quinta-feira, 20 de maio de 2010

AMORFINA

De repente, acordo, e percebo o frio que nos encobre
A sutileza fina de um dia,
Correndo fora de um quarto
A frieza de uma vacina,
Pesquisada longe de um parto
Que essa dor alivia,
Ou pelo menos,
Aliviar iria
Se ao menos
As hipóteses macabras
Não teimassem em sua sina
Diluindo um pensamento
Que tormento de faca
E seringa
Corta pulsos de cobre
No pavor da cirurgia!
De repente acordo, e percebo o frio que nos encobre
A lata de vidro que nos envolve
Fria
Fina
Metalicamente morta
Agulha que costura
Alma já torta
Pela doença sem cura
Mau que exorta
Raspas de preconceito
Escorrendo na parede
De um cemitério de vivos
De uma orquestra de majestosos
Ditadores
Que ditam as normas
E deliciam-se
Com as dores
Com o barulho dos ossos
Que se quebram ao se encaixar
No caixão da cultura
Na impossibilidade de cura
Na dormência da fala
Na marginalização da impostura
Vista como degelo
No lago milenar
Desse inverno de céticos
Que se fingem teólogos,
Mestres, e éticos!
Deus nosso do amor pintado de inferno
Se ao menos pudéssemos perceber,
O frio que nos encobre,
E além de perceber
Aquecer
Os corações e alma
E diluir
E retrair
E perquirir
Essa mentira escabrosa
Essa falsa vacina...
Se ao menos pudéssemos ler
O nosso próprio sangue
A nossa própria dor
Desmedida
Na parede de nossos quartos
Na veia de nossos braços
Na morte que escorre
Em cada singular abraço...
Se ao menos pudéssemos ver
O quando de distância
Existe entre o Eu e o Ser
Não precisaríamos mais injetar
A dose letal que nos impede de amar
E não perceber o frio que nos encobre
Do real amor
Em sintonia fina com a alma do corpo
Amor sem temor da calma dose
De vida e morfina
Que faz renascer
Em cada um que é um
A não necessidade
De somente um não ser!

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