Desce o manto da noite sem cura, do absolutO sem preservação,
Manto de lágrimas silenciadas pelo prazer, pela busca voraz de satisfação sem limites,
Aí também, noite de desespero, está a pulsão...
Está nato... evidente, Tânatos da noite, nato em nós, dentro do coração, aceso como um holofote...
O que nos arrasta para a fúria? Na dança do descontrole, seja bem vindo o acidente...
A dança da morte, na pulsão de vida do Strindberg em todos nós!
O sangue não para de jorrar pela boca, pela ferida aberta em seu corpo, uma cabeça aberta na calçada, no amanhecer dos mortos, dos trogloditas que dominam o inferno, os filhos de Nix,
Os filhos antagonistas da vida, as presas canibais no cúmulo da bestialidade, filhos da Besta, na consagração máxima da irracionalidade, das cavernas enfeitadas de civilização, sofisticação anabólica da brutalidade, na covardia de uma orgia de covardes sincronizados com o medo e a destruição...
Não posso mais sofrer, não posso tampouco lutar contra a invencibilidade da ignorância tardia,
Talvez sejamos mesmo treinados para sermos fracos, e como parvos delimitar a pequenez de um diâmetro de ilusão, nos fechando num círculo por demais estreito para se respirar...A própria incompreensão se debatendo num aquário sem oxigênio...
Talvez seja mesmo apenas vaidade, e além dela não resta sequer um impulso real para nos transformarmos em algo além de esterco,
Adubo para os próximos mortos, e carne sem distinção... Nascemos felizes e morremos alienados, o que nos transforma também nos mata, o que nos liberta nos acorrenta, e o conhecimento conduz ao desespero da sabedoria, à certeza de que tudo continuará na indiferença de nosso esforço, na alegria de nossa ausência, na perversão da tão volúvel bondade humana, nascida para a caridade tal como para a inveja, sem perdão, automática, sem prazer no prazer alheio, e sem gozo fora do egoísmo, pois na superfície da pele, apenas um sente, e esse um independentemente de ser eu ou você, sentirá sozinho....
Será a solidão a ausência de amor? Ou será o amor a ilusão da ausência de solidão?
Pois então, que os olhos continuem fechados, ignorando a dor trazida pela claridade, ignorando que também na luz mora a escuridão, e que aprendemos a ver ficando sem enxergar... ficando sozinhos!
Mais uma vez, morro nos braços da sua agressão, e na sua hostilidade me faço imortal... no seu ódio, existo fora de mim, e mesmo sem precisar dizer mais nada, sangrando, terei compaixão daqueles que me morderam e arrancaram um pedaço, pois certamente, para todo o sempre, estarão infectados...
F.C.
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