sábado, 1 de maio de 2010

a lagarta na casca de nós

Uma lagarta morta, que escorre de minha pele em sua metamorfose dos amanhãs ainda não nascidos, dos dias felizes encobertos pelas mágoas e medos do ontem morto e passado, e que de tão distantemente próximos, secam o vale dos meus olhos túmidos de esperança pelas lágrimas de uma borboleta que nunca nasceu. De súbito, a vontade de morrer de novo se apodera de meu sangue e de cada célula que vibra em meus quereres e metas, e uma lucidez horrenda surge de meus pesadelos concretos numa gargalhada fantasmagórica. Estou precisamente no mesmo lugar onde sempre estive, e dessa constatação surge a agonia para o próximo passo, que nunca acontece, e morre a cada instante, de novo, se repetindo para sempre a cada dia que me resta, a cada nascer e morrer do sol, que me ilumina, apagando com sua luz, a pele que o tempo descasca de meu corpo, sendo eu nada mais do que a vida desprendendo-se de mim. Encaixotado pelo hábito de permanecer refletindo, na inação eterna, respiro a mediocridade que herdei como carne dessa lagarta que me abraça, e me faz respirar aquém de mim mesmo. Como um espelho que reflete uma melhor possibilidade de ser, e se quebra quando tento me apoderar da imagem. Inalcançavelmente perfeita, intocavelmente bela. O vidro estilhaça, e corta, e sangra. E os urros dos mortos continuam alucinando minha carne desprovida de alma na janela do outro mundo, na terra da fantasia, na alucinação infinita que colore minha realidade pequena com cores de desejos secretos, de habilidades e poderes que ainda não despertaram do mundo dos sonhos. Essa possibilidade de não ser permanece real em cada copo d’água, em cada bom dia disperso aos vícios que me dominam, em cada despedida de alguém que nunca mais volta. Perco totalmente a referência de quem sou, onde nada sinto, senão o completo retorno do nada triunfal e absoluto. Nada significa. Tudo sempre foi o mesmo, e a lagarta nunca foi a borboleta, e a borboleta, por mais que seu espelho pinte o contrário, nunca sequer mensura a possibilidade, em seu infinito vôo de liberdade infinita e poética, de ter sido uma rastejante, irrefletida lagarta.


Assim morre o homem, com asas que nunca existiram, mas sempre estiveram lá!

fecastro.... boa noite, borboletinha!....

4 comentários:

  1. Você entra e não me aceita na sua vida???
    PROFUNDA MÁGOA!!!
    como poderei te encontrar se nem seker deixa rastros???
    aff....
    bjuuus t+

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  2. ASSIM QUE NASCE UM HOMEM !!!
    DEIXANDO O RASTEJAR AO ATIRAR-SE NO VÔO PARA A LIBERDADE !!!

    PARABÉNS !!! CONFIO E ORGULHO-ME DE VOCÊ !!!
    MÃE MARGOT

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  3. Fe, ao analisar a metamorfose das borboletas do meu jardim pude perceber que não é incomum sairem dos casulos antes da hora, com asas que não funcionam, só atrapalham. Assim não são lagartas, nem borboetas. Para que tudo de certo, basta que na hora da lagarta, sejam lagartas, na hora do casulo sejam casulos, para que na hora da borboletas possam voar.

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  4. é exatamente esse o ponto!! estou super adorando esse seu momento de jardim! sera que encontramos alugumas lacraias tb ??

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