sexta-feira, 19 de março de 2010

O IDIOTA

Meus queridos familiares e amigos,


ao assitir Avatar e ler um artigo de renomado professor de nossa atualidade, mestre que inclusive já presidiu cursos que frequentei, não pude deixar de expressar minha indignação ante a postura tão preconceituosa do mesmo, talvez justamente por esse laço criado nas aulas, e essa admiraçao que ao ser deflagrada por um artigo qualquer muito me surpreendeu.

Gostaria, em primeiro lugar, de dividir com vocês esse meu protesto, e pedir também para que, em caso de concordarem, o divulgarem dentro do possível, para que possamos dentro da nossa pequena possibilidade, combater os absurdos plantados em nossa vida!

Peço para primeiramente lerem o artigo do Ponde (O ROMANTISMO IDIOTA DE AVATAR), e em seguida a réplica (O IDIOTA), que humildimente lhe ofereço!

Suas opiniões, sejam elas contrárias ou não, logicamente, são sempre mais do que bem vindas!



saudações para todos,


hóhóhó !!

 
Link do artigo do Ponde: http://pavablog.blogspot.com/2009/12/o-romantismo-idiota-de-avatar.html
 
 
O IDIOTA


“O FILME “Avatar“, de James Cameron, é melhor do que “2012“. “Avatar” também tem um ar apocalíptico, mas reúne elementos estéticos e de conteúdo mais elaborados do que “2012″ e seu besteirol maia. Mesmo assim, “Avatar” acaba sufocado por outro tipo de besteirol que é seu romantismo para idiotas”.

Assim se inicia um artigo do professor Luiz Felipe Ponde, publicado no dia 29 de dezembro de 2009, que além de filósofo e psicanalista, é colunista semanal da Folha de São Paulo. O que me pergunto é o que leva um filósofo a ter uma interpretação tão restrita do ponto de vista humano social, visão daquele que não está sozinho no mundo lendo livros em torno do próprio umbigo, e limita - lá, rotulando a mensagem simples sugerida pelo filme como besteirol romântico?, sendo que não só o romantismo, mas qualquer escola humanista, digo mais, qualquer forma de expressão ou escola artística, sendo clássica, ou de vanguarda, que se envolve com as questões do homem, e a grande parte do impulso criador que eleva poetas, escritores, cineastas, pintores, fotógrafos, cientistas, ativistas, sendo dos direitos humanos ou dos direitos dos animais, ou melhor, dos “monstrinhos e plantas que ascendem ao toque das mãos”, está permeado pelo mesmo teor e visto através das mesmas lentes que James Cameron se utilizou para filmar Avatar, ou seja, o desejo de melhorar a vida ?

Toda a força de inúmeros textos, e livros, e filmes, e quadros, e discursos políticos, advêm da indignação e não conformismo do homem ante as incoerências e absurdos cometidos pelo homem contra o homem, e do desejo de transformação, de mudança, de aperfeiçoamento da realidade em questão; e isso não é uma questão pertinente exclusivamente a escola romântica. Quer dizer que temos que ter vivido no século XIX para termos vontade de melhorar as coisas, de limpar cada vez mais nossa casa? Não se trata de dominar a realidade, ou a natureza, com a prepotência e brutalidade selvagem de canibais engravatados, ou fardados, ou letrados, mas sim de compreendê-la ao ponto de dialogar-se com ela numa crescente harmonia, a tal harmonia satirizada pelo nosso filósofo, harmonia esta que vem sendo objetivo dos esforços e das conquistas humanas em prol da sua própria sobrevivência, ou o que seria conferências como as de Copenhagen? Como assim ninguém vive ou pode viver em harmonia com a natureza, como diz o artigo? Justamente por essa desarmonia que hoje se gastam bilhares de dólares para se tentar harmonizar as coisas, visto que uma não harmonia pode significar muito mais prejuízo do que o desleixo ignorante e individualista da fome moderna, da voracidade de consumo, da tecnicidade sem reflexão. Ponde de fato significar o fim!

