terça-feira, 30 de março de 2010

Amorarte Arterial mente

Quero amor e quero sangue,
Na roda de teu olhar engessado na paixão,
Quero o recorte de desejo na lâmina da faca
De sua nudeza castigada e sem perdão!

Quero a lascívia do copo, que escorre pela borda da sua boca
Ao longo da noite saturada de teu perfume,
No descompasso de teu quadril,
No liquido quente de sua roupa!

Verterei o teu sangue para dentro de mim,
Sem pudor ou canudo,
Sem vergonha ou escudo,
Pois quero o cheiro por debaixo de tudo
Que nos transforma em cegos, em surdos, em mudos!

Assim, irei emudecer com as palavras arrancadas de ti,
Sons conseqüências dos toques,
E dos suores que nos fazem mar
Que nos penetram de carne
E sangram no espírito junto a fome de amar,

Na alucinante torpeza infinita
de tua pele avermelhada,
quero por fim em toda a timidez distribuída em teu corpo,
e suspirar de irrefletido êxtase a cada instante
derradeiro e infinito
que em teus braços despidos
meu peso se faz pendurar!

Assim, sendo o veneno de mim mesmo
Posso sem remorso
Estancar o meu medo
De sentir tão perpétuo,
Minha carne em teu peito
Para sempre sangrar!


fernando castro      30.03.10

segunda-feira, 29 de março de 2010

Crianças de CARVÃO

Quantos mais de nós teremos que morrer em vida, todos os dias como um cão, para que os nossos próprios olhos possam se preocupar com o que acontece em nossa volta? Quantas senzalas urbanas terão que gerar seus filhos de fábrica, e suas lástimas subumanas, para que nossas mãos passem a denunciar, seja com murros, seja com a pena? Quanto mais de vida terá que ser açoitada por chicotes do terceiro milênio, para que seja imposta pena? Porque enquanto dormimos quentes em travesseiros de refinada pena, os escravos nossos vizinhos apodrecem de exaustão em gaiolas de lixo e subnutrição, não muito distantes de nossos queridos bairros verdes e potáveis!

Recentemente recebi a notícia de existirem no bairro do Brás, trabalhadores aliciados da Bolívia, que como suínos são mantidos em labuta infernal, num chiqueiro eterno, em jornadas que se estendem para além das 18 horas diárias, em condições que nos remetem às monstruosidades das galés, regados a pingos escassos de água, e com direito a única refeição, cuja aparência preferi manter distante de minha imaginação!

Também junto a esse absurdo, foi sugerido as imagens dos escravos da cana, pouco mais no interior de São Paulo, onde as criaturas ganham quase 10 centavos de real por tonelada de cana carregada, e ainda são intimados e vexados quando parte do dedo se desprende da mão, visto a fúria do incessante facão, devorador de mato, faminto cortador do combustível vermelho que colocamos em nossos automóveis movidos a sangue humano! Da cana também se desprende farpas, que por vezes os atingem nos olhos, e os cegam, e mesmo assim, a labuta continua, sob ameaças, sob terror, sob o medo da fome eterna, e dos filhos que urgem nas noites errantes por um pedaço de pão, por um gole de leite!

Juntos a essas visões, também as crianças que nada entendem vieram negras e sujas pelo carvão, nas minas espalhadas pelo Pará, que como formigueiros humanos e fornalhas de um inferno mais real do que as fogueiras da Inquisição, se multiplicam e se mantém intocáveis em suas terras minadas de horror e cercadas pela vista grossa e viciada de políticos e autoridades, que no mínimo, melhores travesseiros devem ganhar oriundos desse estupro infantil, para dormirem com seus filhos intactos, e acordarem com os mesmos sorrindo na mesa do café da manha!

Crianças estupradas pelos capatazes boçais, rudes monstros do esgoto, choram sem saber o que são lágrimas, e vivem sem saber o que é sorrir, e crescer, e morrer adultas, pois quando meninos já mortos, como farão para morrer de novo? Como farão para envelhecer, e ter filhos, gerados não pelo sêmen de um bastardo gigante, que pela força arranca dessas crianças não só a carne e a pele morta pela devassidão do trabalho escravo, mas estraçalham seus ventres, e germinam o diabo dentro dessas impossibilidades de afeto, nas entranhas de uma alma abandonada pela Lei, pelo Ministério Público, pela Sociedade!

As crianças das minas, os pais da cana, e os estrangeiros da fábrica. As três anunciações me foram dadas aos golpes de frases afiadas como machados, que cortam em nós um pedaço do homem que foi treinado para não sentir mais, para não se importar mais, para ler nos jornais notícias eventuais do absurdo, e com a insensibilidade instigada por uma certa certeza da impotência que gera o tanto faz, vira a página, e passa indiscriminadamente a sentir nada de novo ante o próximo assassinato, e aos poucos, nessas páginas de sangue nos jornais, vamos sujando nossas mãos, e as tornando a cada dia mais pretas, o mesmo preto dos rostos sem expressão das meninas do carvão vai tingindo nossa inocência civilizada, trazendo para nossos olhos a mesma treva dos meninos da solidão, que nos mata aos poucos, e nos torna também escravos do medo e da consciência tirana, com a diferença de que para nós mesmos, no fundo, devido a perspicácia instintiva e natural que revela nossa apatia e inércia, nossa fática covardia, não poderemos nunca mais nessa vida implorar por perdão!



fernando castro.....................18.03.2010.....depois de uma aula de Direito Processual do Trabalho!!!

sexta-feira, 26 de março de 2010

Além das NUvensNUvensNU...

