quinta-feira, 25 de novembro de 2010

O Silêncio das Rosas

O silêncio das rosas,
espalhado como catedrais de cinzas,
Encaixotado pelos sepulcros humanos,
Em horas bestiais,
Diz com seus versos mudos,
As dores e absurdos que as palavras vossas,
Na voz do submundo
Com tanto esmero calais,
Calais,


O silêncio do hiato entre ser e almejar
Entre querer e conquistar,
Te faz um reflexo,
De um vazio agudo,
Na íris encharcada no olhar de um mundo,
Onde, sobretudo,
O teu encanto se desfaz,
E por hora de juventude,
Não volta nunca mais...


O silêncio, consumidor da tua paz,
Na cor lacrimosa
Desses olhos de rosa,
Vence calado e tanto faz
Que na áspera ausência de palavras
O teu gozo ou desprazer
Insista em não dizer
O que esses olhos sem saber
Chorando revelais...
Revelais,


Revelais vossos olhos,
A dor de não saber para onde olhar
E, no entanto,
Ainda piscar de tanto sentir
Um deserto a enxergar,
Uma areia movediça nos olhos,
Que se calam,
E não olham para outros olhos
Sem ver não dizem o que enxergam
Gritando lágrimas sem cor
No silêncio de rosas
Que quando calam,
Choram as lágrimas já mortas,
E quando falam,
Choram os mortos já em pó
Enrolados nas tantas notas
De veias e de sangue
De artérias e aortas...


Parando o fluxo de um coração
Para sempre silenciado,
Choram essas rosas as lágrimas de um soldado,
Para sempre desarmado de sorriso e respiração,
Na transpiração das flores da morte
Que quando caladas,
No coro da noite esbranquiçada
Choram sem dizer não
E no choro da razão esfumaçada
Choram sem controle
No sabor da maldição em vício
Trazendo ao paladar da vida
A indulgência do perdão
De todas as noites
O mesmo pedido
Todos os ratos
Contraídos,
Roendo as próprias almas, morrem sem dizer
Eu também posso ser fraco
E na fortaleza do meu poder
Eu também posso ser silêncio
Na ânsia do meu dizer
Na floresta de rosas
Posso ser
Espinho sem corte
Ou na seca de um galho
Posso ser sem vida
O espelho refletindo a morte
Na aparência ingênua de uma pétala
Ou na aparente ausência de uma técnica
Posso ser a voz que derruba o grito
Cética,
No doce ponto e vírgula de uma janela um tanto poética,
Para o jardim de minhas seringueiras
Olhos de jabuticaba em sua aparência profética,
Posso ser o silêncio das rosas
Que quando falam
Choram heréticas,
Toda beleza que pode conter a liberdade
De ser sem ter que nada dizer
Simplesmente por ter tudo dentro
No infinito ser,
Que ao menos chora,
E mesmo às vezes,
Quando, sem lágrimas de rosas,
Cora,
se lembra de agradecer
Todo o silêncio que conseguiu escutar
Nas conversas com as tantas almas
Que seus olhos enxergaram pelo mundo
E mesmo sem morrer,
Em silêncio,
Como uma rosa no meio da chuva
Conseguiu ver...
Logrou de ouvir o amanhã
E de saber que todos os mortos ainda vivem
Em silêncio
Em tudo que não é dito
E tudo o que importa
Também não está lá
Entre a dor das palavras
E o eterno silêncio
Das lágrimas mortas

O silêncio das rosas!



Fernando Castro

Nenhum comentário:

Postar um comentário