Vento,
rasga as minhas vergonhas,
E assopra meus vícios e fraquezas
Para os campos do norte, para lá das montanhas!
Esconde a poeira dos meus pergaminhos
E arrasta os meus mortos,
Que ainda falam comigo
Quando ainda me importo,
Para fora de casa, para fora do ninho!
Apruma as tantas velas nos portos
Dos vizinhos perdidos na beira do cais
E recolhe a lança desses meus inimigos
Que fazem das minhas noites inocentes
Belos Amantes infernais!
Vento,
Lágrima de ar na corrente do dia...
No decair de uma tarde,
Que escorre pela face do espaço
E que arde no frio da pele mais que fria
Socorre os meus lamentos,
E cante para longe as dores e os prantos
Que postos aos olhos tortos dos santos
Já não tem mais ungüento,
E que no peito dói tanto,,,
tanto,
que invento
que lhe tenho ao meu lado
a qualquer instante,
a qualquer momento!
Ausência e loucura
Que fazem a luz do Sol ser tormento
Um brilho que queima os olhos
Mofados e cegos numa sala escura
Não enxergam mais teus braços
Onipotente Vento,
Não enxergam mais teus passos
E fazem palhaço chorar no teatro
Na fama tão loira
No peito um inchaço...
Fazem os ponteiros voltarem ao atraso
No simples contratempo
Do perdão que desfaço
Do amor indizível
Transformado em fracasso
Ó Vento,
Por que nos perdemos?
No tempo, no espaço?
No espaço do tempo
No terror do descompasso
Por que esquecemos
Do tempo que vivemos?
Por que me desgraço?
Por que a febre nos ossos?
Em Tempos modernos
De amores insinceros
De homens devassos
Por que não venero
O seu corpo tão lasso
De luta e de sangue
Tua fibra e teu aço?
Por que ao seu lado
Sempre o mesmo cansaço?
Vento,
Já não tenho mais tempo
De tentar curar
A infecção no pensamento
Já não tenho mais nada
Para amanhã no esquecimento
Me lembrar de assoprar
A vela que nos arde
Em cruel banimento
Para nunca mais voltar
A ser talento... numa alma
Que não seja nada mais
Do que puro e lento
Eterno, incontroverso
Falecimento!
Fernando Castro
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