sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Inominado,

Na sua poética intraduzível da indiferença também aprendi a abandonar,
E no descaminho que a todos toca,
Aprendi a fingir um sorriso quando o coração arde de fome,
E mágoa de saber que também em ti,
Amigo das bolhas espumantes,
Carece um sorrir para se alegrar além das aparências,
Um pulsar, por mais efêmero e fugaz,
Que de fato esteja imbuído de preocupação,
E uma risada desprovida de piada nas minhas ausências,
E ironia mordaz
Nos intervalos que estamos juntos!
Amigo da fome e do desespero,
Um dia me ensinou a dividir um pedaço de pão,
E assim o fazendo,
Ele se multiplicava como um milagre...
Mas esqueceu de me ensinar como não devorar
Sozinho,
Todos os pedaços!
Um dia me intuiu que seria para sempre
E convenceu minhas inseguranças a naufragarem no mar de seu peito
Para nunca mais,
Mas ai também,
Inominado,
Esqueceu-se de mostrar que esse mar não era raso,
E que todas elas voltariam à tona de acordo com o capricho imperscrutável da sua maré,
E nas minhas lágrimas de impotência,
Confirmou que para sempre não existe,
E que talvez,
Ao teu lado
Nem mesmo o amanhã... Inominado,
Calaste nos meus olhos o que berravas para o mundo,
E esfriava em meu ventre
O que um dia era seu maior motivo de orgulho,,,
Nada mais além de uma cena simples e delicada
Da lembrança sem fantasia
De nós dois caminhando pela praia...
Pela ardência do calor indireto do sol,
Esquentando nossos pés e inchando nossos corações de um vermelho fogo intraduzível...
Reanimado pelas saudades,
E pela minha certeza de que um dia me amou...
E mesmo que por um instante,
Nesse dia eu existi ao seu lado,
Como um cúmplice de toda verdade que esperavas de mim,
Inominado amigo,
Mas que após a saturação de teus paradoxos,
Não enxergavas nem mesmo em você,
Defeito sem propósito,
De propósito efeito
O carregar para fora de mim a possibilidade de crer em ti,
Festeiro de todos os santos,
Mago de todas as religiões, onde no altar das contradições
Guia-se pelo totem do seu interesse,
Do seu preconceito faceiro,
E conveniente,
Amigo do peito
Esmagado,
Do peito onde o músculo vital foi arrancado
E do coração fizeram-se as tripas
Meu gigante inominado
No abando de si mesmo ainda resta uma lágrima de mim,
Escorrendo solitária, com frio
No gelo do espelho onde teu rosto esqueceu sua imagem
Maquiagem dos sonhos,
Na ilusão de nós dois
Um pouco de mais pó na cara
E base,
Mais base para sustentar a beleza
No peso da incoerência
E esconder os vincos de traição,
Desmascarado
Inofensivo,
Amigo Inominado...
Assim,
sem palavras na boca,
Despeço-me com um beijo
Sereno, sincero...
E torço que para nas inverdades de teus julgamentos
Algum dia deixe de acreditar nas mentiras
usadas para justificar
o Inominável
nas entrelinhas das letras que juntas escrevem
Amar
E que soltas,
Jamais teriam escrito sequer uma sílaba
De Desprezo



Para o meu amigo imaginário,
Que me abandonou quando o sonho virou pesadelo...
E quando nos teus olhos de sempre
Te vi Inominado!



Fernando Castro

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