Nossos índios eram “tão atrasados que não conheciam a roda”, em compensação, não conheciam a varíola, a rubéola, a malária, e sim propriedades de plantas que hoje, mais de 500 anos depois, laboratórios avançados brigam entre si para patentear! O ponto não esta em quem é mais ou menos atrasado, e sim no quanto de diferença podemos suportar no nosso semelhante, sem termos que assassiná-lo. Atrasado a partir de qual ponto de referência, pois se é atrasado em relação a algo, e esse algo sendo mais evoluído, ele o é em relação também a algo, ou seja, por que não podem também os atrasados elegerem referenciais e valores que nos fariam muito mais atrasados do que eles? A mensagem do filme em clareza estende-se à além do humano com o alienígena, ou como interpreta Ponde, do colonizador americano com seus índios, que por sinal, não tiveram a sorte de terem um “herói romântico” para desviar as balas de seus peitos, e fala diretamente de você com o seu vizinho, que não precisa ser um índio para ter seus limites respeitados por você. Fala de você com você mesmo, e o quanto de capacidade tem o seu olhar para enxergar esse mundo e ver que certas dinâmicas podem e devem ser mudadas, e que ele está te pedindo ajuda, lhe dando sinais, pedindo para que cuide melhor dele. Obviamente não faço uma apologia às cabanas em baixo da árvore, mas do diferente podemos retirar um aprendizado, e talvez das civilizações mais “primitivas”, que viviam em maior contato com a natureza e com menor dominação técnica sobre ela, podemos lhes retirar o respeito e a cautela para agregarmos aos nossos conhecimentos, e então, nos aperfeiçoarmos ainda mais, pois só sendo muito estúpido se pensa que para ter comunhão com a vida, e respeito por ela, tenho que trocar minha geladeira que cospe gelo por um filtro de barro.

Logicamente que queremos viver em paz, com a deusa natureza, ou com o deus de nós mesmos, o mesmo deus individual consagrados pelas linhas do filósofo, mas de preferência num equilíbrio inteligente entre ambos. Penso que erigir uma civilização em cima de cadáveres, de sangue de índios, americanos ou paraguaios, não é a melhor forma de construí-la, e outros caminhos seguramente poderiam levar à Roma moderna, ao nosso Eldorado, que por sinal nunca foi encontrado; outros caminhos poderiam ter levado à pedra azul em Avatar, ao petróleo no Iraque. O progresso poderia sim ter sido legitimado pela transação, se somente tivesse tido o mais forte um pouco mais de paciência, a mesma paciência pedida no filme ao chefe militar, e por ele negada.O mesmo resultado poderia ter sido alcançado se menos ansiedade tivesse tido nossos colonizadores, ou resultados até melhores, e talvez não tivéssemos que esperar tantos anos para ter que descobrir segredos que com a confiança e amizade poderiam nos ter sido transmitidos a 500 anos atrás, em harmonia, em troca, em respeito, tudo isso se simplesmente antes de puxarmos o gatilho refletíssemos um pouco, e víssemos outro de nós no lugar de um alienígena.

Pergunto-me também se a classificação "besteirol romântico" não está de uma certa forma ligada a um preconceito besta que alguns intelectuais, ou até mesmo nós mesmos e nosso intelecto pode ter com filmes hollywoodianos, grandes produções cinematográficas, nós que estamos acostumados a nos deliciarmos com o Cult, ou já viciados em rechaçar tudo aquilo que é produzido pelos EUA, recepcionando com crítica e preconceito? Independentemente de quanto se gastou para produzir um filme, ou se o filme é bom ou ruim, penso que qualquer película pode dizer alguma coisa, transmitir uma idéia, deixar impresso uma opinião, e isso pode valer muito mais do que as questões estéticas, que seu acabamento, ou valer junto, em planos diferentes. Ficamos na defensiva e denunciamos os americanos por estarem moralizando a natureza, sendo os bonzinhos sempre, no sentido deles produzirem um sucesso de bilheteiras que os denuncia, mostrando o quanto têm consciência de seus erros e dos erros da humanidade em prosseguir em sua ganância, gastando milhares de dólares num filme para mudar o mundo. Mas somente por que um filme é produzido pelos norte-americanos seu conteúdo perde o valor? Se os franceses tivessem produzido Avatar, então lhe daríamos o Cannes? Somente por que um compositor ficou surdo, ele não poderá mais compor?

