quarta-feira, 18 de agosto de 2010

CANSAÇO

Cansaço,

Inegável sensação de abatimento quando o corpo não mais sorri para o instante que o depõem, quando os estímulos se embriagam na apatia, e a vontade passa a ser mera espectadora de uma inércia que mastiga impulsos e confunde a ação de ser e fazer-se ser!..dormência dos ossos acomodados numa cama de exaustão, de vitórias não mais preteridas, de dias coloridos pintados na tábua dos sonhos, e sonhados como o prêmio de que abrimos mão, quando entrega-se o jogo! Sim, mais do que o próprio corpo, a essência que nos move também cansa, e se derrete junto à angústia de se permanecer vivo, nos tornando condizentes com tudo que já está, com tudo da forma que é, nos decepando da qualidade de transformadores, e diluindo os guerreiros que moram em nós na lava das ordinárias e demoníacas respostas que partiram dos outros...


Cansei,
De ser qualquer coisa menos Eu
Não posso dizer que não sei,
Não posso dizer é meu
Muito menos que me libertei
Cansei de ser os olhos que são tão teus!

Errei,
De pasmar nas noites dos luares de sonhos
E cantilenas sorridentes
Daqueles que lavaram as mágoas
Dos meus tempos de adolescente
Dos meus traumas de adulto fantasma
De pobre indigente

Cansei uma vez mais
De ouvir vazio nas paredes sombrias de casa
De não ter casa nas paredes,
De não ter paredes nos tijolos
E não ver os pássaros soltos com asas
De se afogar nas águas de tanta sede
Chorando sozinho, perdido num colo
Errando o caminho
Das balas perdidas
Estourando as bolhas do champanhe
E as taças nos miolos...

Cansei,
de não dizer nada,
e calar as mentiras tantas
que como batom
passam em minha boca!
E como crepom
Se desfazem loucas,
Desmanchando-se nos refúgios de óculos escuros
Nos guarda-roupas
Dos tantos apartamentos
Dos juízes obscuros
Que sentenciam embriagados
Com as narinas manchadas
Escorrendo argamassa a cerca dos muros
E respirando ironias de inverno
Que nos fazem sentir o frio de seus ossos
E ficar inseguros!

Cansei,
de dormir sem o alívio da sua respiração
e de me sentir aliviado
quando aplacas minha solidão

Cansei,
De morrer sozinho,
E de viver com todos aqueles que não estão

Cansei de depender de tanto amor
E de tanto saber
Do sofrimento que me torna impotente
Se não olhas pra mim,
Se não cuidas daquilo que não quer se deixar cuidar
Se não amas aquele que finge ser só
Mas de alma só clama
Esses olhos do amor
Que nunca cansa de dar...

Amei...
 
 
Fernando
 Castro

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