quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Um MAR de ROSAS

Mar de rosas, de perfumes espalhados na ressaca de ondas belicosas, rosa bélica e vermelha, como o sangue desse mar de rosas, o sangue dos marinheiros fantasmas, dilacerado pelas bombas secretas de uma paixão nuclear, de uma explosão de ovários sanguinários no útero de uma prole chamada Terra.


No reflexo revolto dessas águas tão plácidas, o mar vermelho de lágrimas, lágrimas vermelhas que escorreram do nosso coração, e do abismo nascido dos últimos encontros, dos “nos vemos em breve” que viraram adeus, dos lenços de seda esvoaçando num fim de tarde de seus olhos de Criméia, onde todos os rostos estavam misturados como a água, caindo como as gotas de chuva chorada no infinito desse oceano de lamentações rosadas, e as pétalas, como as pálpebras delicadas dos soldados de farda e cetim, cobriam o restante do sol, apagado pela fumaça dos incineradores dos corpos de pais órfãos de filhos, e de filhos triturados pelas metralhadoras de orgasmos impolutos, as tais balas de metais não preciosos, e ao mesmo tempo, preciosos demais para se perderem na poesia da carne humana.

Mar de hibisco, de sorrisos mergulhados na profundidade oceânica do risco, do comportamento abissal de um grupo de anêmonas assassinas devoradoras de sonhos e gestações, um grupo de risco, de um comportamento transversal, transvisceral, transamérica de todas as longitudes, fazendo desse trópico de imperfeições um barbante de imaginação para se prender a calça frouxa sem cinto e sem pudor, do uniforme paramilitar, para quedas de mitos e raios nesse mar tropical de sangue latino e de alma universal. Para tudo, as bombas continuam caindo, mesmo depois das calças, e das ditaduras descalças, o demo drástico insiste em torturar as famílias do nosso amanhã: perdidas num iglu de fome e paranóia, bóiam suas carcaças nesse mar que não as deixa afundar! Ao menos se eu fosse uma onda, poderia então engolir esse desespero caudaloso, e me extinguir junto de todos os remorsos grudados na página de nossa história, mas infelizmente, muito além do pacífico, sua cova de águas rasas e tortuosas jamais me abandonará...

Mar de rosas rosadas,
Da casa de lágrimas,
Uma rosa de lágrima
Chora tatuada
Na alma pálida
Uma pele nostálgica
Rosa esquálida,
Chora o inverno
Magra e inválida
De um tempo eterno
Que despedaça
Numa tarde cálida
Pétalas de esperança
No teu rosto tão sereno,
Que chora em seu casulo,
Solitária,
Olhos de crisálida!


FernANDO CASTRO

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

ELEGIA ÀS AMIZADES DESCARTÁVEIS

Como num vale de lágrimas, a solidão dessa princesa se faz notar numa imensidão de olhos fechados.

Morte sem az, sem colher de pau roçando o fundo retal da panela, de pressão que chamam vida!

Mais nada lhe apraz, a não ser o mal chamando o mundo da janela, pela fugaz atenção de um suicida!

E assim se desfez as letras de um jornal no calor delinqüente de uma vela, no tesão genocida...

Sem lágrimas no peito, e com choro interminável em uma virilidade obcecada... lágrimas de espermicida, de sangue pintado de branco, mergulhado na transparência do invisível,,, do incurável...

Assim nasceu de novo o desconhecido, uma puta sem botas, e um gato de salto alto...

Assim viveu a pobre Cida, completamente embevecida numa luta já morta, perdida na Cidade, um assalto no asfalto... completamente enlouquecida

Total entorpecimento desses beijos de fel espalhados como bolhas de sabão,

O cimento contaminado dessa estrada cuja mão dupla beira o silêncio da solidão de um luto

Beira as beiradas de uma ribanceira cuja ribalta abriga a escuridão dos holofotes apagados, esquecidos no palco doentio da insanidade sanguínea, da imprevisibilidade casual, da metamorfose maldita!

E eu ainda luto

Os Ratos roeram a boca do rei de Roma, e os imperadores mergulhados em coma e delírio, se desmancham nos excessos da insatisfação inaudita, no injurídico, no inverídico, no irracional...

No indetectável de uma veia que percorre o lodo dos sanitários sem cura, dos lábios que escorrem a lágrima dos purgatórios de uma rua sem saída, dos pães na chapa do inferno, do último táxi sem volta depois da curva, onde os falsos carburadores de sangue lhe conduzem a uma injeção eletrônica, e sua alma é varrida pela fatalidade do depois de amanhã, do incondicional que lhe espreita na cama, do hospital que lhe espera no fim do dia, depois do enterro das suas últimas lágrimas nos travesseiros molhados dos tantos amigos que não choram por ti...

Que não choram, mas riem, riem e gozam, gozam quando o peixe, um tanto que frito, morre pela boca, morre pelo gozo...

Assim se desfez o amanhã, e assim se faz agora: Feliz Cidade!! uma vacina chamada Vida!