Vejo a mesma mensagem, e a mesma indignação ante a incompreensão e intolerância do homem com o homem em diversos mestres do cinema Cult. Por exemplo, em toda crítica de Bunuel, de Godard, de De Sicca, de Rosselini: o que é Roma Cidade Aberta senão um Avatar com menos tecnologia, porém com a mesma paixão?, e creio que não se tratava de uma escola romântica, e sim de um marco inaugural do neo realismo, onde Ana Magnani fez o papel da nossa heroína azul. Vejo essa mensagem também no neo realista A Terra Treme de Visconti, do Conde vermelho demais para ser capitalista, mas como não quero correr o risco de ser acusado de comunista, ou de um comunista romântico, o que seria ainda pior, prefiro citar outros vermelhos mais nem tanto, como Antonioni quando filma o Vale do Pó, ou a sua incomunicabilidade que denuncia a dificuldade que temos de acessar o outro, ou até mesmo Zabriskie Point, filmado na América; e Bergman, com Max van Sydow e Liv Ullmman fugindo da guerra, não da guerra e revolução dos navis tricolores na famosa tela de Delacroix, guiados pelo “besteirol romântico” da Liberdade, mas da guerra que inspirou Picasso a pintar de forma nada romântica um quadro cubista chamado Guernica, e todos os filmes que retrataram esse nosso inesquecível estupro nazista, onde invade-se o outro e o destrói, onde prima-se pelo extermínio, onde para confiscar o ouro, bens e terras judaicas, um petróleo refinado, de maneira refinada se atira na fogueira de corpos, com muito ajuda intelectual , filosófica e publicitária, um preconceito atávico, criando-se um vilão, e assim patrocina-se a eugenia, e cria-se o mito da raça superior, e da raça “primitiva”, atrasada, que ainda não descobriu a roda.

Mas realmente precisa-se matar alguém porque esse alguém não descobriu a roda, ou por que tampouco assistiu Bertolucci filmando Dostoievski, com seus estudante indignados de Partner no papel nos navi? Elejo o referido escritor como mais um exemplo, que como navi se viu nessa vida o suficiente para escrever a Recordação da Casa dos Mortos, pois já que o nosso psicanalista-filósofo escreveu algo como Filosofia da Religião em Dostoievski, talvez eu posso fazer uma analogia da relação que o regime do Qzar teve com a condenação e a suspensão da pena do escritor russo, e seu cárcere na Sibéria, com a condenação do povo azul de Avatar pelos militares da tecnologia nuclear. Sorte que eles ainda não tinham levado a bomba atômica para lá!

“A expressão “lei da selva” não foi inventada pela avenida Paulista e seus bancos, mas sim como descrição da natureza e seu horror.”

Temos as pessoas que se envolvem com a vida de tal forma que a percebem e vivem uma real integração, com a natureza, com a realidade, vendo através de um prisma em que as coisas estão ligadas pelo fato simples de existirem juntas, de coabitarem o mesmo plano, e se vêem como uma parte do todo, e outras, que separam e dividem, e se vêem como o todo numa parte, e colocam o homem, ou seja, a si mesmo, acima de todo o resto, como se o mundo estivesse para lhe servir, como se o sol ainda girasse em torno da terra. Pessoas que não hesitariam em pleno século 21 tentar enviar Galileu para fogueira novamente, somente para a natureza continuar girando a seu serviço e o mundo aos seus pés. Esse antropocentrismo a muito já foi superado, mais continua vivo no artigo de Ponde, e em muitas relações e terrenos nesse nosso planeta Terra, seja dos homens com os homens, seja do homem com as coisas, com as plantas, com os animais.

“Ninguém nunca observou a natureza de perto? Nunca sentiu o odor de sua violência?”

Como enxergar o horror na natureza antes da rosa de Hiroxima? Será que o odor de sua violência é o mesmo exalado dos campos de concentração? Quem trouxe a destruição em massa não foi ela, logicamente partindo-se da lógica que somos algo independentes da natureza, e ela nossa inimiga, e que nós devemos dominá-la, uma vez que também podemos partir da lógica de que somos produtos da natureza, da tal evolução natural de Darwin, que através de anos sanguinários evoluímos até um ponto que conseguimos atingir o ápice da destruição e medo e, sendo assim, nos isentamos de culpa e responsabilidade, e podemos detonar quantas bombas atômicas que quisermos colocando a culpa nela, já que somos sua criatura. Francamente, deus meu, é tão simples e humana a idéia desse filme, que quem o entendeu como uma elegia ao primitivismo de fato não entendeu nada. É tão explicito e óbvio o recado, o toque amigo no ombro, que pode ser resumido numa única palavra: respeito. Fico na dúvida se o filósofo tem noção da dimensão das palavras que escreveu, de forma nada ponderada, e da idéia que passa para os outros, do egoísmo entranhado em suas frases, e da estagnação e retrocesso que promove. Porém, acima de tudo, tenhamos a certeza, contemporâneos de todas as nacionalidades e raças, que não precisa ser filósofo, nem psicanalista, nem ter uma formação superior para enxergar através dos olhos de Cameron, e permitir sim que os sonhos e os desejos mais puros e reais continuem vivos, pois o novo virá, independentemente dos esforços da conversa degenerada para o retardar, pois para ser um navi, e isso não significa que precisamos trocar o lençol pela rede ou rezarmos antes de comer um bife, não precisa ser romântico, deve-se apenas ser nada mais e nada menos do que um verdadeiro ser humano.

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