Desce a noite com a tempestade nos olhos, desce o pranto com a sinfonia dos anjos negros em luto branco, em pedaços de folhas desgarradas das seringueiras mutiladas, do choro na serra, encharcada por toda a agonia que pode caber numa lágrima de arrependimento.
Os fantasmas acorrentados no irreversível flutuam pálidos na floresta dos dias tragados de noite, de claridade que se desmancha ao ser seduzida pelo perfume da escuridão.
As penalidades se amontoam logo após a curva, e o freio gasto grita de medo e saudades. Medo de capotar, saudades de casa. Para onde foram os anjos coroados de compreensão e humanidade? Para onde as conseqüências do não proposital poderá conduzir de propósito as sobras da carcaça? Faminto o coro de abutres delicia-se com a inevitabilidade dos erros; mesto, o bando hipócrita de hienas sanguinárias se regojizam com a conclusão dos fatos!
Como atingir o perdao num jardim paranormal de regras e condutas irrepreensíveis? Como escrever a perfeição com as mãos atadas de Tântalo dependurado, ante a ceia homicida que todas as noites a cozinheira nos serve na sala de jantar?
Estamos todos envenenados, e o problema da cura só seria solução se estivesse em pouso de outras mãos, se estivesse sido descoberta por quem de fato enxerga a vida como um meio de sermos, e não um fim para se ser.
Dos heróis restaram apenas as arcadas dentárias, e daqueles que não tinham os dentes de ouro.
De todos os sonhos sobraram apenas um padrão, e infinitos pesadelos emoldurando os tantos diplomas das tantas carreiras possíveis.
Uma única carreira lhe traz a destruição.
Um único pássaro é necessário para transformar a festa em funeral.
Os anjos continuam chorando de impotência, agachados no canto do sótão, recolhendo os restos das penas que lhe sobraram das asas. Ícaro repaginado! Em todas as gerações na entrelinha da queda, no início, e profundamente no abismo, no final.
Suspiro, e ainda vejo o sorriso ardente do guarda lhe desejando boa sorte, e a mentira no batom dos lábios... Simples vontade de lhe igualar na mesma mesquinha mediocridade insuportável. Um simples prazer no complexo sadismo de lhe ver chorar e, no pranto, reconhecer o fracasso que para sua infelicidade, estará sempre estampado na lógica do entorno do julgador, e nunca na cara de um nobre coração, porém irremediavelmente condenado.
O espírito carrasco poderá sempre estar por de trás de qualquer espelho, e só depende da forma que se enxerga o que nele se reflete para poder sair do lado negro da lua, e brilhar absoluto e cheio no céu.
Essa noite a chuva traz pétalas de flores despedaçadas. A lua canta melancolia e punição, fazendo das serenatas de um luau a masmorra de um submundo de castigo. As vozes calam a melodia da felicidade e mudas, anunciam todo o pavor do grito que a dor de uma metamorfose pode causar.
Essa noite a taça de champanhe permanecerá vazia, em silêncio na indiferença do armário. E a fantasia, permanece pendurada no cabide da paciência para o amanhã.
Mas acima de todas as lágrimas, certamente,
O relógio não para de dançar!!!
Fernando Castro
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