quinta-feira, 25 de março de 2010

ENGULAGME

O quanto de assombro neste copo d’água cabia?, não eras nada mais do que sentia pela manhã,


Em goles cortantes de mau que angustia... veneno ímpar em garganta sufocada pela luz da cidade, pelo brilho opaco das árvores poluídas,
dos sonhos dispersos em vidas trafegadas por caminhões de petróleo industrial,
de sonoplastia cáustica advinda dos choques dos metais, do zinco e do cobre dilatado, da estradas férreas agredidas por vagões da eternidade consoante,
que vaga omissa sem em nada interferir, condenando tudo a ter significado improbabilidades otimistas,  quimeras infantis espalhadas ao longo do desespero dos dias, das luzes apagadas pela manhã,
lampião que não ilumina, e some no vácuo diante dos olhos do sol!

Em goles ácidos nada mais engoliria, traquéias rasgadas aos poucos ao longo dos dias,
onde ponte de concreto liga uma marginal a um medo passado,
o de voltar sempre para o mesmo lugar, o mesmo medo nascido da onde se vinha,
e diluído pelas ondas invisíveis, sem mar, de rádio sem locutor!
Vozes assassinadas que cantam a morte nos auto-falantes,
e dispersam nada mais do que a radioterapia, em suor e agonia,
pelos tráfegos automobilísticos de todos os dias, de todas as manhãs,
de todas as voltas para o curral das furnicações bestiais, ungüento para o espírito em carne tesa e obscurecida pela obesidade da reflexão!

Estavam todos mortos, e ainda assim dirigiam seus importados de platina e lágrimas infantis ao longo do cimento cinza de olhos empedrados e enrijecidos...
olhos opacos e poluídos, dispersos pelo longo da existência sem gozo fora do estupro e hedonismo, sensibilidade atroz e corrupta, vencida a cada esperma dilatado, a cada agulha merecida, a cada nota dada !

Estavam todos mortos beirando o suicídio, e dançavam desnudos, juntos agarrados as entranhas comuns que os unia, empenhados em diluir o mau do corpo sem filosofia, em noites dançantes de espírito ébrio em letargia catártica de amantes de carne e pedofilia!

Em goles pequenos devoravam-se aos poucos, e beijavam o sulco da terra regada pelo céu e sua ironia do infinito,
em seus plácidos olhos costumeiros e adiantes, fomentadores de sonhos inconstantes e absolutos,
o padre regador da esperança assassinada,
obrigatoriamente condenada,
já que esta não poderia viver,
se do espírito a carne a mutilasse, e da carne, sem espírito, música se ouvisse,
e em noite sem fim o corpo dançasse!

Estavam todos mortos, engolindo-se vivos em torno do abismo!


fernando castro     25.03.10

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