Guardamos no armário os beijos de ontem,

E deixemos para depois de amanhã o abraço que prometemos nos dar...

Salvamo-nos do desespero presente de não nos abraçarmos mais,

E talvez, com essa incerteza amortizada pelo escudo da indiferença,

Possamos de verdade esquecer de nos beijarmos de novo!


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Abram-se os portões da aurora, para que com nossas lembranças da noite,

Esquecidas para sempre em nossos travesseiros mudos,

Venhamos a nos lembrar de enxergar o dia,

E assim, percebendo a continuidade infinita desse esquecimento,

Possamos enfim, nos debruçar de novo juntos na escuridão!


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Fechemos por pouco mais que um momento

Os olhos para além de uma intenção vazia,

E respiremos em silêncio, essa cegueira de se estar juntos a sós,

E vivamos, e tornemos a nos olhar com os olhos fechados,

E sintamos,

Para sempre em nosso mundo,

Que podemos amar no escuro,

E podemos sentir sem tudo querer ver!


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Espere um pouco mais,

E talvez nunca toque o telefone,

Respire um pouco mais,

E talvez nunca mais consiga telefonar,

Portanto, ultrapasse o que já foi passado,

Para sem distâncias inúteis,

Aproximares o futuro!


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Lembremos de não esquecer o que já nem lembramos mais,

E assim passado, vivamos distantes,

Desconexos de tudo que poderia ter sido,

E sorriamos um dia quando à essa lembrança retornarmos,

E lembrarmos que não deveríamos tê-la esquecido!


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Abre-se a janela com o vento que traz

O frio pertinente que nos acaricia a pele,

E nos faz sentir o quanto perto, naquele instante,

Estamos um do outro,

E de que nada somos além desse tempo,

Trazido por esse vento,

Que não dura mais do que um sopro!


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Feliz recolhamos as flores de nosso jardim,

Rosas e cravos juntos na terra de um sonho,

De um beijo perpétuo,

Finito amor que nasceu pelo fim,

E morreu, tão breve amor

Nascido de uma flor,

Apagado junto as rosas e os cravos,

Recolhidos no jardim!


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Intensamente sentimos tudo que não vivemos, dentro de nós

E assim louvamos a fantasia de ser,

Desejando viver tudo o que queremos,

Esquecendo de desejar,

Quando se tem que viver!


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Escurecem ainda mais a noite nossos olhos ausentes,

E quando a treva advinda do pestanejar sonolento,

Obscurecer nosso intimo de solidão,

Tempo não teremos com a proximidade

Distante de nossas almas pálidas,

Atormentadas por esse amor de anjos sem coração!


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Amemos para sempre nossos olhos vidrados,

E olhemos para o amanhã

Sempre com os olhos de hoje

Um olhar cego de futuro

Porém, com todo o brilho que cabe no mundo

Do tempo que dividimos juntos

Na eternidade de um segundo!


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A eternidade possível nesse único abraço sintamos,

E assim, escorregado o tempo

Que em não nos olhar perdemos,

Possamos como o arauto de todas as manhãs,

Renascer de novo a cada novo dia!


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Ilumine, sol invencível de todos horizontes,

Clareando o inesquecível dia de ontem,

Na noite provável do amanhã,

Para que assim, após deleite de horas que não passam,

Possa o passado jamais deixar de passar!



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Invencíveis voemos para além de tudo que já existe,

E quando tivermos que circundar a própria alma

Em rasante voemos em torno dela,

E para fora dela,

Para que assim, não tenhamos que voar sequer dentro de nós,

Quando libertos de tudo,

Voemos para o inexistente!


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O segredo do amor manteremos intacto,

E sem presunção de amantes não o perscrutaremos

Pois amemos,

Para sempre sabendo

Que amamos sem saber

Que amando estamos!


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O amor acontece sem porquês,

Amando por que se ama sem querer,

Esse é o paradoxo que nos une,

Num amor que acontece e não se prevê,

Porém,

Quando se quer amar sem ter pra quê!



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Amemos para todos os dias que nos restam,

Morrendo para sempre amanhã,

Para nunca mais se encontrar...

Pois se só nos resta um único dia,

Obrigados estamos,

Para sempre a nos amar!


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De árvores folhas caem no outono,

E como as folhas,

Cai também o nosso amor,

Em profundo e lento sono,

Numa existência que nunca acordou,

De uma infinita primavera,

Onde nunca as folhas caem,

Donde nunca flor faltou!



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Boa noite, príncipe dos sonhos eternos

Mantenha-me acordado em teus princípios,

E durma enquanto velo nosso lar,

Para que tu também,

Cavaleiro dos cimos desconhecidos,

Possa dos meus sonhos nunca mais acordar!



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Bom dia, príncipe dos olhos cintilantes,

Cerúleo as cores que vestem teu olhar

Amanheça em minhas fronteiras tua aurora

Para que assim possa, quando teus olhos cintilar

A planície do céu ver espelhada

Para além das nuvens mergulhar!



fernando castro    26.03.10

quinta-feira, 25 de março de 2010

ENGULAGME

O quanto de assombro neste copo d’água cabia?, não eras nada mais do que sentia pela manhã,


Em goles cortantes de mau que angustia... veneno ímpar em garganta sufocada pela luz da cidade, pelo brilho opaco das árvores poluídas,
dos sonhos dispersos em vidas trafegadas por caminhões de petróleo industrial,
de sonoplastia cáustica advinda dos choques dos metais, do zinco e do cobre dilatado, da estradas férreas agredidas por vagões da eternidade consoante,
que vaga omissa sem em nada interferir, condenando tudo a ter significado improbabilidades otimistas,  quimeras infantis espalhadas ao longo do desespero dos dias, das luzes apagadas pela manhã,
lampião que não ilumina, e some no vácuo diante dos olhos do sol!