FERNANDO CASTRO

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

INVEJA

Inveja,

Incompetência de ser aquilo que se deseja, ou de se ter aquilo que quer…talvez o próprio abismo entre a ignorância das próprias possibilidades e o suposto sucesso que encontra-se no possível que desfila nos olhos do outro! Invejar é negar a si mesmo... Não sabe o que fazer de si, pobre crítico enamorado do brilho alheio, e prefere resmungar as piadas da própria existência nas entrelinhas ordinárias e mesquinhas de seu cotidiano medíocre e infeliz... o outro será sempre o alvo, e os dardos de seus olhos, flechas que nunca o alcançarão... pois ele somente é alvo para ti, querida menina das tiradas colocadas, das risadas de veneno, do sorriso de pedra e cetim, para ti e para aqueles que como ti, cracas da luz, sorriem com pele de camaleão e lábios de feitiço, e que devido ao próprio genoma de uma fraca composição, não possuem as bases para se suportarem em pé diante dum eventual confronto, em uma leal e direta acareação... Inveja, pobre de ti menina feia e bastarda, servente do obscuro e das intrigas que corroem a humanidade em seu bronze, ferrugem da vida, geralmente vem como amiga, e como amiga partirá, para invejar sempre mais, em outros campos de flores, em outros lares e em outros amores tantos, pois quem não tem muito a oferecer, não precisaria necessariamente sugar, bastaria pedir, bastaria olhar por outro lado o inimigo admirável que não existe, o venerável objeto de desejo, que não será nunca nada além dele mesmo...., mas infelizmente, quando esse desprovido de talento e amor próprio nasceu já picado pelas presas desse pecado tão capital, de todos o mais pecado, talvez o único real, então, nesse caso, que a beleza se afaste, pois nos olhos de cova rasa e cínica, toda beleza que está próxima e tangível, será sempre alvo irresistível de uma amarga, satírica, inconfessada crítica...



Quem bate?

É o frio!

Mas frio, tu não podes bater assim,

Pois você já bateu, em outra casa de alguma propaganda que não sou eu!

Mas como assim,

Insistes em bater, ó frio!

Não posso lhe deixar entrar,

Pare, não insistas... não poderei conter-me por muito tempo,

Estou passando mau de calor,

E queimo onde encosto, meus pés estão em chamas, meu carvalho está ardendo!!!

Quem ainda bate?

És tu, frio de rigoroso inverno, que mesmo assim não me gela,,,

És tu, para aplacar minha chama?

Ó frio, meu vizinho é soberbo, onipresente...assiste minha vida de binóculo!

Se entrares, irá me denunciar, dirá que plagiei o inverno

Dirá que já entrou em outra porta, e que em porta minha não entrará

Dirá qualquer coisa, qualquer coisa de ruim,

Mas certamente dirá...

Mesmo sem ter o que dizer, tadinho,

Pois ele mal sabe escrever,

Mas eu o conheço muito bem, amigo frio,

Ele dirá,

Pois então, não batas mais,

Vou morrer de calor, lhe sorrindo, lhe dizendo

“Não adianta bater, eu não deixo você entrar”




F.C.....

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

CANSAÇO

Cansaço,

Inegável sensação de abatimento quando o corpo não mais sorri para o instante que o depõem, quando os estímulos se embriagam na apatia, e a vontade passa a ser mera espectadora de uma inércia que mastiga impulsos e confunde a ação de ser e fazer-se ser!..dormência dos ossos acomodados numa cama de exaustão, de vitórias não mais preteridas, de dias coloridos pintados na tábua dos sonhos, e sonhados como o prêmio de que abrimos mão, quando entrega-se o jogo! Sim, mais do que o próprio corpo, a essência que nos move também cansa, e se derrete junto à angústia de se permanecer vivo, nos tornando condizentes com tudo que já está, com tudo da forma que é, nos decepando da qualidade de transformadores, e diluindo os guerreiros que moram em nós na lava das ordinárias e demoníacas respostas que partiram dos outros...


Cansei,
De ser qualquer coisa menos Eu
Não posso dizer que não sei,
Não posso dizer é meu
Muito menos que me libertei
Cansei de ser os olhos que são tão teus!

Errei,
De pasmar nas noites dos luares de sonhos
E cantilenas sorridentes
Daqueles que lavaram as mágoas
Dos meus tempos de adolescente
Dos meus traumas de adulto fantasma
De pobre indigente

Cansei uma vez mais
De ouvir vazio nas paredes sombrias de casa
De não ter casa nas paredes,
De não ter paredes nos tijolos
E não ver os pássaros soltos com asas
De se afogar nas águas de tanta sede
Chorando sozinho, perdido num colo
Errando o caminho
Das balas perdidas
Estourando as bolhas do champanhe
E as taças nos miolos...

Cansei,
de não dizer nada,
e calar as mentiras tantas
que como batom
passam em minha boca!
E como crepom
Se desfazem loucas,
Desmanchando-se nos refúgios de óculos escuros
Nos guarda-roupas
Dos tantos apartamentos
Dos juízes obscuros
Que sentenciam embriagados
Com as narinas manchadas
Escorrendo argamassa a cerca dos muros
E respirando ironias de inverno
Que nos fazem sentir o frio de seus ossos
E ficar inseguros!

Cansei,
de dormir sem o alívio da sua respiração
e de me sentir aliviado
quando aplacas minha solidão

Cansei,
De morrer sozinho,
E de viver com todos aqueles que não estão

Cansei de depender de tanto amor
E de tanto saber
Do sofrimento que me torna impotente
Se não olhas pra mim,
Se não cuidas daquilo que não quer se deixar cuidar
Se não amas aquele que finge ser só
Mas de alma só clama
Esses olhos do amor
Que nunca cansa de dar...

