quinta-feira, 6 de maio de 2010

Pôr do Sol

Calmamente pálido, desce o Sol para trás das montanhas de nuvens e fumaças que cercam essa selva de prédios e pontes, de luzes e ruas, de mortes em vidas, de dores e amores. Tudo fica um só. A paisagem do céu se mistura com o contorno dos prédios, que estão à beira de serem abraçados pela escuridão. Está-se nesse momento peculiar do dia, onde os resquícios da claridade ainda emanam sua presença sutil e quase delirante: cores que dançam entre si, se apertando, se provocando, testando os limites da poesia com as nuvens que se transformam em véus, e as luzes das casas, que se transformam em estrelas. O tom afogueado é diluído devagar pelo infinito, junto às imagens sugeridas pelo traço de um pincel que arrasta os amores dos deuses do dia, e das divindades da noite, em puro confronto de paixões, de opostos. E o céu se transforma em palco, e os nossos olhos, todos os dias, em platéias. Giro esplendoroso dos astros que nos cercam, e nos elevam a condição de criatura que aprecia, para além do ilimitado, porém, absolutamente presa por tudo que não seja pensamento e imaginação. Criatura que noção tem de sua extrema impossibilidade, porém não sonha que de fato é impossível não ser exatamente como aquele pôr do Sol, que em instantes, passou, deixando um rastro de fantasia e lembranças pela tarde que nunca mais entardecerá. Os choques das cores são as emoções fervilhando no caldeirão dos ímpetos e vontades, no desejo ardente de ultrapassar os limites do corpo, e as condicionais de um pensar que em tese, poderia ser ilimitado. São os mistérios e o convite para o outro mundo, o impenetrável imaterial das fantasias das mentes, da plenitude da imortalidade no instante, que morrerá logo em seguida de ter acontecido. A cidade era a vida para todas aquelas pessoas que se abraçam no claro e no escuro. A cidade era casa. Era mistérios e experiências, prontos para serem descobertos, pequenos tesouros escondidos no labirinto da eternidade, que nunca precisaria se repetir, mas que sempre acaba sendo percorrido pelos mesmos caminhos. Esse pôr do Sol viria para ampliar essa noção de infinitude, e de glória, e de experiências que não se esgotariam numa única vida, num único lapso de tempo que ante o todo incomensurável é nada! Todos os dias, viria como arauto da poesia infinita, do beijo eterno, da pomba vermelha e branca, que conduz às prisões da alma a chave mestra, a realização do desejo de voar. Em cada estrela uma janela, aberta ou fechada, uma luz que representa uma vida, que pressupõem diálogos, que esconde histórias ainda não ouvidas, amores não experimentados, beijos e perfumes não saboreados pelos sentidos para sempre aprendizes de tudo nesse mundo inacabado e perfeito, e infinito, infinito, tão infinito que por mais que o possam cercar, agrimensores da terra e da vida, com seus radares delimitadores de fronteiras e instrumentos catalogadores dos fatos, eu o afirmo, com meus olhos que sangram lágrimas de todos os corpos em volúpia de carícias de todas as almas, que é infinito, pois mesmo que vivêssemos todas as vidas, e voltássemos para todos os pôr dos sóis, nunca, nunca, jamais conseguiríamos viver tudo que nele cabe, com todas as pessoas que nele existe, e com todas as coisas que ele, com a supremacia de um deus absoluto, coloca ao nosso incontestável alcance. Assim se põem o Sol no meu dia, para amanhã eu poder me apaixonar de novo.

fernando castro...
no fim da tarde!

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