Andorinhas de rebordose continuam planando cinzas, e destilando vitupérios junto aos urubus eleitos, guardiões da Alvorada. Os palácios sustentáculo de nossa res. pública se mantêm aparentemente firmes e intocáveis, mas em suas entranhas certamente se agitam com os tremores da corrupção milenar, fomentadora de pobres mães grávidas da fome, de esquálidos e famélicos esqueletos analfabetos, e de andarilhos à margem das decisões democráticas de nosso civilizado Estado de Direito.
Para onde prosseguir com a livre expressão no meio de teias e caminhos predestinados, condicionados a juízes e decisões amarradas a legislações, transtornada pelo mais executivo e interventor dos poderes, aquele que tranca todas as pautas, que estabelece os rumos do amanhã, que veta e negocia ministérios em troca de mais caviar para o seu partido, e mais linha para os costureiros imperiais continuarem, ao lado de Givenchy, delineando os contornos de seu colarinho branco, e de seu terno ainda sujo de graxa? De que forma esse sufrágio universal será efetivamente eficaz ao ponto de um indíviduo ver de fato seu interesse representado, e não transpassado e engolido pelo mesmo café com leite reformado das inamovíveis oligarquias do eterno e absoluto? Quando passaremos a uma real consciência social que por vias de fato cobrará aos pedaços os cacos de seu direito, destroçados ao longo da história desse país devastado, berço e geladeira do planeta, mãe estuprada por todas as raças, violado por todos os sagazes e malandros desse mundo, aqueles que certamente engoliriam os excrementos de Satã, caso um inferno houvesse abaixo de nós?
Pobre Brasil bandoleiro, brasileiro, de riso e samba e cerveja. Será que sobra espaço para um pouco de política, para um bocadinho de ativismo nas orgias de feriado, nas bebedeiras de fim de semana, nas poluições constantes de praias e montanhas, nos versos quebrados de seu hino nacional, sem verdade, insólito, parnasianamente uma chacota extremamente funcional?
Exalta-se esse clamor e esse nacionalismo desleixado, moleque, embriagado por tudo, apaixonado pelos glúteos e futebol, e desvia-se o foco, deixando o Sol da Alvorada apagado, sol que se põem todos os dias sem nascer, incentivando as trevas que ocultam o oculto, o desvio, o qualificado furto peculato, o nepotismo debochado, a prevaricação e a fraude dessa fantástica União, de cadavéricos semideuses que se revezam no mandato. Pelo amor de deus meus compatriotas, acordem, abram os olhos ante absurdas manifestações de direitos violados, que nos transformam em meros espectadores de um circo onde os palhaços são os que riem do espetáculo, e a platéia adestrada, ainda dá a patinha para o seu feliz contendo de uma mísera migalha! Não, digam não, chega de migalhas desse podre nacional, dessa tripartição mentirosa de poderes que servem unicamente aos lucros incessantes e bastardos de filhos da putrefação moral.
Digam basta aos exploradores e mercenários algozes, disseminadores da ignorância e patrocinadores da diversão sem reflexão. Digam não mais, e soneguem, e escrevam, e leiam mais, e se informem mais, e se juntem mais, pois temos garantida a livre associação, e o poder de passeatas e o direito de greve. Façamos greve então, meus amigos, greve eterna, pois pararemos de trabalhar contra nosso país, nossos pais, e contra nós mesmos, meus queridos iludidos de todos os povos, de todas as tribos. Vistam a camisa negra na eleição que se segue, camisa negra que veste branco, que veste nulo, e justifiquem sua ausência com a indignação fremente em vossos olhos, pois voto nulo de indignação que não se anula, e que faz acordar e recusar no almoço, no café, no jantar, para sempre os indigestos restos podres de lula.
fernando castro 15.03.10
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