domingo, 23 de maio de 2010

O LAGO

Nesse dia invernal, de frio na espinha e calo nos ossos, esperando eterno estava eu,

A beira dessa laguna de fadas, de reflexo ameno, porém magistral, a pintura de um deus,

Ali, frente ao bosque, junto a aves que fogem do estio, estava eu, esperando o fim da história,

Com as lembranças passadas como um filme na memória, que sumia, sumia, e com o vento...

e seu sopro de lamento, fugia , fugia, de mim e de meus sofrimentos, sem ungüento, sem poder que pudesse me fazer crer, que espera nova não mudaria, o passado de pedra, no fundo do lago, que não mais voltaria!

Mas mesmo assim, atento ao inverno, continuaria eu, sempre esperando, se em vão ou não, já não importava, pois frente a esse lago, minha alma eu petrificava, nessa espera congelada em minha espinha, nesse mergulho abissal de minha sina, sem o calor de um afago, somente o frio exalado dos olhos do lago, que chorava, chorava, as lágrimas do meu passado, passado, no fundo das águas, afundado nos sonhos, imemoráveis, irretratáveis na superfície indelével desses olhos de lago, em mim espelhado, a dor de uma íris convexa de amor que para sempre se foi, e numa espera infinita, nunca mais voltou!

A espera maldita que tanto faz mau quisto o prazer do agora, que como as águas da laguna, em ocilação de dor e temperatura, evapora, e sem pressa, me consome as entranhas, tritura os ossos, engole as horas, o resto de vida que me devora, a todo instante, de fervor galopante, como o feitiço de um mago, a beira das águas, no precipício do lago, que tanto me olha, e chora, e chora, e diz sempre em toda espera, ao meu coração que se dilacera, que foi embora, embora, e não há mais tempo, não há mais lago,nem dor que caiba nas horas, que somem, somem, a beira das águas, ribeira do fim, não há mais cor, não há mais fada, não há mais amor, mais vida, não há mais nada...

Mas mesmo assim, nesse limítrofe infernal de inverno e estio, e loucura sem fim, numa prisão sentimental, que torna abissal o segundo em mim, que as barras sustenta dessas grades de ferro, sem esperança, afoito e cabal, ainda espero, espero, na ilusão otimista, um outro final, um outro momento além das horas, de poder autoral, que me dê o retorno que está fora, fora, de mim e do lago, que outrora, sem gelo, sorria sem medo, sempre mais cedo a meus olhos cortejar...

Até que então, nessa fatal ilusão, de vida sem hora, e alma sem degelo, ainda me encontro no escuro, de frente a um espelho, que trinca meu rosto, e na face me mostra, o tanto de dor que sobrepuja este amor, e prostra, prostra meu ser, que entregue a esse último tempo sem ar e sem saber, respira mortal, a certeza de nunca mais ter, ao longo dessa espera infinita de um lago perpétuo que em derreter demora, o que sobrou do amanhã, que nunca virá, e para meus braços gelados, despedaçados no lago, com vida voltar, e em mim repousar.!!

 E assim, morro sem tempo, sem hora, a espera da vida, que vive lá fora!


fernando castro.... ..... no inverno de todos nós.....!

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