Amei...
 
 
Fernando
 Castro

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Em um movimento apenas...

A dor,

Inconcebível metafísica da existência essa dor que não se sente na carne!, mas sangra pensamentos, e arde na mente, na culpa de não ter feito, ou de ter feito, exatamente aquilo que conduziu a inexperiência do desejo almejado, ou a vivência da conseqüência funesta, jamais pretendida... ganha-se momentos de suplício numa realidade que se transforma em castigo perante o sensível de nossos sentidos, ou perde-se o último e fatídico querer, que indubitavelmente, não acontecerá jamais...pelo menos não do jeito que já poderia ter acontecido!, e sendo assim, dormimos sabendo que o tínhamos nas mãos, mas por um espasmo,continuamos, para sempre, irremediavelmente sozinhos!


Em um movimento apenas,
O corte do amanhã,
A inexorável lâmina desse Sol poente de trevas,
E iluminado por um fogo que devora o tempo,
E mais que a carne,
Queima uma alma disposta a viver para sempre!

Em um movimento apenas,
Abrimos os olhos,
Respiramos o amanhecer, o inequívoco e contínuo instante
Despejamos uma lágrima no mundo,
Incontida, impensada, involuntária...
Lágrima esta,
Que uma vez chorada,
Para sempre irretratável!

Em um movimento apenas,
Amamos para o resto da vida,
E sofremos sem perceber,
Cada grande fracasso de cada grande amor desvanecido no tempo,
Desconstruído, desfeito em poeira nas lembranças,
E em saudades
No inalcançável retrato do passado!

Em um movimento apenas,
Sentimos a onipotência,
O titânio inquebrantável da imperiosa individualidade moderna,
Fibras de aço em nossas veias de papel,
Que dispensam toda essa nostalgia babaca e romântica,
E nos torna algo para o além do próprio amanhã,
Algo que nem nós mesmo conseguimos,
De fato,
Compreender!

Em um movimento apenas,
Podemos abrir um sorriso ou acenar um adeus,
Expressar uma alegria, ou admitir uma tristeza,
Convidar para sair...ou para entrar, e a nos pertencer,
Sem perguntar, sem ter que saber o porque!

Em um movimento apenas,
Podemos confiar,
Podemos ser,
Uma cor,
Uma dor, talvez....
Uma sonata, em um movimento apenas,
Podemos ser infinito,
E amar sem nem ter pra que...
Em um movimento apenas,
Podemos morrer,
De amor,
De tanto viver,

Mas em um movimento apenas,
Em um único movimento,
Podemos apagar uma vida inteira
De tanto esquecer,
De tanto fingir não perceber
De tanto secar com a indiferença de um olhar
A verdade de uma linda vista,
Que simplesmente existe,
E não pediu pra morrer!

Em um movimento apenas...

 
Fernando Castro

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

LÁGRIMAS

Vazio
Sou lágrima que escorre no nada
No sombrio
Sou lágrima chorada
Poeiras de lágrimas
Sou decorrente da morte
Morte lacrimejada
Sou pequeno e simplório
Oferenda pros mortos
Sou berçário em dia de velório
Sem nome ou registro
Sou lágrima de morte
Sinistro
O que não se fala
O que não volta mais
Sou passado pra sempre
Na dor do agora
Nos dias de lagrimas
Que choram pelos ponteiros
Lágrimas de hora
Sou dor das saudades
Que a vida nos traz
Sou lágrima de mortos
E dos corpos
Que se foram embora
E não voltam jamais

Vazio
sou lágrima que escorre do coração
febril
sou lágrima de rocha
vulcânica
da peste em erupção
lágrimas de fogo
que choram a dor acesa de um vulcão
ardendo de incerteza
sou certo e inevitável
lágrimas da beleza
que apodrece miserável
no irremediável
perecível ventre da mãe
natureza
sou lágrima sine qua non
da tortura do pó
no saco da esperança
o que não se respira
o que não se cansa
o paradoxo
de ser um velho criança
na garganta um nó
sou lágrima do tempo
que escorre dos olhos
da morte de um só



Fernando Castro

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

“PAPE SATAN, PAPE SATAN ALEPPE”

Resta-me o vício
A dor de teu parto
Sou a morte ao quadrado
O beijo e o feitiço
Resta-me o vício
O velho que enfarto
O rosto de Cristo
Sou o seu sacrifício
Do seu mal
Sou o início
Os pedaços de Céu
Recortados de grade
O duplo da foice
O sol crueldade
No beijo demoníaco
Sou a prata e colher
O doce amoníaco
Sou um homem mulher
No orgasmo da flor
No Sexo lírico
Sou o que resta nos bares
Tijolos e garrafas
E os pratos nos jantares
Das santas casas tantas
Que rezam meus pesares
De joelhos em seus filhos
Do seu mal
Sou o início
Ainda resta-me o suor
Resta-me o vício
Da euforia ao redor
Resta-me seu corpo
Desnudo de amor
Sou atemporal
O tapete de averno
Sou coringa infernal
Resta-me o inferno
A santa ceia
Resta-me a dor
Saltando na veia
O sangue no quarto
Que escorre da cama
Resta-me o vício
E a lama,
A lama...

fernando castro

VENTO

Vento,
rasga as minhas vergonhas,
E assopra meus vícios e fraquezas
Para os campos do norte, para lá das montanhas!

