quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Senhor Desejo

Senhor Desejo, o que fazes de mim?

Brutalidade alça meu embotado querer, o pensamento é fixo,

Sou crucifixo de osso e músculo sem razão,

Sem tempo de parar para pensar o que é bom, o que é risco

Sou alma sem governo no labirinto desse desejo infernal

Da carne que me ultraja e vomita carne, e me cospe na cara o gosto animal...do sangue, do feto!

Sou olho que não pisca, e corpo que vela por um corpo, qualquer, que seja corpo, que seja vivo!

Sou porco e selvagem, sou rosa e espinho, sou um grito escatológico na madrugada,

Cheiro de homem em pele de enxofre, em fuligem de eucalipto e vapor, sou a dor da transpiração numa carne podre sem alma, escurecida na noite de uma orgia sem redenção,

Vida do infecto, sou volúvel e proliferação, sou amargo e inseto, e campo minado no perigo de contaminação irreversível, sou doce contágio e alegre perversão...Por onde anda esse meu corpo com a alma na coleira? Por onde anda meus gostos no meio de tanta sujeira lubrificável? Aonde vou com o desejo a flor da pele, com a flor na pele, com o botão sangrando por mais uma poda?

Queria estar cego para não escrever as palavras da minha história, para não ler as letras do vício que me arrasta ao abismo, e me dependura feito um bode em sacrifício de lua cheia de gozo e histeria! Quem dera estar surdo para poupar-me dos uivos e gemidos do clandestino ritual, do sabor que me conduz a vida em todas as suas formas de representação!

Senhor Desejo, o que fezes de mim?

Ao ponto que és minha religião, e todos os homens que me cercam....

Sou livre de todo resto, mas em ti, servidão bendita, sou aprendiz da escravidão!

Por ti, eu rezo.

Em nome do pai, dos filhos e do espírito santo,

Amém!!!




fernando castro

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