Em goles ácidos nada mais engoliria, traquéias rasgadas aos poucos ao longo dos dias,
onde ponte de concreto liga uma marginal a um medo passado,
o de voltar sempre para o mesmo lugar, o mesmo medo nascido da onde se vinha,
e diluído pelas ondas invisíveis, sem mar, de rádio sem locutor!
Vozes assassinadas que cantam a morte nos auto-falantes,
e dispersam nada mais do que a radioterapia, em suor e agonia,
pelos tráfegos automobilísticos de todos os dias, de todas as manhãs,
de todas as voltas para o curral das furnicações bestiais, ungüento para o espírito em carne tesa e obscurecida pela obesidade da reflexão!

Estavam todos mortos, e ainda assim dirigiam seus importados de platina e lágrimas infantis ao longo do cimento cinza de olhos empedrados e enrijecidos...
olhos opacos e poluídos, dispersos pelo longo da existência sem gozo fora do estupro e hedonismo, sensibilidade atroz e corrupta, vencida a cada esperma dilatado, a cada agulha merecida, a cada nota dada !

Estavam todos mortos beirando o suicídio, e dançavam desnudos, juntos agarrados as entranhas comuns que os unia, empenhados em diluir o mau do corpo sem filosofia, em noites dançantes de espírito ébrio em letargia catártica de amantes de carne e pedofilia!

Em goles pequenos devoravam-se aos poucos, e beijavam o sulco da terra regada pelo céu e sua ironia do infinito,
em seus plácidos olhos costumeiros e adiantes, fomentadores de sonhos inconstantes e absolutos,
o padre regador da esperança assassinada,
obrigatoriamente condenada,
já que esta não poderia viver,
se do espírito a carne a mutilasse, e da carne, sem espírito, música se ouvisse,
e em noite sem fim o corpo dançasse!

Estavam todos mortos, engolindo-se vivos em torno do abismo!


fernando castro     25.03.10

sábado, 20 de março de 2010

A ALMA E A ROSA

Num belo dia, raiado na serra,
em alguma colina,
Do sol agudo e seu raiar do meio dia,
Escuta-se um pouco sério,
abaixo do céu
E seu mistério,
uma alma aturdida,
A chorar sem fim,
entregue a ira e a vitupérios,
Nos confins solitários
de um esquecido cemitério!


Como esquecer?
Quando no meio dos prantos,
Espalhados ao vento
Qual brisa outonal,
Iludia-se um canto
Onde voz imortal
De célebre encanto
Em alma penada,
Surgia da terra,
em natural florescer
Uma alma rosada
Para se nunca esquecer!


“Oh alma minha de tudo rosada
Qual teor de tuas lágrimas,
Em pétalas de dor
Nos olhos desabrochada
Para sempre chorada
Uma pétala de amor?
Qual teor...
Alma sofrida,
Por uma pétala desalmada
Dessa casa de lágrimas?
Dessa casa rosada?”


Foi então, quando de súbito,
No frescor matinal,
desses ares do campo,
lividez de um dia,
após noite em temporal,
que da terra serena
pela chuva umedecida,
brotou uma muda terrena,
frente a alma entristecida,
de tudo formosa,
bela e macia,
uma singela delicada rosa
cheia de vida e poesia!


Pois a alma em tormento,
entregue as brumas silvestres
e aos tristes lamentos,
agonia feroz
de atroz sofrimento,
Abandonou seu relento,
E Por um momento,
seu pranto
Estancou,
E no vento deixou
Os males reais
De que tanto chorou,
A alma vidrou,
Com a súbita aparição,
Que ao seus olhos falava
Em total comunhão,
Esquecidos de tempo,
Aliviados da dor,
Não entendia como não haveria
De haver
algum mau sentimento
E nenhum sofrimento, na inigualável
Beleza daquela única flor!


E para surpresa geral,
Daqueles além da lápide
E seu umbral,
De tudo florida,
E com voz maternal
Pronunciava a rosa palavras
À alma aturdida
Ante a flor silenciosa,
Pois se ouvia um bom dia,
Lhe dado pela rosa!
Que sorria, sorria!


A flor lhe crescia,
E do distante impossível
Com vida lhe surgia
À alma desolada,
Que atônita escutava
As palavras rosadas,
Dessa flor que falava!
E mais do que falar,
A rosa perguntava,
E esperava uma resposta,
Dessa alma disposta
A escutar com tremor
uma flor que dizia:
Bom dia, bom dia!


A alma questionada,
Agora mais fria
Um tanto precipitada
No desconsolo que esvazia,
Simplesmente enrijecida,
Não sabia o que dizer,
Se calava ou se fugia,
Não sabia responder
Aquele simples bom dia!


Estava, entanto, menos só,
Com a flor em companhia,
Mas ainda em seu íntimo
Algo de ruim lhe fremia
Não sabia, não sabia
Se era medo ou agonia,
Estava distorcido
Os sentidos do aprendido,
Não sabia se vivia,
Ou se era pura fantasia,
A alma desolada
Por um corpo que sumia
E ao mesmo tempo
Indagada
Por uma flor que perguntava
Lhe sorrindo de vermelho
Um desejo que sentia
As palavras colossais
Que lhe diziam
Nada mais do que:
Bom dia!


