sexta-feira, 26 de novembro de 2010

A Rosa Tumular

A Rosa tumular,
Adormecida,
Em seu silêncio noturno,
Transforma-se em crepúsculo
No poente da vida,
Esquecida
A Rosa adormecida,
De vida que implora
Por mais vida,
De lágrima que chora
Por mais um dia
Apenas,
Que seja lhe dada
Rejuvenescida
O prazer de se ter
O retorno daquele que foi
Para longe dela,
Sob seus pés,
Embaixo da terra
Adormecer
E nas raízes do incógnito
Envelhecer sem tempo
Sem hora,
Aquele que partiu
Para a lágrima inatingível,
O soluço intangível,
Do amanhã inalcançável,
Para uma rosa que chora,
A Rosa tumular
Em silêncio sensível,
De um amor perecível,
Plantado em meio de trevas
A Rosa negra da morte
Em seu silêncio intraduzível
Desdobra-se a cada dia,
Em pedaços
Se transforma em agonia
Com os pés descalços
Cruza a tempestade dos sonhos
Atravessando os encontros
Rodeando-se de prantos
De buracos tantos, que no simples desespero
De se sentar para jantar
Expressa todo lirismo decadente
De suas pétalas envelhecidas
Em lágrimas no vaso
Recortada imagem
Da beleza raptada
Selvagem
E podada para o eterno
Na prisão de um apartamento
Desmoralizado convento de santos
No eco do pranto
Se desfez como o quadro
Morto de Siqueiros
Onde os bebês estão mortos
Onde o resto da humanidade
Definha-se na sucata humana do desespero
Na lágrima mundana de um enterro
Para todo o silêncio do mundo
Se manifestar
E sem possibilidade de resgate
Nos caninos dos vermes
Naufragar,
Esquecer
Morrer,
Talvez perecer antes do tempo
Mas que tempo?
Que esforço que não seja ilusão e tentativa
De Adiamento?
Mas para que?
Que Rosa tumular não nasceu para morrer,
E enfrentar seu enterro?
Rosa de Siqueiros
Num país de araras sem donos
E vozes em baías de coqueiros
Lamentáveis
Versos de desespero
Na Explosão da Cidade
Na Fúria da Tempestade
Perdeu essa Rosa um amor
Na indiferença cruel de uma troca
Do que não tem mais volta
Do que não fala
Do que não se diz
E mesmo assim todos escutam
A cada dia, a cada hora
No abandono constante da carne
Vulnerabilidade do corpo
Em deplorável doença
Pétalas de imunidade
Na imunodeficiência
Do amor sem resposta
A ida sem volta
Sem volta
Sem hora
A Rosa de Lenora
No umbral do silêncio imortal
Pergunta essa Rosa tumular
À ave atemporal
Que pousa em seu ombro
O eco do pranto
De todas as lágrimas de todos os corpos
Pergunta essa Rosa de Lenora
Para todos os corvos:
- Será dada uma chance?


E foi quando que a ave imortal
Ao olhar de relance
E enxergar o fatal
Desespero para fora
De seu alcance
Responde fraternal:
-Sim minha flor,
Será dada uma chance!


E mesmo mentindo
Calando sua dor,
A ave fingindo
Que ali estava, celestial
Lhe chora sorrindo
Encobrindo o temporal
E trazendo o romance
À Rosa de Siqueiros
No Eco do Pranto
E quando muito,
Minha flor, lhe digo somente:


-Descanse, descanse !!


E grito fremente
Para que prossigas sem aviltar
A pureza inerente
Para que eu afiance
Um resquício de alegria
Nesses olhos errantes
De trágica poesia
E temperamento inconstante
Mas por favor,
Rosa tumular
Não venhas mais me perguntar
Se será dada uma chance,
À mais infeliz das floras
No infinito banimento
Do tempo que arde sem hora
Da lembrança de ontem
Que irrompe no agora
Presa no abismo dos canteiros
Onde todas as almas
Perdem-se nos mesmos erros
E enterram-se
No mesmo desespero
Em lágrimas incontáveis dos dias
Que passam,
E passam,
Inabaláveis e serenos
E tudo é igual
Na serenata do silêncio
Tumular
Rosa da Terra
Enterra-se sem poder
Interromper o final
E tudo é igual
Com o gosto de terra na boca
Terminamos sem querer
O tempo sem hora
E talvez sem tempo
De amar
O silêncio em nós mesmos
Na Rosa de Lenora
Quando a ave imortal
Na cadência das horas
Sem aviso pousar
Junto ao silêncio
Que nos esquecemos de escutar
Sem mais tempo para amar
Na cadência das horas
Fora de alcance
Na voz de um grito
Quando a ave de Lenora
Trazendo em seu bico
A Rosa tumular,
E mais nenhuma chance...
Em silêncio nos dizendo, agora:

- Descanse,
...descanse!



Fernando Castro

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