terça-feira, 6 de julho de 2010

tempo perdido

Para onde foi o tempo, na cidade que cresce em meus braços vizinhos, em meus corações na lareira? Num inverno de palavras de amores, para onde foi o tempo, quando ainda era claro, e eu só nos seus olhos, só via o seu tempo?

Quem sabe para onde foi  esse tempo, na despedida dessa vida sem lábios, sem o calor das suas palavras que acostumaram tantos corações, e coraram tantos meninos que morriam de frio, em baixo de uma ponte sem destino, sem carros, sem ninguém para atravessar em cima dos meus medos e solidões, e sugerir uma luz num sorriso sem preço!

Para onde foi esse tempo de sonho e de lua, de brilhos e delírios de mel, de favos molhados de chuva, de algodão doce de ser, e morrer sem tempo de pensar o que poderia se ter sido se tivéssemos mais tempo?

Para onde foi você, meu menino de todos os tempos, nessas lágrimas de todos dias, onde nada mais flori na jardinagem de uma alma solitária, apertada por uma saudades que nem se explica, e que muito menos pretende ter um fim?

Já é hora deles partirem, e carregarem nas malas as pequenas alegrias, deixando um último sorriso de enfeite dentro do aquário, meu menino de peixes, de sonhos em baixo da água, mergulhador de horas sem nome em minutos sem ponteiros!

Já é tarde, e o vento encosta mais forte em nossos dias, se apóia mais pesado em nossos ombros, nos fazendo sentir um pouco mais desse pêndulo que persegue, e que agora grita para nós que de fato existe, e nos faz assumir o final de nós mesmos diante de nosso próprio amor, que supostamente, seria sem fim.

É tempo de terminar o que começamos, e de sorrir mesmo chorando na alma, para as últimas flores que nascem nas guirlandas de nosso filhos, que sem saber, já se despedem de nós, e choram o tempo sem cara que escorre de nosso olhos, meu amor....

Jamais me senti tão só, e tão sem tempo de te dizer o quanto posso ainda te amar,

tão frio, tão fraco ante tudo que nos separa!... paredes e tijolos abraçam o abismo..

o céu também chora, e os pássaros cantam na chuva a melancolia do adeus...

para onde foi o tempo? Quem sabe me responder para onde ele foi agora?

Os amigos também deixaram a estação; era como se houvessem pensando que tivéssemos enlouquecido, e que com o passar das horas, tivéssemos parado no tempo, e não mais serviríamos para suas piadas do fim de tarde, não tínhamos mais nada para dar...

Era como se não houvesse mais nada no mundo, nem mesmo o tempo, nem mesmo quem amo, e ainda assim insistisse em conjugar os verbos em pessoa fantasma, no plural da solidão, num eufemismo para total abandono, em nós mesmos sem ninguém!

Não tinha mais tempo, não tinha mais você!

Quem sabe para onde foi todo esse amor?

Já é hora deles partirem. Não existe mais redenção. O relógio parou, relógio de pulso, sem tempo, sem pulso, parou de bater.

O que mais posso sentir nesse agora de pulsos abertos? Que tempo me resta para saber, para onde foi todo esse tempo que nunca soube me responder...

Para onde vai o tempo, quando estamos sozinhos?


fernando castro

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