No âmago tremia,
Já esquecida do pranto,
Absorta pela flor
Que tudo lhe dizia
Para além de sua dor,
Estava ante tal demonstração
Do improvável e absoluto
Que não lhe dava compreensão
Para entender o que fazia
Numa terra tão vistosa
E aclarada ao meio dia
Uma perfeita e bela rosa
Que falava, E que sorria...

Efeito que paralisava
Essa alma inconformada
De lúgubre canto abandonado
Para viver um paradoxo
De tão muda voz complexa
À pobre alma tão perplexa
Que como autômato respondia:
Bom dia, bom dia!


Assim percebida, pela rosa que lhe acolhia
Um tanto desolada, pelas dúvidas
Transfigurada, resolveu esclarecer
E à rosa perguntar, para por fim em seus males,
Para sua angústia dissipar!


“Estou em prantos atirada, e em ansiedades
Cuja força é impossível de evitar,
 a pouco perdi um corpo,
em tragédia que não posso aceitar;
de tudo vi em vida, mas os beijos homicidas,
de um amor eternizado,
é algo que transpiro em meu passado:
como posso da noite para o dia assim me conformar?”



E a rosa implacável, de uma beleza
Admirável, em sua altivez permanecia,
Irrevogável, e sem esforço,
em bom tom lhe dizia
as mesmas palavras
que lhe tiravam a calmaria:

Bom dia, bom dia!


Pois então, visto insistência memorável,
 a alma estremecida,
Sentindo-se acuada,
ou pela rosa debochada,
Viu se revoltada, e por completo
Indignada,
Viu-se estridente,com raiva
num sangue que não tinha,
Com certa taquicardia,
Em coração que não existia,
E num salto fremente,
Saltou da pedra que sentava
Ao todo incontinente,
Impetuosa e valente,
E aos pés da formosa rosa se prostrava
Ao talo de uma rosa que sorria!



“Oh rosa bem ou mau amada, da legião dos ínferos substratos,
 ou pelos anjos aclamada, vinda da casa dos infernos ou de angélica casa rosada,
vieste até minha solidão e com tuas pétalas falantes a perturbar,
pois então, exijo que fales, e que não venhas com tua ironia me açoitar:
após o relato dos ocorridos fatos, cicatrizados sem tempo em mim,
descosturando o corpo para sempre perdido, venha revelar,
com teu perfume ou teu espinho, como posso eu, desprovido de vida e sozinho,
em outro mundo me conformar?”



E a rosa, impassível,
Ao plexo solar,
Tão incólume e irresistível,
Espraiada sem as sombras,
que lhe impedem de amar!
Aveludada pela luz,
Mantém-se incoercível,
Orgulhosa de estar só,
Abstêmia da compaixão,
Intocada pela dó,
Vem irreversível,
Com seu lábio vermelho
E invisível,
Dizer o absoluto,
Falar o indizível,
Nunca dito por uma flor,
Que sem culpa e sem dor
Esqueceu da ironia,
Para responder à essa alma
O que tanto lhe aturdia
E a rosa disse nada mais do que

Bom dia, bom dia!



“Oh mortal ser infernal,
que em terreno sepulcral vinde a meus domínios
para odiar-me em quanto tal, quanto a um ser nunca mais carnal,
te amaldiçôo e lhe condeno a ser infeliz,
lhe furtando a luz desse sol, lhe extirpando a raiz.
Se não és interesseira de teu infortúnio aproximar,
pela vez derradeira, te obrigo a falar, mortal aparição,
como hei de me conformar diante de tão desumana sangria?”



E a rosa disse:

Bom dia, bom dia!



E a alma então possessa,
De um fulgor desesperado,
Pelo ódio de tantos dias,
em seu vigor acumulado,
se viu mais do que de pressa
agindo em homicídio,
numa emoção calorosa
sem refletir ou pensar
dizendo a bela rosa
que brilhava de alegria,
a rosa do amor
que ao seu lado
sorria, sorria:

“Basta ser cruel,
Indomado e matreiro,
Vou por fim a idolatria,
Já que te disse,
Sem receios,
que assim o faria”


Foi assim que de repente,
quando o talo lhe partia,
dos céus calados e infinitos
o Satúrnio raio aparecia
ante estrondo temeroso
que em todos os cantos da terra
sem esforço se ouvia!


O que era claro virou treva,
Nada mais ali luzia,
Partida a rosa tão amada
Tamanha fúria incontida
Pétalas de amor despedaçadas,
fadada a alma pelos anjos
A nunca mais dizer bom dia!
Se uma rosa desabrochada
Em vida não fala,
Uma alma do corpo fora,
Tampouco em morte chora,
Lamentos de dor
Seqüelas de amor
Que lhe apunhalaram o coração
Pobre alma desalmada
Trancada nas trevas
Em absoluta escuridão
Nada mais lhe tocava
Nada mais sentiria
Uma pobre alma rosada
Que nunca mais veria
A clara luz do dia!
Nunca mais amorosa
Teria ao seu lado
Feliz e infinita rosa,
Que sorria, sorria
E eternamente lhe diria
Querida Alma minha

Bom dia, bom dia!


