez o homem!


Fc

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

TEMPESTADE

Desce o manto da noite
Na escuridão um vazio,
Tece as agulhas costuras
Pontilhadas na alma, que
Veste a claridade no hiato do dia,
E sem mais tempo,
Ou calma,
Como um pássaro de realejo,
Sem aviso, foi embora!

Adormece as trevas na liberdade
Poente de um Sol desgarrado
Dos teus pedidos de desculpas,
Ofuscados,
Por uma lua minguante de loucura,
Sem retardo,
Costurando em tuas falas
Sepulturas

Assim se fez a argila em escultura,
De homens sem desejos,
De notas enroladas
Por uma música sem partitura,
Sem partir,
E sem ficar, sem
Nunca mais ficar
Impermeável,
Intransitável,
Incomunicavelmente tua...

Enlouqueces assim
Com o pez negrejado
Desgarrado das ruas, e
Prometes sentir a
Iluminação dos postes
Nos caminhos da semeadura
De tuas lágrimas e ruas
Escorregando pelo corrimão!
Pela escadaria dos fatos
No abjeto de teus atos,
Onde as lágrimas do Sol
Encontram o riso da escuridão!

Desvaneces assim
A invulnerabilidade de tua
Negação,
Derretendo a resistência
Como um alfabeto glacial
Nas penas próprias de contradição
Nos sufixos sem propósitos
Acumulados desde a primeira
Simplória,
Inverídica comunhão...
Do homem com a mortalha
Do metal com a espada
Sem lógica e sem bainha, sem
Destreza nas mãos
Inválidas para a luta,
Pensadas para dançar,
Sorvendo e distribuindo
Alegria
Pelos objetos em que espontânea e
Livremente
Com sua alma
Faz tocar!

A tempestade se delicia com a incerteza dos alicerces,
E a grande fúria multiplica
Os raios na batalha,
Na grande conquista, onde
Ouro será transformado em palha,
E a terra, Terá valor...
Assim cantam os anjos na tua alma,
Rebenta, sedenta pela real
Experiência, rendida
Extenuada e sofrida
Com a desleal concorrência
Do seu racionalizado
Instinto animal, que
Mesmo com a dispensa cheia,
Clama por insensata sobrevivência,
Quando,
Já sobrevives,
Quando já regozijas
Quando num estado último de clemência
Basta além da demência existir
E preencher os teus buracos
Com os antônimos da tua ausência !!!

E Deus criou o homem...

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E Deus desfez a mulher
Em suas intimidades,
em suas ondas de pele
E musculo,
acentuando suas fragilidades
em desacordo
com a violencia sutil
da sua resposta febril
ante o mundo e sua
Infinidade..

Ante a perplexao de
um homem e sua
absoluta incontensao, seu
visceral descontrole
na mais aparente
falta de solu'cao...as suas
pernas que tremem e
na impotencia mascarada
pela vergonha de dizer
Nao posso...
se estabelece o
esplendedor  de uma
Lua feminina
para tudo que significa
Nosso!

Tudo que jamais respondeu
quem sou Eu,
e da onde vim,
se da pobreza ou realeza,
de um ser, so nos
resta uma unica
certeza de um ventre
chamado natureza
para aquilo que der
ou vier, so nos resta
na boca, a contingente
e unica resposta
de ter nascido da vida
de uma unica mulher!

E portanto
na furia mais juvenil ou na
reflexao
mais madura
so nos resta a mesma
resposta para refrear
toda a loucura...
Se no planeta de homens
comandando homens
sem decoro, sem
postura, sem
envergadura para manter
o equilibrio numa reta
qualquer,
que as redeas sejam dadas
e a comunhao governanda
por aqueles que dao a vida
pelas diretrizes de
uma mulher!!

E Deus refez o homem!


feeee cassss