quinta-feira, 25 de novembro de 2010

A Rosa em Silêncio

A Rosa,
Inominada...
Cravada numa tela sem tinta
Sem voz,
Num quadro sem som
Quando na ausência escarlate
Dava-se o tom,
E o xeque mate,
Sem voz
Sem teto,
Sem vida,
Um ventre morto
Sem feto,
Um olhar absorto
No cume do silêncio
Sem voz
Sem nada
A tinta e a noz
De Édipo Rei,
Sem lei,
Absurdo
Cego, não enxerga o pintor
Surdo,
Não escuta os próprios gritos de dor
O terror
De calar o indizível
De sentir o inexprimível
E de ver
No escorrer das tintas no pincel
O laurel de espinhos
Buraco negro no céu,
E sozinho
Perceber o silêncio na solidão
O vasto mundo sem voz
Por debaixo de todas as telas
O vazio inominado
Por de trás de todas as cortinas
As lâminas de faca sem misericórdia
Por de trás de todas as retinas
Quando todas as crianças adormecem,
Nos travesseiros dormem as guilhotinas
As crianças também estão mortas
E a infâmia as faz perecer antes do sexo
O preconceito sem razão
As faz enlouquecer
Antes do belo gesto
De se deitar,
Livres,
E virgens, se perderem como as rosas
Esquecidas na prateleira
De uma jardineira sem pudor
Num gramado sem distinção
Onde o sangue de amores proibidos
Escorre como a tinta na tela
E pelas mãos
No desejo do pintor
Sem nome,
Sem cor
A rosa é cravada numa tela sem tinta
No veneno da aquarela
A dose letal
O embrião que caiu da janela
O filho que se perdeu no vagão
Descarrilado,
No silêncio da solidão
Sem nome, sem cor
A rosa cruz cravejada na pele
A luz e o calor
Do silêncio da vida
A Rosa do amor
Em pétalas de diamantes,
Onde esconde-se o rosto
E os belos amantes se beijam como vaga lumes na escuridão
Como enfeites de natal
Para olhos faiscantes,
Em nome do pai,
Sem medo da polícia
Os meninos perdidos na dor
Revelada, machucada,
Os meninos escondidos na flor
Envenenada
No silêncio da Rosa
Perdida,
No centeio do campo de silêncio
Uma trilogia
No triângulo da incomunicabilidade
Da tela, da morte vivida a cada dia
A flor de narciso
E sua metamorfose
Surrealista,
Num silêncio a perder de vista
A vastidão desértica
Costurada no interior
Por debaixo da carne
Dentro da cela
O silêncio da Rosa
Sem voz
Cravada na tela
Inominada
Sem voz e sem cor
O silêncio da dor
De ser um só
Quando no pecado de todos
Existe o mesmo silêncio
De ser nada mais do que pó
Areia colorida,
Espalhada na praia
Onde os corpos desolados se amontoam
Em ilusões de conectividade
Em barracos humanos
De hiperatividade
Com um único fim de iludir
Por não suportar
A real condição de ser
E saber
Do silêncio do pó
A indelével dor de ser um só
Na agonia de uma rosa infinita
Congelada para sempre em si mesma
Sozinha
Em sua sonata ao luar
Um desespero que finge amor
E a eterna dor
De vagar, de vagar solitária
Sucumbindo a cada instante
Devagar
A cada sonata
De rosas em silêncio
Que morrem sem deixar vestígios
Sob a luz tumular
De uma noite ordinária
Na solidão do luar



Fernando Castro

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