...e foi assim,
que a alma virou o corvo!



fernando castro   20.03.10......

sexta-feira, 19 de março de 2010

O estranho

Que surpresa foi do inesperado te encontrar, olhos novos e carinhosos que brotaram da terra, do chão do apartamento de festas e bailes escuros, do canto de um sofá esquecido numa sala de bem estar. Olhos sem lágrimas, e sem medos, ainda novos mais já vividos, de reflexo que se expande em nosso corpo, e invade sem perguntar se pode, os quartos íntimos de nossos desejos. Em teu abraço me perdi por um longo tempo, e por momento esqueci que existia mundo fora de você! Esqueci também que não estávamos sozinhos, e esqueci de parar de olhar para esses seus olhos, que tanto me acolheram sem eu pedir, que tanto falaram sem abrir a boca, que choraram secos de emoção e loucura destilada pela sobriedade adquirida após dias sem dormir! Os acasos lhe trazem presentes e situações nas quais não podemos deixar de viver, de peito aberto, com vontade sincera de descobrir, de sentir junto e mais perto o resto do todo que está por vir, do que poderá ser.

Como foi bom estar com você, em tão curto espaço de tempo alongado pelo jeito meigo de sorrir, de dizer palavras sem destoar os sentidos com ironia, de convidar para um mergulho de dois, nesse abismo sem fim que entre dois se interpõem, e de onde, talvez, os corpos nunca mais voltem! Um abismo que nos persegue durante toda uma vida, aonde não se ousa entrar, pois o justo receio de não voltar, nos torna eternamente curiosos e covardes, porém absoluta e irremediavelmente impotentes, quando de súbito em certo olhar, num luar de pupilas claras, de repente, o mergulho se torna inevitável!

Como foi bom mergulhar em você, meu querido príncipe desconhecido!


fernando castro   19.03.10

O IDIOTA

Meus queridos familiares e amigos,


ao assitir Avatar e ler um artigo de renomado professor de nossa atualidade, mestre que inclusive já presidiu cursos que frequentei, não pude deixar de expressar minha indignação ante a postura tão preconceituosa do mesmo, talvez justamente por esse laço criado nas aulas, e essa admiraçao que ao ser deflagrada por um artigo qualquer muito me surpreendeu.

Gostaria, em primeiro lugar, de dividir com vocês esse meu protesto, e pedir também para que, em caso de concordarem, o divulgarem dentro do possível, para que possamos dentro da nossa pequena possibilidade, combater os absurdos plantados em nossa vida!

Peço para primeiramente lerem o artigo do Ponde (O ROMANTISMO IDIOTA DE AVATAR), e em seguida a réplica (O IDIOTA), que humildimente lhe ofereço!

Suas opiniões, sejam elas contrárias ou não, logicamente, são sempre mais do que bem vindas!



saudações para todos,


hóhóhó !!

 
Link do artigo do Ponde: http://pavablog.blogspot.com/2009/12/o-romantismo-idiota-de-avatar.html
 
 
O IDIOTA


“O FILME “Avatar“, de James Cameron, é melhor do que “2012“. “Avatar” também tem um ar apocalíptico, mas reúne elementos estéticos e de conteúdo mais elaborados do que “2012″ e seu besteirol maia. Mesmo assim, “Avatar” acaba sufocado por outro tipo de besteirol que é seu romantismo para idiotas”.

Assim se inicia um artigo do professor Luiz Felipe Ponde, publicado no dia 29 de dezembro de 2009, que além de filósofo e psicanalista, é colunista semanal da Folha de São Paulo. O que me pergunto é o que leva um filósofo a ter uma interpretação tão restrita do ponto de vista humano social, visão daquele que não está sozinho no mundo lendo livros em torno do próprio umbigo, e limita - lá, rotulando a mensagem simples sugerida pelo filme como besteirol romântico?, sendo que não só o romantismo, mas qualquer escola humanista, digo mais, qualquer forma de expressão ou escola artística, sendo clássica, ou de vanguarda, que se envolve com as questões do homem, e a grande parte do impulso criador que eleva poetas, escritores, cineastas, pintores, fotógrafos, cientistas, ativistas, sendo dos direitos humanos ou dos direitos dos animais, ou melhor, dos “monstrinhos e plantas que ascendem ao toque das mãos”, está permeado pelo mesmo teor e visto através das mesmas lentes que James Cameron se utilizou para filmar Avatar, ou seja, o desejo de melhorar a vida ?

Toda a força de inúmeros textos, e livros, e filmes, e quadros, e discursos políticos, advêm da indignação e não conformismo do homem ante as incoerências e absurdos cometidos pelo homem contra o homem, e do desejo de transformação, de mudança, de aperfeiçoamento da realidade em questão; e isso não é uma questão pertinente exclusivamente a escola romântica. Quer dizer que temos que ter vivido no século XIX para termos vontade de melhorar as coisas, de limpar cada vez mais nossa casa? Não se trata de dominar a realidade, ou a natureza, com a prepotência e brutalidade selvagem de canibais engravatados, ou fardados, ou letrados, mas sim de compreendê-la ao ponto de dialogar-se com ela numa crescente harmonia, a tal harmonia satirizada pelo nosso filósofo, harmonia esta que vem sendo objetivo dos esforços e das conquistas humanas em prol da sua própria sobrevivência, ou o que seria conferências como as de Copenhagen? Como assim ninguém vive ou pode viver em harmonia com a natureza, como diz o artigo? Justamente por essa desarmonia que hoje se gastam bilhares de dólares para se tentar harmonizar as coisas, visto que uma não harmonia pode significar muito mais prejuízo do que o desleixo ignorante e individualista da fome moderna, da voracidade de consumo, da tecnicidade sem reflexão. Ponde de fato significar o fim!

