domingo, 17 de novembro de 2019

JOÃO DARK E AS FEITICEIRAS DA MARGEM ESQUERDA

JOÃO DARK E AS FEITICEIRAS DA MARGEM ESQUERDA




Era de nunca numa noite recortada do céu. O pedaço da Terra flutuava entre esse recorte, e esse espasmo de vida, criado a partir do nada, onde uma pequena cidade, ensejo noturno de um sonho perfeito, o perfeito vilarejo, ensaiava as notas de sua tradicional composição, um concurso de dança, de teatro, de pintura, uma sinfonia completa, criada de uma solitária comunidade humana, como estrelas feitas de homens, como pétalas brilhantes no céu de uma noite escura, uma linda constelação, uma via láctea rachadura! 



Esse ano, perdido nos arquivos de registros notários, um feito se produzio, um relevo na pintura tradicional, datada fora do mapa, um reboliço, uma epidemia de vozes replicantes, uma lenda, um mito. O povo aclamava, em surdos ouvidos, como num telefone sem fio, dedilhando os tímpanos das ilusões humanas, e transmitindo as gravações, ao vivo para os vivos, e morta, para os semi mortos, numa onda cuja frequência atingiu todo condado. “Havemos um homem santo entre nós. Ele cria milagres sabor de sonhos coloridos”. Esse era o fio da trama que conduziu as filas à superlotação, os carrinhos de pipoca salpicando milhos doces e salgados sabugos no chão, os ingressos dos espetáculos: todos lotados. A cidade não cabia em si mesma. Os moradores abrigavam os viajantes, andarilhos de uma mesma peregrinação, nos beliches empoeirados, nos cômodos desacomodados, nas lareiras, nas salas, nos sótãos  emprovisados. Todos queriam ser curados. Todos queriam ver o criador de milagres. Todos vieram confirmar a força inequívoca da criação. Porém uma parte , a esquerda do rio, dizia, “aqui jaz não o primeiro, nem o último, mascarado charlatão”. Eles se amotinavam, eram sabugueiros de um condado distante, tinham fama e habilidade, e não podiam permitir que uma outra cidade, ou melhor, um vilarejo aspirante a civilidade, civilizada civilizaçao, tomasse, ou ameaçasse a posse de seu troféu material. Era um laurel, esse status bucólico, campônio, quase rústico, para uma grande metrópole poder entender, de que sonho é feito a mágica, a mesma mágica criadora dos sonhos. Mas a história não se importava com a ignorância das mentes atrofiadas, dos ouvidos tapados por cera, das bocas costuradas pelas próprias censuras , túmulos humanos de esqueletos vivos e venais. Essas criaturas, que vendem a alma, para manter lisa, e empinada as mamas das tais divinas tetas. As curvas sagradas da profana escultura da hipocrisia moral.



O dia D se aproximava, e a venda de indulgências se proliferava feito numa época um dia datada como medieval. O homem santo não saia de casa. Sua fama se propagou atraves do silêncio antigo e onisciente. Boca a boca do presente, de grego, como um cavalo esbelto, troiano, bem talhado, ele recebia, apenas amigos íntimos, e inimigos públicos em privado, e dividia sua sabedoria com palavras doces, vinho, e um papo que transpirava alfazema selvagem e polida filosofia. Nesse ano, inominado, ele disse que dali não sairia, pois quem precisa provar o gosto da sabedoria, própria, que se aproximasse, de cara limpa, com olhos abertos, fixos, ereto , de postura e intenção elevada, de preferência, com o sorriso sincero  transbordando da face, e um aperto firme de mão, tudo isso, e nada mais. Ele sorria de graça. Os conterrâneos, honrados em seu tino, no mais distante folículo de suas raízes ancestrais, regados pela luminescência do santo homem, compatriota citadino, andarilho do mundo, uma lenda urbana popular, que estava no pensamento de todos, em tudo e em qualquer lugar, sem precisar sequer sair de casa, mais precisamente, da sala de estar. Morava ali, tranquiilo e sossegado, naquela velha e humilde casa, um modesto prédio colonial, no terceiro andar.  Sua serenidade sempre manteve a porta aberta, mas nesse dia ,onde a competição já era implacável, e os detendores da verdade imutável, tinham que, mesmo acreditando, desacreditar, se unindo, num grupo temerário, esses que desmontam feito lego, a parede de um encarcerado duplamente condenado, resolveram atocaiar o homem santo,  de forma que sua santidade pudesse escapar por um segundo, e ser posta a prova, pela trilhonésima vez, feito o ar frio que entra pela brecha esquecida da janela, e uma cilada  armaram atacando por trás do prédio, na surdina, apalpando a laje com uma escada truculenta, enviando três poderosas lavadeiras, quase as elisabetanas feiticieras, cujas manchas nas mãos não sairão nunca mais da história dos homens. O santo nada fazia. Apenas acordava, comia, escrevia, orava, e dormia. Entre um sono e uma vigília ele recebia alguns íntimos amigos, que ainda tentantavam convence-lo de participar do concurso estadual dos condados desse pequenos recortes de céu espelhado. Ele não os contradizia, mas educadamente apenas com o corpo recusava, falando, não, que esse ano novamente não iria.



