Vazio
Sou lágrima que escorre no nada
No sombrio
Sou lágrima chorada
Poeiras de lágrimas
Sou decorrente da morte
Morte lacrimejada
Sou pequeno e simplório
Oferenda pros mortos
Sou berçário em dia de velório
Sem nome ou registro
Sou lágrima de morte
Sinistro
O que não se fala
O que não volta mais
Sou passado pra sempre
Na dor do agora
Nos dias de lagrimas
Que choram pelos ponteiros
Lágrimas de hora
Sou dor das saudades
Que a vida nos traz
Sou lágrima de mortos
E dos corpos
Que se foram embora
E não voltam jamais
Vazio
sou lágrima que escorre do coração
febril
sou lágrima de rocha
vulcânica
da peste em erupção
lágrimas de fogo
que choram a dor acesa de um vulcão
ardendo de incerteza
sou certo e inevitável
lágrimas da beleza
que apodrece miserável
no irremediável
perecível ventre da mãe
natureza
sou lágrima sine qua non
da tortura do pó
no saco da esperança
o que não se respira
o que não se cansa
o paradoxo
de ser um velho criança
na garganta um nó
sou lágrima do tempo
que escorre dos olhos
da morte de um só
Fernando Castro
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