Nossos índios eram “tão atrasados que não conheciam a roda”, em compensação, não conheciam a varíola, a rubéola, a malária, e sim propriedades de plantas que hoje, mais de 500 anos depois, laboratórios avançados brigam entre si para patentear! O ponto não esta em quem é mais ou menos atrasado, e sim no quanto de diferença podemos suportar no nosso semelhante, sem termos que assassiná-lo. Atrasado a partir de qual ponto de referência, pois se é atrasado em relação a algo, e esse algo sendo mais evoluído, ele o é em relação também a algo, ou seja, por que não podem também os atrasados elegerem referenciais e valores que nos fariam muito mais atrasados do que eles? A mensagem do filme em clareza estende-se à além do humano com o alienígena, ou como interpreta Ponde, do colonizador americano com seus índios, que por sinal, não tiveram a sorte de terem um “herói romântico” para desviar as balas de seus peitos, e fala diretamente de você com o seu vizinho, que não precisa ser um índio para ter seus limites respeitados por você. Fala de você com você mesmo, e o quanto de capacidade tem o seu olhar para enxergar esse mundo e ver que certas dinâmicas podem e devem ser mudadas, e que ele está te pedindo ajuda, lhe dando sinais, pedindo para que cuide melhor dele. Obviamente não faço uma apologia às cabanas em baixo da árvore, mas do diferente podemos retirar um aprendizado, e talvez das civilizações mais “primitivas”, que viviam em maior contato com a natureza e com menor dominação técnica sobre ela, podemos lhes retirar o respeito e a cautela para agregarmos aos nossos conhecimentos, e então, nos aperfeiçoarmos ainda mais, pois só sendo muito estúpido se pensa que para ter comunhão com a vida, e respeito por ela, tenho que trocar minha geladeira que cospe gelo por um filtro de barro.

Logicamente que queremos viver em paz, com a deusa natureza, ou com o deus de nós mesmos, o mesmo deus individual consagrados pelas linhas do filósofo, mas de preferência num equilíbrio inteligente entre ambos. Penso que erigir uma civilização em cima de cadáveres, de sangue de índios, americanos ou paraguaios, não é a melhor forma de construí-la, e outros caminhos seguramente poderiam levar à Roma moderna, ao nosso Eldorado, que por sinal nunca foi encontrado; outros caminhos poderiam ter levado à pedra azul em Avatar, ao petróleo no Iraque. O progresso poderia sim ter sido legitimado pela transação, se somente tivesse tido o mais forte um pouco mais de paciência, a mesma paciência pedida no filme ao chefe militar, e por ele negada.O mesmo resultado poderia ter sido alcançado se menos ansiedade tivesse tido nossos colonizadores, ou resultados até melhores, e talvez não tivéssemos que esperar tantos anos para ter que descobrir segredos que com a confiança e amizade poderiam nos ter sido transmitidos a 500 anos atrás, em harmonia, em troca, em respeito, tudo isso se simplesmente antes de puxarmos o gatilho refletíssemos um pouco, e víssemos outro de nós no lugar de um alienígena.

Pergunto-me também se a classificação "besteirol romântico" não está de uma certa forma ligada a um preconceito besta que alguns intelectuais, ou até mesmo nós mesmos e nosso intelecto pode ter com filmes hollywoodianos, grandes produções cinematográficas, nós que estamos acostumados a nos deliciarmos com o Cult, ou já viciados em rechaçar tudo aquilo que é produzido pelos EUA, recepcionando com crítica e preconceito? Independentemente de quanto se gastou para produzir um filme, ou se o filme é bom ou ruim, penso que qualquer película pode dizer alguma coisa, transmitir uma idéia, deixar impresso uma opinião, e isso pode valer muito mais do que as questões estéticas, que seu acabamento, ou valer junto, em planos diferentes. Ficamos na defensiva e denunciamos os americanos por estarem moralizando a natureza, sendo os bonzinhos sempre, no sentido deles produzirem um sucesso de bilheteiras que os denuncia, mostrando o quanto têm consciência de seus erros e dos erros da humanidade em prosseguir em sua ganância, gastando milhares de dólares num filme para mudar o mundo. Mas somente por que um filme é produzido pelos norte-americanos seu conteúdo perde o valor? Se os franceses tivessem produzido Avatar, então lhe daríamos o Cannes? Somente por que um compositor ficou surdo, ele não poderá mais compor?

Vejo a mesma mensagem, e a mesma indignação ante a incompreensão e intolerância do homem com o homem em diversos mestres do cinema Cult. Por exemplo, em toda crítica de Bunuel, de Godard, de De Sicca, de Rosselini: o que é Roma Cidade Aberta senão um Avatar com menos tecnologia, porém com a mesma paixão?, e creio que não se tratava de uma escola romântica, e sim de um marco inaugural do neo realismo, onde Ana Magnani fez o papel da nossa heroína azul. Vejo essa mensagem também no neo realista A Terra Treme de Visconti, do Conde vermelho demais para ser capitalista, mas como não quero correr o risco de ser acusado de comunista, ou de um comunista romântico, o que seria ainda pior, prefiro citar outros vermelhos mais nem tanto, como Antonioni quando filma o Vale do Pó, ou a sua incomunicabilidade que denuncia a dificuldade que temos de acessar o outro, ou até mesmo Zabriskie Point, filmado na América; e Bergman, com Max van Sydow e Liv Ullmman fugindo da guerra, não da guerra e revolução dos navis tricolores na famosa tela de Delacroix, guiados pelo “besteirol romântico” da Liberdade, mas da guerra que inspirou Picasso a pintar de forma nada romântica um quadro cubista chamado Guernica, e todos os filmes que retrataram esse nosso inesquecível estupro nazista, onde invade-se o outro e o destrói, onde prima-se pelo extermínio, onde para confiscar o ouro, bens e terras judaicas, um petróleo refinado, de maneira refinada se atira na fogueira de corpos, com muito ajuda intelectual , filosófica e publicitária, um preconceito atávico, criando-se um vilão, e assim patrocina-se a eugenia, e cria-se o mito da raça superior, e da raça “primitiva”, atrasada, que ainda não descobriu a roda.