Esconde a poeira dos meus pergaminhos
E arrasta os meus mortos,
Que ainda falam comigo
Quando ainda me importo,
Para fora de casa, para fora do ninho!

Apruma as tantas velas nos portos
Dos vizinhos perdidos na beira do cais
E recolhe a lança desses meus inimigos
Que fazem das minhas noites inocentes
Belos Amantes infernais!

Vento,
Lágrima de ar na corrente do dia...
No decair de uma tarde,
Que escorre pela face do espaço
E que arde no frio da pele mais que fria
Socorre os meus lamentos,
E cante para longe as dores e os prantos
Que postos aos olhos tortos dos santos
Já não tem mais ungüento,
E que no peito dói tanto,,,
tanto,
que invento
que lhe tenho ao meu lado
a qualquer instante,
a qualquer momento!

Ausência e loucura
Que fazem a luz do Sol ser tormento
Um brilho que queima os olhos
Mofados e cegos numa sala escura
Não enxergam mais teus braços
Onipotente Vento,
Não enxergam mais teus passos
E fazem palhaço chorar no teatro
Na fama tão loira
No peito um inchaço...
Fazem os ponteiros voltarem ao atraso
No simples contratempo
Do perdão que desfaço
Do amor indizível
Transformado em fracasso

Ó Vento,
Por que nos perdemos?
No tempo, no espaço?
No espaço do tempo
No terror do descompasso
Por que esquecemos
Do tempo que vivemos?
Por que me desgraço?
Por que a febre nos ossos?

Em Tempos modernos
De amores insinceros
De homens devassos
Por que não venero
O seu corpo tão lasso
De luta e de sangue
Tua fibra e teu aço?
Por que ao seu lado
Sempre o mesmo cansaço?

Vento,
Já não tenho mais tempo
De tentar curar
A infecção no pensamento
Já não tenho mais nada
Para amanhã no esquecimento
Me lembrar de assoprar
A vela que nos arde
Em cruel banimento
Para nunca mais voltar
A ser talento... numa alma
Que não seja nada mais
Do que puro e lento
Eterno, incontroverso

Falecimento!


Fernando Castro

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Corpo Manchado

Prometi as verdades por tantos caminhos
Mas não cumpri nem metade
E me vejo sozinho!

Senti os seus pecados com todo carinho
Se mudou de cidade
Arrasou meus moinhos!

Hoje sou rei de minha solidão
E do teu rosto tão caro
Me resta uma face que não me desce o perdão!

Atravesso o tempo com uma faca sem corte
E no sangue um veneno
Com gosto de morte

Meu corpo manchado
Estou preso em você,
Meu rosto marcado
Estou indo a mercê

De seus passos passados
Rompi nossos laços
Trai seus projetos
Mandei tudo pro espaço

Prometi as verdades por tantos caminhos
Mas não cumpri nem metade
E me vejo sozinho!

Senti o seu fado com todo sorriso
Mas não sorri com coragem
E me vejo perdido

E se hoje definho,
Meu corpo manchado
De mágoas e vinho
Sei que não posso
Nadar em seu mar
Sem estrelas, sem cores,
Sem golfinhos...

Sei que não posso
Sentir seu carinho
Meu corpo manchado
Na rosa da morte
Meu sangue marcado
Pelo corte do espinho

Sei que não posso
Viver ao seu lado
Trilhar seu caminho
Meu corpo manchado
Não cumpri nem metade
E me vejo sozinho!

Fernando Castro

domingo, 1 de agosto de 2010

Homens de Antenas

Homens da noite, do pecado de um só
Homens em quarentena
De cidade pequena,
Que amam sem medo, e choram sem dó!

Varrem minhas lágrimas
Em noite tão serena
Onde estrelas tão terrenas
Viram lágrimas em pó!

Homens do lado de lá
Da alma que acena
Pro amanhã que virá
No cheiro de noite diluído ao redor!

Homens da cidade, tão pequena
Sempre ligados, de antenas!
Saem de cena, quando os astros vão brilhar
Despindo o manto desses olhos de Iracema
Perfume alfazema nessa noite serena
Onde olhos maduros
Nos homens escuros
Sem estrelas vão brilhar

Homens da noite, do pecado de um só
Homens em quarentena
De cidade pequena,
Que amam sem medo, e choram sem dó!

Homens da cena
De antenas
Perorando no bilhar
Com bolas de faísca e fumo
Na ponta dos dedos
Um taco, e uma noite, pequena
Desses homens em quarentena
Mirando em meus olhos
Escuros
De cena
Jogam seguros, com tato
E no momento exato,
Uma tacada,
Amena
Em olhos que jogam bilhar
Nessa noite sem estrelas
Que dói e condena
Esses homens de cor...obscena,
Morena
Que não sabem amar!

Homens da noite em quarentena
Que jogam sem dó
Um tiro certeiro
Na alma terrena
Desses homens da noite
Desse homem tão só!

de fernando p/ chico buarque, p/ a., p/ g., p/...  etc!

