quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Um MAR de ROSAS

Mar de rosas, de perfumes espalhados na ressaca de ondas belicosas, rosa bélica e vermelha, como o sangue desse mar de rosas, o sangue dos marinheiros fantasmas, dilacerado pelas bombas secretas de uma paixão nuclear, de uma explosão de ovários sanguinários no útero de uma prole chamada Terra.


No reflexo revolto dessas águas tão plácidas, o mar vermelho de lágrimas, lágrimas vermelhas que escorreram do nosso coração, e do abismo nascido dos últimos encontros, dos “nos vemos em breve” que viraram adeus, dos lenços de seda esvoaçando num fim de tarde de seus olhos de Criméia, onde todos os rostos estavam misturados como a água, caindo como as gotas de chuva chorada no infinito desse oceano de lamentações rosadas, e as pétalas, como as pálpebras delicadas dos soldados de farda e cetim, cobriam o restante do sol, apagado pela fumaça dos incineradores dos corpos de pais órfãos de filhos, e de filhos triturados pelas metralhadoras de orgasmos impolutos, as tais balas de metais não preciosos, e ao mesmo tempo, preciosos demais para se perderem na poesia da carne humana.

Mar de hibisco, de sorrisos mergulhados na profundidade oceânica do risco, do comportamento abissal de um grupo de anêmonas assassinas devoradoras de sonhos e gestações, um grupo de risco, de um comportamento transversal, transvisceral, transamérica de todas as longitudes, fazendo desse trópico de imperfeições um barbante de imaginação para se prender a calça frouxa sem cinto e sem pudor, do uniforme paramilitar, para quedas de mitos e raios nesse mar tropical de sangue latino e de alma universal. Para tudo, as bombas continuam caindo, mesmo depois das calças, e das ditaduras descalças, o demo drástico insiste em torturar as famílias do nosso amanhã: perdidas num iglu de fome e paranóia, bóiam suas carcaças nesse mar que não as deixa afundar! Ao menos se eu fosse uma onda, poderia então engolir esse desespero caudaloso, e me extinguir junto de todos os remorsos grudados na página de nossa história, mas infelizmente, muito além do pacífico, sua cova de águas rasas e tortuosas jamais me abandonará...

Mar de rosas rosadas,
Da casa de lágrimas,
Uma rosa de lágrima
Chora tatuada
Na alma pálida
Uma pele nostálgica
Rosa esquálida,
Chora o inverno
Magra e inválida
De um tempo eterno
Que despedaça
Numa tarde cálida
Pétalas de esperança
No teu rosto tão sereno,
Que chora em seu casulo,
Solitária,
Olhos de crisálida!


FernANDO CASTRO

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

ELEGIA ÀS AMIZADES DESCARTÁVEIS

Como num vale de lágrimas, a solidão dessa princesa se faz notar numa imensidão de olhos fechados.

Morte sem az, sem colher de pau roçando o fundo retal da panela, de pressão que chamam vida!

Mais nada lhe apraz, a não ser o mal chamando o mundo da janela, pela fugaz atenção de um suicida!

E assim se desfez as letras de um jornal no calor delinqüente de uma vela, no tesão genocida...

Sem lágrimas no peito, e com choro interminável em uma virilidade obcecada... lágrimas de espermicida, de sangue pintado de branco, mergulhado na transparência do invisível,,, do incurável...

Assim nasceu de novo o desconhecido, uma puta sem botas, e um gato de salto alto...

Assim viveu a pobre Cida, completamente embevecida numa luta já morta, perdida na Cidade, um assalto no asfalto... completamente enlouquecida

Total entorpecimento desses beijos de fel espalhados como bolhas de sabão,

O cimento contaminado dessa estrada cuja mão dupla beira o silêncio da solidão de um luto

Beira as beiradas de uma ribanceira cuja ribalta abriga a escuridão dos holofotes apagados, esquecidos no palco doentio da insanidade sanguínea, da imprevisibilidade casual, da metamorfose maldita!

E eu ainda luto

Os Ratos roeram a boca do rei de Roma, e os imperadores mergulhados em coma e delírio, se desmancham nos excessos da insatisfação inaudita, no injurídico, no inverídico, no irracional...

No indetectável de uma veia que percorre o lodo dos sanitários sem cura, dos lábios que escorrem a lágrima dos purgatórios de uma rua sem saída, dos pães na chapa do inferno, do último táxi sem volta depois da curva, onde os falsos carburadores de sangue lhe conduzem a uma injeção eletrônica, e sua alma é varrida pela fatalidade do depois de amanhã, do incondicional que lhe espreita na cama, do hospital que lhe espera no fim do dia, depois do enterro das suas últimas lágrimas nos travesseiros molhados dos tantos amigos que não choram por ti...

Que não choram, mas riem, riem e gozam, gozam quando o peixe, um tanto que frito, morre pela boca, morre pelo gozo...

Assim se desfez o amanhã, e assim se faz agora: Feliz Cidade!! uma vacina chamada Vida!