Mas realmente precisa-se matar alguém porque esse alguém não descobriu a roda, ou por que tampouco assistiu Bertolucci filmando Dostoievski, com seus estudante indignados de Partner no papel nos navi? Elejo o referido escritor como mais um exemplo, que como navi se viu nessa vida o suficiente para escrever a Recordação da Casa dos Mortos, pois já que o nosso psicanalista-filósofo escreveu algo como Filosofia da Religião em Dostoievski, talvez eu posso fazer uma analogia da relação que o regime do Qzar teve com a condenação e a suspensão da pena do escritor russo, e seu cárcere na Sibéria, com a condenação do povo azul de Avatar pelos militares da tecnologia nuclear. Sorte que eles ainda não tinham levado a bomba atômica para lá!

“A expressão “lei da selva” não foi inventada pela avenida Paulista e seus bancos, mas sim como descrição da natureza e seu horror.”

Temos as pessoas que se envolvem com a vida de tal forma que a percebem e vivem uma real integração, com a natureza, com a realidade, vendo através de um prisma em que as coisas estão ligadas pelo fato simples de existirem juntas, de coabitarem o mesmo plano, e se vêem como uma parte do todo, e outras, que separam e dividem, e se vêem como o todo numa parte, e colocam o homem, ou seja, a si mesmo, acima de todo o resto, como se o mundo estivesse para lhe servir, como se o sol ainda girasse em torno da terra. Pessoas que não hesitariam em pleno século 21 tentar enviar Galileu para fogueira novamente, somente para a natureza continuar girando a seu serviço e o mundo aos seus pés. Esse antropocentrismo a muito já foi superado, mais continua vivo no artigo de Ponde, e em muitas relações e terrenos nesse nosso planeta Terra, seja dos homens com os homens, seja do homem com as coisas, com as plantas, com os animais.

“Ninguém nunca observou a natureza de perto? Nunca sentiu o odor de sua violência?”

Como enxergar o horror na natureza antes da rosa de Hiroxima? Será que o odor de sua violência é o mesmo exalado dos campos de concentração? Quem trouxe a destruição em massa não foi ela, logicamente partindo-se da lógica que somos algo independentes da natureza, e ela nossa inimiga, e que nós devemos dominá-la, uma vez que também podemos partir da lógica de que somos produtos da natureza, da tal evolução natural de Darwin, que através de anos sanguinários evoluímos até um ponto que conseguimos atingir o ápice da destruição e medo e, sendo assim, nos isentamos de culpa e responsabilidade, e podemos detonar quantas bombas atômicas que quisermos colocando a culpa nela, já que somos sua criatura. Francamente, deus meu, é tão simples e humana a idéia desse filme, que quem o entendeu como uma elegia ao primitivismo de fato não entendeu nada. É tão explicito e óbvio o recado, o toque amigo no ombro, que pode ser resumido numa única palavra: respeito. Fico na dúvida se o filósofo tem noção da dimensão das palavras que escreveu, de forma nada ponderada, e da idéia que passa para os outros, do egoísmo entranhado em suas frases, e da estagnação e retrocesso que promove. Porém, acima de tudo, tenhamos a certeza, contemporâneos de todas as nacionalidades e raças, que não precisa ser filósofo, nem psicanalista, nem ter uma formação superior para enxergar através dos olhos de Cameron, e permitir sim que os sonhos e os desejos mais puros e reais continuem vivos, pois o novo virá, independentemente dos esforços da conversa degenerada para o retardar, pois para ser um navi, e isso não significa que precisamos trocar o lençol pela rede ou rezarmos antes de comer um bife, não precisa ser romântico, deve-se apenas ser nada mais e nada menos do que um verdadeiro ser humano.

Lula adorê...

Andorinhas de rebordose continuam planando cinzas, e destilando vitupérios junto aos urubus eleitos, guardiões da Alvorada. Os palácios sustentáculo de nossa res. pública se mantêm aparentemente firmes e intocáveis, mas em suas entranhas certamente se agitam com os tremores da corrupção milenar, fomentadora de pobres mães grávidas da fome, de esquálidos e famélicos esqueletos analfabetos, e de andarilhos à margem das decisões democráticas de nosso civilizado Estado de Direito.

Para onde prosseguir com a livre expressão no meio de teias e caminhos predestinados, condicionados a juízes e decisões amarradas a legislações, transtornada pelo mais executivo e interventor dos poderes, aquele que tranca todas as pautas, que estabelece os rumos do amanhã, que veta e negocia ministérios em troca de mais caviar para o seu partido, e mais linha para os costureiros imperiais continuarem, ao lado de Givenchy, delineando os contornos de seu colarinho branco, e de seu terno ainda sujo de graxa? De que forma esse sufrágio universal será efetivamente eficaz ao ponto de um indíviduo ver de fato seu interesse representado, e não transpassado e engolido pelo mesmo café com leite reformado das inamovíveis oligarquias do eterno e absoluto? Quando passaremos a uma real consciência social que por vias de fato cobrará aos pedaços os cacos de seu direito, destroçados ao longo da história desse país devastado, berço e geladeira do planeta, mãe estuprada por todas as raças, violado por todos os sagazes e malandros desse mundo, aqueles que certamente engoliriam os excrementos de Satã, caso um inferno houvesse abaixo de nós?