Intermezzo contínuo

Vazio, no gosto do itervalo…Sombrio,
Pressinto esquecimento nas palavras que te falo...
No gosto das horas passadas,
No tempo das noites sem horas...
Desaparecimento,,
Pressinto sofrimento nas palavras que te calo...
Envelhecer a cada momento de desperdício
No vício de perder o tempo agora,
E deixar amanhã ser algo
Para se desejar e lembrar
A cada instante hoje
Quando sabemos não ter
Em nosso travesseiro...Vazio
O desejo que queremos...
A todo instante, a qualquer hora!!!

sexta-feira, 30 de julho de 2010

Fantasmamor..te !

Para além da voz, escuto sonâmbulo,
Os passos do seu canto,
Que me acordam desse sonho sem cor,
Me abraçam com encanto,
Com pílulas que me aliviam da dor!!!
Sim, este é o seu formato,
Uma silhueta em paixão ardendo no fundo do quarto
Este é o vazio que me deixa
Quando não encontro teu rosto no retrato!
Quando não sinto do perfume de teus lábios
O mínimo do substrato
Que preciso para me manter acordado!

Vivo esse complexo vestígio de sensações amontoadas no peito
Que se juntam cada vez que parte
Deixando meu ar rarefeito,
Por mais que eu trate de enxugar
O vazio nas lágrimas desse olhar desfeito,
Desse triste pensar sem nada esperar de ti,
Meu fantasma de volúpia e coração,
Não consigo conter...
Deixe comigo ao menos
O imperfeito
A sensação de lhe ter molhado nos lábios
O respiro último de um beijo
O gosto da mentira e seu efeito
A qualquer hora ,
A qualquer tempo!
Parta sem dizer adeus,
Mas não leve essa ficção embora
A ilusão do rosto no retrato
A paixao imortal e sua morte
No teatro de nós dois,
Na fantasia de um só...
Isso me acolhe na profundidade de uma lembrança
Uma única e delicada lembrança
Onde os teus olhos são o infinito
E o mundo todo ao redor
Onde o pressentimento de tua candura
É a morfina de uma alma rachada pela falta de misericórdia
Presa numa doença que não tem cura...
Numa prece que não se jura...
Numa dor que perdura..
E a carne perfura, cândida e cruel, sem lisura, sem respeito..
Numa pobre e triste
Imutável
Loucura....

Sangue que empreda nas veias
Falta de ar que se aproxima com sua presença
A pedra de teus olhos quando me odeia
Áspera, gélida, dura...
Quando me mira
Me dando uma surra
De palavras feitas de lâminas
E sorrisos feitos de uma ironia ácida
Que corroem a pele que ainda me cobre
E me guarda de ti,
Meu fantasma de volúpia e coração,
O beijo cáustico que me dás, e me faz mau
Arrasta meu corpo para o lixo, para a sobra,
Para o que restou pro final da noite sem aurora
Sem redenção...
Sem perdão e sem volta,
Pois eu sou um ponto navalhado e perdido
E tu, a magnitude do Caos

Eis que morro no começo de tua transcendência
No fim de teus antepassados,
E no meio de teus braços...
No teu coração!


Fernando Castro

Jura

Sem mais tempo, me despeço desses maxilares de força,

E deixo ir comigo o resto do desejo que ainda morde teus lábios,

Desacostumando meus pensamentos a se manterem longe de você!

Assim, digo que não basta apenas um toque, quando sentimos todo o resto...

Não basta uma ausência na espera de uma iniciativa, quando não se esta lá para se iniciar alguma coisa, quando se finge que não esta...

Já mais que uma vez estive lá, no lado que você julgasse mais próximo de você, e mesmo assim, estando aqui, se coloca sempre do outro lado...

Quebramos a mesma taça, e respiramos do mesmo calabouço os vestígios de lágrimas e gritos que sufocamos ao impedir esse beijo... esse último e derradeiro beijo na despedida de um sonho que sempre retorna, mas nunca se conclui,... um sonho que nunca deixa de ser um sonho!,

Isso é a sua face sorrindo pra mim no instante de um desespero onde você não está lá, onde sinto perplexo o corte da sua ausência em minha pele, e os tragos de solidão em cada cigarro que fumo somente para enxergar seu rosto na fumaça...

Isso é você vestido de noite, intacto, impenetrável, intocado pelos gestos de meus olhos, pela música de meus lábios,, isso é o que sinto cada vez que nos despedimos sem o corpo, sem fala, sem razão...

Mais que uma vez estive próximo dessa miragem de suor e felicidade, e mesmo assim, não alcancei a poesia com as mãos, não encostei o infinito com os olhos para poder chorar as lágrimas da eternidade,,,,

Não existe o para sempre onde poderíamos viver esse único instante, não existe calma,, não existe retorno sem dor... a pedra que empurramos, e que cai, que rola...somente para ser empurrada de novo! Somente para fingir a vida no túmulo de um coração sem voz... rouco de tanto falar... de tanto dizer... não da mais para esconder..! não da mais para não sentir...não da mais pra segurar...

Se não morre-se de amor, morre-se de desamor... todos os dias eu morro na cilada dos teus movimentos,, morro seguindo sua pista...! uma pista que não me livra da dor, que não me leva a você...

me perdi no caminho, me perdi em seus olhos, cegos, sem escutar a música que te segue , como uma cauda de um cometa feito de paixão....