FERNANDO CASTRO

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

INVEJA

Inveja,

Incompetência de ser aquilo que se deseja, ou de se ter aquilo que quer…talvez o próprio abismo entre a ignorância das próprias possibilidades e o suposto sucesso que encontra-se no possível que desfila nos olhos do outro! Invejar é negar a si mesmo... Não sabe o que fazer de si, pobre crítico enamorado do brilho alheio, e prefere resmungar as piadas da própria existência nas entrelinhas ordinárias e mesquinhas de seu cotidiano medíocre e infeliz... o outro será sempre o alvo, e os dardos de seus olhos, flechas que nunca o alcançarão... pois ele somente é alvo para ti, querida menina das tiradas colocadas, das risadas de veneno, do sorriso de pedra e cetim, para ti e para aqueles que como ti, cracas da luz, sorriem com pele de camaleão e lábios de feitiço, e que devido ao próprio genoma de uma fraca composição, não possuem as bases para se suportarem em pé diante dum eventual confronto, em uma leal e direta acareação... Inveja, pobre de ti menina feia e bastarda, servente do obscuro e das intrigas que corroem a humanidade em seu bronze, ferrugem da vida, geralmente vem como amiga, e como amiga partirá, para invejar sempre mais, em outros campos de flores, em outros lares e em outros amores tantos, pois quem não tem muito a oferecer, não precisaria necessariamente sugar, bastaria pedir, bastaria olhar por outro lado o inimigo admirável que não existe, o venerável objeto de desejo, que não será nunca nada além dele mesmo...., mas infelizmente, quando esse desprovido de talento e amor próprio nasceu já picado pelas presas desse pecado tão capital, de todos o mais pecado, talvez o único real, então, nesse caso, que a beleza se afaste, pois nos olhos de cova rasa e cínica, toda beleza que está próxima e tangível, será sempre alvo irresistível de uma amarga, satírica, inconfessada crítica...



Quem bate?

É o frio!

Mas frio, tu não podes bater assim,

Pois você já bateu, em outra casa de alguma propaganda que não sou eu!

Mas como assim,

Insistes em bater, ó frio!

Não posso lhe deixar entrar,

Pare, não insistas... não poderei conter-me por muito tempo,

Estou passando mau de calor,

E queimo onde encosto, meus pés estão em chamas, meu carvalho está ardendo!!!

Quem ainda bate?

És tu, frio de rigoroso inverno, que mesmo assim não me gela,,,

És tu, para aplacar minha chama?

Ó frio, meu vizinho é soberbo, onipresente...assiste minha vida de binóculo!

Se entrares, irá me denunciar, dirá que plagiei o inverno

Dirá que já entrou em outra porta, e que em porta minha não entrará

Dirá qualquer coisa, qualquer coisa de ruim,

Mas certamente dirá...

Mesmo sem ter o que dizer, tadinho,

Pois ele mal sabe escrever,

Mas eu o conheço muito bem, amigo frio,

Ele dirá,

Pois então, não batas mais,

Vou morrer de calor, lhe sorrindo, lhe dizendo

“Não adianta bater, eu não deixo você entrar”




F.C.....

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

CANSAÇO

Cansaço,

Inegável sensação de abatimento quando o corpo não mais sorri para o instante que o depõem, quando os estímulos se embriagam na apatia, e a vontade passa a ser mera espectadora de uma inércia que mastiga impulsos e confunde a ação de ser e fazer-se ser!..dormência dos ossos acomodados numa cama de exaustão, de vitórias não mais preteridas, de dias coloridos pintados na tábua dos sonhos, e sonhados como o prêmio de que abrimos mão, quando entrega-se o jogo! Sim, mais do que o próprio corpo, a essência que nos move também cansa, e se derrete junto à angústia de se permanecer vivo, nos tornando condizentes com tudo que já está, com tudo da forma que é, nos decepando da qualidade de transformadores, e diluindo os guerreiros que moram em nós na lava das ordinárias e demoníacas respostas que partiram dos outros...


Cansei,
De ser qualquer coisa menos Eu
Não posso dizer que não sei,
Não posso dizer é meu
Muito menos que me libertei
Cansei de ser os olhos que são tão teus!

Errei,
De pasmar nas noites dos luares de sonhos
E cantilenas sorridentes
Daqueles que lavaram as mágoas
Dos meus tempos de adolescente
Dos meus traumas de adulto fantasma
De pobre indigente

Cansei uma vez mais
De ouvir vazio nas paredes sombrias de casa
De não ter casa nas paredes,
De não ter paredes nos tijolos
E não ver os pássaros soltos com asas
De se afogar nas águas de tanta sede
Chorando sozinho, perdido num colo
Errando o caminho
Das balas perdidas
Estourando as bolhas do champanhe
E as taças nos miolos...

Cansei,
de não dizer nada,
e calar as mentiras tantas
que como batom
passam em minha boca!
E como crepom
Se desfazem loucas,
Desmanchando-se nos refúgios de óculos escuros
Nos guarda-roupas
Dos tantos apartamentos
Dos juízes obscuros
Que sentenciam embriagados
Com as narinas manchadas
Escorrendo argamassa a cerca dos muros
E respirando ironias de inverno
Que nos fazem sentir o frio de seus ossos
E ficar inseguros!

