terça-feira, 29 de junho de 2010

a Estrada

Era noite já avançada, eu de longe, em pensamentos vagos,
Via, um pouco embriagado, uma fumaça no fim da estrada!
Eu vi uma estrada, um tanto esfumaçada, para além de minha brisa sem fim!
Para os raios de uma tempestade de fantasmas no jardim,
Para brisa encharcado pelas gotas de teus olhos
Chorando loucuras e paranóias sem sentindo dentro do poço sem fundo que nos habita, que nos perfura...
dentro de mim!
Em noite avançada, pouco bêbado, perdido na estrada da vida
Estrada da madrugada, escondida e infinita, sem acostamento
Dirigindo sem rumo nas ruas tristes de um pensamento qualquer, um devaneio
Morrendo de saudades, e vontade de ligar,
Gritar seu nome no silêncio da escuridão
Repetidamente você, no perfume da noite, no cheiro do vazio,
Estagnada e previsível imagem depois de cada curva
Cada avanço de sinal,
Nessa estrada sem parada, e sem ninguém para atropelar
Asfalto do desespero
Do nada depois de ti
Já era noite avançada, e a chuva insistia em lembrar
que estava ausente
a capota, o teto de vidro, o brilho solar....
Tecnologia da ausência
O vidro era elétrico, a guitarra era elétrica, os raios, o contato, a ignição...
Seus beijos poderiam o ser com o certo batom, com a intensidade nos lábios
Mas esses se perdiam no velocímetro dos teus olhos,
que não mais mediam a velocidade para me encarar, para me ultrapassar e me deixar obsoleto...
para perturbar minhas mãos trêmulas no volante,
para me fazer esquecer de desviar do buraco!
Já era noite avançada, na estrada da vida da madrugada sem fim
Estrada esfumaçada, e névoa sem explicação, de sereno quase neve
Neblina como o véu que te protegia nas festas,
No brinde do combustível ideal
Não enxergava mais nada, mas sabia que a gasolina estava no final
O perigo morava no espelho,
Em retroceder
No amargo do retrovisor
Onde podia ver o seu reflexo,
Sua imagem sem gosto dançando atrás de mim, me seguindo
Me assombrando
Cantando os pneus de um conversível sem sentido
Cantando no camarim de um prostíbulo sem porta de saída
Perdido no fim do mundo, antes da curva do juízo final, do fim do juízo!
O perímetro da loucura era tão instável, que os freios já eram dúbios demais para trazerem segurança
Acabaram as pastilhas
O disco já estava arranhado
Ninguém mais ouviria o final da festa,
A viagem tinha acabado sem você
Já era noite avançada,
Chovia muito,
Apesar do Marlboro continuar a queimar
Vivo, forte, sem se esquecer de ser um vício, sem se esquecer de mim
A estrada estava esfumaçada,
Noite avançada
Visibilidade atordoante
Uma placa: cuidado animal na estrada!
Acabaram as pastilhas
Uma tentativa de freio
No impossível, no absoluto, no inevitável
Você estava lá
Um veado no meio da pista
Um último suspiro
Um acidente
Era noite avançada,
Quando meu coração parou de bater...


fcastro

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