O jovem ancião
Deformado pelos cinzéis dos anos
Extremamente jovem em seu pensar
Contempla sua inaptidão
Esquecido numa poltrona a balançar
Balanço que como o pêndulo
Faz tilintar e lembrar, e passar
O tempo insistente
Que nunca pára, e para esse velho
Entristecido em viuvez
De alma para com o corpo
Sente cada reflexo com sua intacta lucidez
E mente, que não sente
E até mesmo se finge doente
Decrépito e ausente
Nos dias e noites
Sempre dormente, de olhos cerrados
Transpiração constante, vagarosa, pesada
Com o projeto quase que terminado
E mesmo assim
Ainda não sabe quem é
Somente o vislumbre daquilo que foi
E foi correto
Mas mesmo sendo algo
Já não sabe mais ao certo
Se algo de fato foi
Se contingente, se adequado
Totalmente liquefeito
No limbo do tempo
Não sabe o que se é
E se de fato é
Algo além do esquecimento
Balançando na poltrona
Frente a sala de jantar
Ávido por uma última ceia
ausente, de tudo incipiente
não alcança com os seus braços a corda
para de vez se esquecer
do tempo enforcado
sem corda, que roda
roda
girando em falso
numa envelhecida
cadeira de rodas!
...envelhecendo fernando castro...
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