Acabaram-se as chances de viver de novo..., de anoitecer sem solidão...Acabaram-se as fichas... apagaram os números dos dados, Abaixaram o volume do som,... acenderam a luz....

Sem mais ter o que pensar, dizer, ou sentir...

Retornamos para o final, onde tudo começou...

A festa acabou,

Sem ao menos,

Eu te dizer o quanto

Preciso te dizer...

Adeus!

 
fernando castro

sábado, 24 de julho de 2010

Noite de Pedra

Uma noite de vício rasga o silêncio,
Grito de fome e desespero
Um sonho vira pesadelo
Em noite de fatos fora do quarto
Em silêncio de palavras
Que abrem o peito
E sangram um infarto
Na boca do lixo,
No silêncio do asfalto!

É assim que se despediu de mim
Com um passaporte nos olhos
De ida pro lugar que alguns
Chamam fim
E de volta pra um lar
Que outros chamam
Jardim!

É assim que sorriu pra mim
Tirando um sarro
Numa mão
Um copo trincado
De whisky sem gelo
barato
Na outra,
trêmula
Um cigarro,
Quase apagado,
Sinistro,
uma Boca no filtro!

Raspas de batom
Restos de som
Que ainda estremecem a cabeça
Dentro
Restos de vozes
Sem timbre, sem tonos
Perdidas e ecoadas
Pelas ruas do Centro

É assim que renasce a morte em nossos desejos
No desespero de uma noite
Sem possibilidade de recomeço
É assim que nos perdemos fácil nos repetidos erros
No intervalo de horas
Que fazem o pó amargo que somos virar gesso

Por que não mais um drink?
Para calar a angústia enquanto bebemos
Molhando o que sobrou de ironia
Na madrugada que se extingue
E devora os ossos da energia
Que ainda temos
Enquanto que com olheiras
que falam
Vivemos empedrados,
e continuaremos vivendo
Para além do dia
Nos restos da noite
Acordada em nós mesmos


fecastro

sexta-feira, 16 de julho de 2010

O Estrangeiro

Quem sou eu?
Andando sem sono pela madrugada
Atravessando os antros das badaladas
Fumando cachimbo com o fumo das fadas

Quem sou eu?
Sumindo de dia pelas mesas de bares
Corrompendo a honra de todos os lares
Envenenando os pratos de todos jantares

Quem sou eu?
Provando o amargo de cada licor
Brincando com as cores de cada flor
Tirando a roupa em cada pudor

Sou um pouco de tudo,
Ou não sou nada?
Sou uma terra erma e vazia
Ou uma floresta encantada?
Sou a mentira irrecusável
O desejo insaciável
Ou a doença sem cura?
Sou a morte cega
O vicio e a loucura
Será que sou a fissura
Do delinqüente?
O medo sem carne
Aparente....
A carta que falta
De uma última canastra
O doce coringa
O líquido incerto
Um perfume ou uma seringa?
Sou o louco doente
Será que sou ego,
Perturbado e indecente?
O suor etílico que escorre na farra
O sangue vermelho que não se narra
Estava perdido no coração de um inferno
Sou o frio que transcorre da morte no inverno
Quem sou eu?
Será que sou o que sou?
A pura falta de censura
Delicadeza esticada na mesa
A pura brancura
Sou todo incerteza
Balada de mephisto
Em suas notas mais escuras
Sou a contra mão gangrenada
Na torturada ditadura
O corte e a impostura,
Da carne mutilada
Rasgada e vexada
O olho mágico
Atrás da fechadura
Quem sou eu?
No gozo supremo
O Estado Maior
Do vinho terreno,
Em corpos sem nexo
Sou o cheiro e o suor
Da pele e do sexo

Sinto que sou todo esse descompasso
A moral em putrefação
Sinto que sou toda essa vida em orgia
Deliberada compulsão
Sou certo e errado
Sou querido e odiado
Sou tudo que não cabe em mim
Sou goles de perversão com
Azeitonas e gin
O canudo de prata
Sou mais do que o fim
Quem sou eu?
Que bala me mata?
Posso ser o cão
Na augusta consolação
De incesto da noite para com o dia
Da mãe com seu irmão
Sou Hipólito desossado
Pelo amor que ele não sentia
A falta de lógica
Um estupro e seu perdão
Sou a total ligação
Da cruz de madeira
E sua satânica inversão
Nos lábios de Fausto
A voz da decadência
O descontrole de Dido
Devorada pela paixão


Quem eu sou?
Nesse mundo sem respostas
De quem sou ?
Nessa terra sem dono
O que sou?
Nessa translúcida realidade
Quem sou eu,
Além do começo
de um outro dia condenado
a sumir na eternidade?
Além do esquecimento
inventado para memória
dormir em liberdade?
Além de mim mesmo...
E Todos, de verdade?





fernando Castro Castro Castro Castr...Cast..Cas...Ca...C.....

fernando castro

terça-feira, 13 de julho de 2010

J.S.

O mago das palavaras,
Cego de amor em cataratas
De águas e versos que escorrem no infinito
Por suas páginas desenterradas
Da terra dos romances
Da poesia letrada
Eis que surge um mito que escrevia lendas,
Eis que nasce uma fenda na história
Que sangra agora,,
E te abraça na memória
Das palavras, o mago
Dos lagos de frases
Dos rios de sentenças
Chegou sua vez
De ir para o depois
Da alma e do solo português
Eis que se fez
Um marco na inteligência
E na reminiscência do mundo
Que chora tua ausência
E sente
Seu corpo docente
Em palavra dolente
Ir se embora
Inigualável mago
silente
Mago das palavras,
Da sensatez das concordâncias
Do verso português
O mago
Em todo absoluto
Adeus irmão,
José Saramago !!!