Pobre Brasil bandoleiro, brasileiro, de riso e samba e cerveja. Será que sobra espaço para um pouco de política, para um bocadinho de ativismo nas orgias de feriado, nas bebedeiras de fim de semana, nas poluições constantes de praias e montanhas, nos versos quebrados de seu hino nacional, sem verdade, insólito, parnasianamente uma chacota extremamente funcional?

Exalta-se esse clamor e esse nacionalismo desleixado, moleque, embriagado por tudo, apaixonado pelos glúteos e futebol, e desvia-se o foco, deixando o Sol da Alvorada apagado, sol que se põem todos os dias sem nascer, incentivando as trevas que ocultam o oculto, o desvio, o qualificado furto peculato, o nepotismo debochado, a prevaricação e a fraude dessa fantástica União, de cadavéricos semideuses que se revezam no mandato. Pelo amor de deus meus compatriotas, acordem, abram os olhos ante absurdas manifestações de direitos violados, que nos transformam em meros espectadores de um circo onde os palhaços são os que riem do espetáculo, e a platéia adestrada, ainda dá a patinha para o seu feliz contendo de uma mísera migalha! Não, digam não, chega de migalhas desse podre nacional, dessa tripartição mentirosa de poderes que servem unicamente aos lucros incessantes e bastardos de filhos da putrefação moral.

Digam basta aos exploradores e mercenários algozes, disseminadores da ignorância e patrocinadores da diversão sem reflexão. Digam não mais, e soneguem, e escrevam, e leiam mais, e se informem mais, e se juntem mais, pois temos garantida a livre associação, e o poder de passeatas e o direito de greve. Façamos greve então, meus amigos, greve eterna, pois pararemos de trabalhar contra nosso país, nossos pais, e contra nós mesmos, meus queridos iludidos de todos os povos, de todas as tribos. Vistam a camisa negra na eleição que se segue, camisa negra que veste branco, que veste nulo, e justifiquem sua ausência com a indignação fremente em vossos olhos, pois voto nulo de indignação que não se anula, e que faz acordar e recusar no almoço, no café, no jantar, para sempre os indigestos restos podres de lula.



fernando castro  15.03.10

HOMENS DE BRANCO

Homens de branco, caminhando pelas estradas obtusas de meio peito…


Assim os vejo, em noite clara de luz de lua, cheia e brilhosa, espargindo nos colarinhos vestígios do escritório, da amarrada profissão, homens assim de lua cheia passeando de mãos dadas pelo meu coração...

Homens altos e morenos, de jambo na pele e jabuticaba nos olhos, fazem maré em meu porto recôndito, cujas naus se misturam no luar, nos beijos das ondas desses homens de mar...

Homens assim tão belos e inacabados pela criação, perfeitos em sua admirável condição imperfeita, mas uma imperfeição de tão completa, de todo inalcançada,,,

resplendia assim da luz seus contornos modulados pelas alvas mãos  de deus e sua imaginação, e deus criou o Homem! Absoluto! Incontestável...

Homens loiros tinindo ao subjugar do sol dourador de tudo no mundo, e olhando de volta, encarando a íris flamejante de Apolo Inviolável, olhando de volta para o infinito, compreendiam-se para o além do mensurável, e se deixam tocar por esse sol, que os amava com fogo eterno, numa dança perpétua desse incêndio de peles brancas e veias azuis, e chama de corpos ardentes, estendidos ao longo da praia, espalhados em torno do mundo,! Corpos infinitos, apaziguados entre si pelo gosto do suor, das paixões solares, dos abraços cravados na espinha dorsal, alicerce de força bruta e viril, esses homens de imaculado desejo, que ao mesmo tempo ofereciam a brutalidade de um exasperado beijo, e a poesia de uma rosa!

Homens infinitos de todos os paraísos, ululam e uivam, e pulam e balançam, cheiram a mato, e cigarro, e whisky de antros vermelhos, de cabarés obscurecidos, cheiram em mim as prostitutas de todos os bares, e os enxofres das saunas de todos os lares, de vadios, e mescla de amor com vadiagem, cheiram em meu peito esse delírio eterno de patéticos cafajestes, malabaristas de farol, e pedintes, como amo os pedintes, e a cafajestagem em carruagens blindadas, e o nascer do sol em becos desviados da luz, homens meus de amores brutos e ofegantes, de malicia ingênua e laminada, e sadismo, homens de navalha, com corte , e com vicio de faca que retalha,......ah meus anjos, ao menos se pudesse conter, a fúria alucinada que me faz amar, e perder o norte, ante cheiro desses homens de branco vestidos de morte, como feliz eu seria...como o poético firmamento em meus olhos caberia, e então sorriria, encantado nesse amor sem dor, nesse presente da sorte...
mas vivo em mim mesmo,cheirando o odor incolor e eterno desses homens paternos que se abrigam em meu peito, e que moram nas ruas de meus despudores rarefeitos, em montanha de medo e asfalto, em sádico masoquismo da cria para com seus filhotes, assassinos, pervertidos, apaixonados! meus anjos, se ao menos pudesse conter, não ser o linho e a impostura desse terno tenro, abrigo desses homens que me fazem perder o norte, em estrada interditada, homens de branco vestidos de morte!, poderia ao menos deixar de morrer um pouco por dia, e viver sem cicatrizes de carne que a morte não mais me traria!!! Meu anjo, se ao menos pudesse deixar de ser...



fernando castro   16.03.2010