O dia chegou, e as três mulhers trepadas no telhados, feiticeiras da luz da noite disfarçada de dia, estavam ao redor de um caldeirão, preparando uma magia, com sementes de abortivos sonhos, mandrágoras maquiavélicas extraídas do quintal de um santo bordel, unhas cortadas de frustrações de páginas nunca escritas, fábulas perdidas que nunca deram em nada, além de tóxico papel queimado em tristes lixeiras de ruas vazias, uma caixa de porta joias de mentira, encantada e sem valor, a caixa de prender ideias valiosas, e seus frutos, uma caixinha de vidro, com dobras de cobre, e mais alguns insignificantes porém essenciais ingredientes esotéricos. Uma caneta de pena seca, desenterrada de um túmulo cujo um dia a carne viva de um mestre escritor sequer pensou que ali habitaria, e umas pílulas, colhidas das lágrimas de loucos abandonados em manicômios deteriorados, lágrimas dos desvalidos, que juntas, formavam essas pílulas da esquizofrenia. Era o golpe final. Com elas, certamente a vitória seria certa. O plano era com as pílulas em caldo fervente, do banho Maria, em seu sono, desepjar a fatal dose, e instaurar a loucura na santa inatacável sabedoria.



Pois a presença do homem contagia até os demônios circuncidados, e já era sentida ao instante que qualquer viajante adentrasse nos limites da cidade, como se um peso fosse arrancado dos ombros, os peregrinos mais leves, saltitavam, e até as bruxam olhando travessas através das paredes, hesitavam. Elas contra atacavam, quando o homem santo ia no banheiro.... “mas ele não faria isso na presença de damas, se um sábio educado e santo de classe fosse, sabe que estamos flutuando ao seu redor, três finas damas, com que ousadia... entao tudo que faz não é livre alegria, mas premeditada fantasia”... quando o santo, sem precisar responder, apenas sentia, como devia agir, agindo sempre supostamente como agiria, se sozinho estivesse, sendo que sozinho estou apenas quando eu e Deus comemoramos a luz do dia.... como ignorar a presença ignóbil da feitiçaria no telhado de cima, e fingir que ser santo e não ser livre, mesmo sendo livre, são a mesma coisa? Como expressar a falsidade quando o olho da coruja não dorme porque vigia. Ele não sabia. E até mesmo, as vezes de propósito, beatificava as louças da casa, e a olhos nus, cagava na pia, e urinava pela janela, tranformando ureia em ouro, feito um exímio alquimista, para o pasmo e perplexo mutismo das três bruxas alcoviteiras, agasalhadas pelas telhas de sua própria moradia, o dito inimigo, pois além de não serem bem vindas de coração, se alojavam na casa que ao homem santo pertencia, para no embuste, lhe promover atraiçoada feitiçaria.



Assim, terminou o festival, o homem
Santo na janela aparecia, quando a urina sagrada escorreu do terceiro andar, e se transformou em ouro líquido na calçada, causando uma histeria geral, molhando as emocionadas bocas entumescidas. Agora além de santo, era mestre em alquimia. “Transformava xixi em ouro!”. E um relâmpago, concomitantemente, ou seja, ao mesmo tempo, não verbal, literal,  atemporal, atingiu o para raios do telhado, eletrecutando quem se usa de negra, pestilenta magia. O recado estava dado. Ele deu mais um dia, para seus comparsas retirarem os restos de necromante putrefado, do cumum cume do seu telhado, ou ele ali mesmo com um rifle santo, com balas mágicas, e com o fervor dionisíaco iria novamente varrer, cada metro quadrado da noite, até disparar no peito, da eufasia, e assim, novamente exterminar os ratos da negra bruxaria. Sim, iria varrer o telhado com arcabuzes e canhões. Adagas e cimitarras. Mesmo que para isso colocasse o predio na chon! As cinzas das lavadeiras, queimadas, atingidas por um raio em pleno meio da.



As escutas nas nuvens interferiram no pedido do homem que falavam com as estrelas, e fizeram chover sobre a carne cozida das bruxas pega de saia curta no telhado. Apenas um dia, e sequer uma hora a mais. Se em uma semana a genesi do mundo ocorreu, em 24 horas o santo homem mostraria, o quando diabólico todo ser seria, caso ele não criasse mais os sonhos, esperando pelo amor da vida, e pelos pássaros de passagarda, de cada manhã, da luz amanhecida , passando por cima das leis dos homens, para agir llivremente legitimado pelas leis divinas, o extermínio completo dos ratos do sótao a golpes clássicos de machado, adaga, ou machadinha. Caçando os fantasmas com toda doçura e discrição que uma massacre sobrenatural assim pedia. O homem santo sempre vencia.

 O Amoral da HISTÓRIA: 

Não faça do coração de ouro uma falácia... prateada. Não ouse duvidar daquele cujo olhar não consegue suportar, pelo mesmo tempo que não consegue... parar de olhar. Jamais iria perdoar, uma reincidente e continuada traição. Bata em retirada, covarde batalhão das trevas, antes que além da minha luz, e tempestade, obrigada sejam sentir a cor da lâmina do meu trovão. Que seja eterno não enquanto dure, mas que dure para sempre, enquanto seje eterno. Adeus.





FERNANDO CASTRO 

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