Fernando J C...

Uma árvore de noz

Estou amarrado nos nosso próprios sonhos,
Não sei ao certo, mas parece que ainda espero você
Desci das estrelas na última vez que nos vimos, mas agora elas estão tao desertas
Nem brilham mais, apagaram o céu...
Os pontos estão escuros, como seus olhos
Negros,
Negro como o meu sangue, que escorre pela agulha cravada no seu disco,
Fico assim, um pouco mais surdo
Quando sua guitarra atormenta meus pensamentos
Não consigo dormir
Tremo de amor
E solidão
Estou preso em mim, sozinho em meus medos
Em nossa incerteza,
Será que teremos outra chance?
Me disseram que você não está com ninguém
Seu cigarro ainda esfumaça meu quarto
Me disseram que você tem medo mim
Quero mais que cinzas...quero a brasa viva de teus olhos,
Sua delicadeza de artista preenchendo os meus jantares
Quero provar que pode ser muito mais do que pensa
Só basta dizer sim
Sim
A vida te pede isso,
Para se bastar em mim,,,
Nunca irá saber se calar essa boca,
E engolir essa voz que pede para ser arrancada das suas entranhas
Esta tudo ai
Escuta, e diga se estou louco
Só sei que não irei dormir
Para ouvir você dizer que também acha pouco
Para ouvir tua música chorar
O amor que esconde em teus olhos
Que guardou para me dar...

FeC. p/...

Madame Enila

Ela ainda era velha, e permaneceria em silêncio para o resto dos seus dias. Isso não mudaria quase nada daquilo que sempre foi, um simulacro de paixão, silencioso, um coração em cima da mesa de jantar que se esquece de bater. O sangue ainda jorra pelo lado esquerdo de seu rosto, manchando um pouco mais maculado corpo com os vestígios de um desespero que não se encaixa na vida. Viver era sofrer, e a cada tilintar das horas seus olhos secavam ainda mais, por mais que insistisse em sorrir, em sua face uma cicatriz de tristeza já havia paralizado seus músculos, e a pele como pedra, trincava, fazendo sulcos e trincheiras em sua palidez facial. Seu nome era Enila, Madame Enila, assim gostava de ser chamada por seus alunos, assim seria lembrada nas horas escuras do dia, nos intervalos hostis das aulas ministradas com rancor e frustração, por não ter, como aqueles alunos, continuado a perseguir a vida em todas as possíveis formas de existir e transgredir. Não sabia perdoar, e fazia questão de envenenar o ambiente exalando esse forte perfume misto entre convulsão e crítica mordaz. Suas palavras atemorizavam os pequenos estudantes, que muito não sabiam do poder infausto da vida e seus abismos. Eram jovens, queriam sol e música, queriam cantar com os amigos e nadar no mar, queriam não ficar de recuperação em pleno verão, queriam sorrir. Madame Enila não podia compreender a felicidade contida no sol, talvez por nunca ter olhado para ele sem óculos escuros, talvez por nunca ter pensando que ele é imprescindível para nossa existência. Sua maior companhia era um gato preto, vivo, e um outro branco, empalhado. Sua consciência mórbida das coisas chegava ultrapassar os labirintos da imaginação e se projetava tão pugnazmente na realidade, que chegava ao ponto de chocá-la. Seu figurino também era preto, roupas de tule negro misturados com xales e linho faziam dessa senhora um ponto exótico no meio do fim do mundo. Pouco restava dos seus dentes, amargurados pela falta do riso, e pelo excesso de censuras. Seus lábios recortados equiparavam-se a aridez de um tapete de caatinga, no auge da seca, onde apenas abutres e roedores escolhiam a cena para desfilar. Não chovia em seu olhos há mais de década, e a rigidez de todo o seu caráter jamais permitiu com que Madame chorasse. Pobrezinha, ainda acreditava que sempre foi justa, e estava a cima do comum, da causa ordinária; acreditava que devia-se ter uma causa, apesar de nunca ter ficado muito claro pra ela qual fosse. Impecavelmente pontual, fazia da engrenagem de um carrilhão competidor iniciante, pois estava sempre mais pontual que o próprio relógio. Cobrava essa sublime perfeição de cada um a sua volta, e fazia seus alunos perderem quantas viagens quanto necessário para aprenderem robotizarem seus hábitos. Considerava seu fanatismo como sendo classe e etiqueta, e adorava dar aulas sobre como se portar em todos os lugares, nas mais diversas situações. Tinha resposta para tudo, e de tudo certa estava que seu ponto de vista era incorrigível. Apesar de não sorrir, conseguia sarcasticamente distribuir conselhos e lições de moral. Era impagável, Madame Enila, em todo seu linguajar, em toda sua robustez, jamais se viu professora como essa nos confins da humanidade. Ossos a flor da pele rasgavam o quase nada de carne que cobria o quase nada de vida, guardado por uma magreza gélida o suficientemente azul para delinear os limites de um necrotério em suas entranhas semi vivas. Uma clara antecipação da morte. Uma negação da vida.

