terça-feira, 9 de novembro de 2010

O velho frasco e o fresco vazio

Era manha vital de doce novembro, quando a primavera invadia as jardineiras, e um sorriso de flores se espalhava pelo jardim.

O vazio, imemorável, esquecendo de devorar mais um pedaço de ti, meu amor, deixando-te um dia mais para o esquecimento, lamentava as sobras de tua voz, insistindo em envolver-me pela cintura cada vez que cometia o crime de me lembrar de teus lábios molhados, gigantes, intocados pelo tempo e seu bisturi do envelhecimento, sua lamina de acaso, quando se desmancha a beleza sem tocar, quando se ama o inverno sem semear o gelo e a neve por de trás dessas tuas pálpebras frias , glacialmente afastadas do centro de um coração!

não sei mais se posso convalecer junto de teus braços, e sendo assim, também sinto que não mais posso pensar em continuar ao teu lado, meu anjo sem rosto, sem gosto de esperança...

o vazio é abominável, e se espalha junto ao frio da manhã,
a chuva não tem intenção de parar,
e o nosso lar também não resistiu...,
vazio,
como um candelabro de gelo que caiu no chão,
algo partiu,
para nunca mais voltar,
como uma estátua fundida que volta a ser pedra,
essa dor se misturou no espaço,
e esse amor se diluiu no negro da escuridão,
na sobrevida do esquecimento,
não há mais reconciliação
nada mudará, e no tempo ainda perdido quando gasto para lembrar
vejo teu reflexo
como um mapa borrado por uma rota já gasta
vejo o teu reflexo
insistindo em iludir, lutando para refletir o que já basta
o que não ilude mais,
o que iludiu
o que hoje cicatriz
deixada na carne
para sempre
o remorso
e o vazio

f.c...

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