O sol tinha ainda mau se declarado nesse dia de despedida. O cinza e a palidez do amanhecer escondiam o aviso fúnebre que chegaria de imprevisto. Por alguma falha ou precisão, seu despertador não tocara aquela manhã, e seus olhos se acostumaram a permanecer fechados sem ele. Pela primeira vez em anos de docência chegaria atrasada. Isso seria por demais indecente. Teria que abrir mão do mingau com aveia de todos os dias. Apesar de morar a algumas quadras da escola, essas quadras teriam que ser percorridas, e suas pernas já não eram tão lépidas quanto nos dias de sua mocidade, de sua interrompida volúpia. Ainda bem que não usava maquiagem ou perfume, pois não haveria de perder tempo com essas bobagens. Naquele mesmo dia, outro despertador havia se atrasado. Diabólica coinscidência. Um de seus alunos já enfrentava o desespero, frente a pavor imposto por Madame Enila aqueles que não se mostrassem presentes nos primeiros 5 minutos de sua permanência em sala. A mãe do menino fazia de tudo para aliviar o fardo do filho, pois mais do que ciente, já estava cansada desse temor infundido pela professora as crianças. Tinha tido algumas poucas palavras com ela a dois anos atrás quando o menino não fora considerado apto o suficiente para passar de ano. Poucas e suficientes palavras para a mãe reconhecer sua impotência frente a amargura inamovível de Madame Enila, e amaldiçoar aquela velha bruxa por sua intransigência. Era uma mulher de decisões irreformáveis. “Vaca, tomara que morra!” Não deixaria seu pequeno ser humilhado de novo, ser impedido de assistir a aula, carregar mais uma falta por falha técnica do seu despertador impreciso. Não, isso não iria acontecer, nem que para isso fosse preciso atravessar um farol vermelho. E foi justamente a 10 metros do colégio, que os espíritos do passado levantaram das tumbas que guardam os destinos e as desgraças humanas para cantarem o hino da maldição atemporal, aquela apta a devorar seus pedaços em qualquer lugar da linha do tempo. Abria-se o túmulo de Pandora onde dormem as Eríneas vingadoras. A professora ofegante em sua pressa, estava mais distraída do que nunca, e só enxergaria o mundo de novo quando atingindo seu destino final. O farol de fato estava vermelho. A mãe não teve tempo de brecar, e confesso que sentiu uma certa satisfação pessoal inconsciente. Nunca esqueceria aquele rosto, esmagado no seu pára-brisa estraçalhado. Madame teve tempo de uma última olhada para dentro do carro, para os olhos daquela mãe que reconhecia atrás do volante. Pura ironia, lembrou que na ocasião a recebeu na porta, e nem ofereceu um café! Um barulho de pneu rasgando o asfalto assustava os pássaros. Agudo. Vermelho. O cemitério local ganhou mais um pouco de adubo, e as aulas estavam suspensas até segunda ordem.

fernando
castro

sábado, 10 de julho de 2010

2o. Turno

As ruas ainda escuras, os muros delinquentes derretiam os tijolos
Argamassa espacial, para rechear as cartilagens e as plásticas
Das crianças sem colo,
Sem cloro, sem vida
Beijos de abutres podres em clorofila
Rasgam as carnes dos amantes em pedofilia
E fazem politicagem de garagem com
Ouro em pó e alquimia
Acento retal numa acústica sem precedentes
Fazem os bebês nascerem doentes
Gravatas umbilicais e orçamentos de fézes
Pura licitação sem o brinde da libação
Apenas o silêncio da catequese
Onde sem gospel ou soul
Beijam-se meninos depois da missa
Ao som de ave Maria e rock n roll
Assim fizeram com cristo
Castrando sua virilidade
Assim farão com todos os que vêem
Com peito de aço e verdade
Num formigueiro de ratos
Arrota-se penas de anjos
Veste-se com plumas
E cheira-se os paetês...
Contra o giz dos fatos
Escrevemos antes que suma
O que restou de lucidez...

fc

sexta-feira, 9 de julho de 2010

loja de conveniência

Que horas sao?

Nao sobrou muito mais para dar,
Talvez você pense que nunca lhe dei nada,
Mas talvêz seus olhos nunca estavam la para olhar...
Eu sei que pensa que sempre enxergou meus defeitos
Mas onde está seu coração nesse seu mundo perfeito?
Talvez não tenha visto o meu sangue!
Mas o meu até logo já te fez corar de paixão
Que horas são?
Ainda sobrou um minuto para um último vexame?
Talvêz voce ainda precise pedir perdão!
Quem é você para julgar?
Apenas com um relógio, sem pulso!
Quem nunca subiu em cima de uma mesa de bar?
Quem é voce para não amar?
Não sei se realmente sobrou algo para oferecer
Ou algo para você sugar
Sei que perdi as horas
E já não tenho mais tempo para contar
Tudo pode ainda acontecer
Mas quem se importa,
Quando a felicidade está morta
Um abraço na sua alma vazia,
Que sempre estava lá,
Quando ainda havia restos de alegria
Para te alimentar
Que horas são?
Acabaram-se as bebidas,
Talvez não tenha mesmo mais nada a oferecer
Quem sabe numa esquina...
É hora de se deitar!!

fernando castro