Cansei,
de dormir sem o alívio da sua respiração
e de me sentir aliviado
quando aplacas minha solidão

Cansei,
De morrer sozinho,
E de viver com todos aqueles que não estão

Cansei de depender de tanto amor
E de tanto saber
Do sofrimento que me torna impotente
Se não olhas pra mim,
Se não cuidas daquilo que não quer se deixar cuidar
Se não amas aquele que finge ser só
Mas de alma só clama
Esses olhos do amor
Que nunca cansa de dar...

Amei...
 
 
Fernando
 Castro

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Em um movimento apenas...

A dor,

Inconcebível metafísica da existência essa dor que não se sente na carne!, mas sangra pensamentos, e arde na mente, na culpa de não ter feito, ou de ter feito, exatamente aquilo que conduziu a inexperiência do desejo almejado, ou a vivência da conseqüência funesta, jamais pretendida... ganha-se momentos de suplício numa realidade que se transforma em castigo perante o sensível de nossos sentidos, ou perde-se o último e fatídico querer, que indubitavelmente, não acontecerá jamais...pelo menos não do jeito que já poderia ter acontecido!, e sendo assim, dormimos sabendo que o tínhamos nas mãos, mas por um espasmo,continuamos, para sempre, irremediavelmente sozinhos!


Em um movimento apenas,
O corte do amanhã,
A inexorável lâmina desse Sol poente de trevas,
E iluminado por um fogo que devora o tempo,
E mais que a carne,
Queima uma alma disposta a viver para sempre!

Em um movimento apenas,
Abrimos os olhos,
Respiramos o amanhecer, o inequívoco e contínuo instante
Despejamos uma lágrima no mundo,
Incontida, impensada, involuntária...
Lágrima esta,
Que uma vez chorada,
Para sempre irretratável!

Em um movimento apenas,
Amamos para o resto da vida,
E sofremos sem perceber,
Cada grande fracasso de cada grande amor desvanecido no tempo,
Desconstruído, desfeito em poeira nas lembranças,
E em saudades
No inalcançável retrato do passado!

Em um movimento apenas,
Sentimos a onipotência,
O titânio inquebrantável da imperiosa individualidade moderna,
Fibras de aço em nossas veias de papel,
Que dispensam toda essa nostalgia babaca e romântica,
E nos torna algo para o além do próprio amanhã,
Algo que nem nós mesmo conseguimos,
De fato,
Compreender!

Em um movimento apenas,
Podemos abrir um sorriso ou acenar um adeus,
Expressar uma alegria, ou admitir uma tristeza,
Convidar para sair...ou para entrar, e a nos pertencer,
Sem perguntar, sem ter que saber o porque!

Em um movimento apenas,
Podemos confiar,
Podemos ser,
Uma cor,
Uma dor, talvez....
Uma sonata, em um movimento apenas,
Podemos ser infinito,
E amar sem nem ter pra que...
Em um movimento apenas,
Podemos morrer,
De amor,
De tanto viver,

Mas em um movimento apenas,
Em um único movimento,
Podemos apagar uma vida inteira
De tanto esquecer,
De tanto fingir não perceber
De tanto secar com a indiferença de um olhar
A verdade de uma linda vista,
Que simplesmente existe,
E não pediu pra morrer!

Em um movimento apenas...

 
Fernando Castro

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

LÁGRIMAS

Vazio
Sou lágrima que escorre no nada
No sombrio
Sou lágrima chorada
Poeiras de lágrimas
Sou decorrente da morte
Morte lacrimejada
Sou pequeno e simplório
Oferenda pros mortos
Sou berçário em dia de velório
Sem nome ou registro
Sou lágrima de morte
Sinistro
O que não se fala
O que não volta mais
Sou passado pra sempre
Na dor do agora
Nos dias de lagrimas
Que choram pelos ponteiros
Lágrimas de hora
Sou dor das saudades
Que a vida nos traz
Sou lágrima de mortos
E dos corpos
Que se foram embora
E não voltam jamais

Vazio
sou lágrima que escorre do coração
febril
sou lágrima de rocha
vulcânica
da peste em erupção
lágrimas de fogo
que choram a dor acesa de um vulcão
ardendo de incerteza
sou certo e inevitável
lágrimas da beleza
que apodrece miserável
no irremediável
perecível ventre da mãe
natureza
sou lágrima sine qua non
da tortura do pó
no saco da esperança
o que não se respira
o que não se cansa
o paradoxo
de ser um velho criança
na garganta um nó
sou lágrima do tempo
que escorre dos olhos
da morte de um só



Fernando Castro

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

“PAPE SATAN, PAPE SATAN ALEPPE”

Resta-me o vício
A dor de teu parto
Sou a morte ao quadrado
O beijo e o feitiço
Resta-me o vício
O velho que enfarto
O rosto de Cristo
Sou o seu sacrifício
Do seu mal
Sou o início
Os pedaços de Céu
Recortados de grade
O duplo da foice
O sol crueldade
No beijo demoníaco
Sou a prata e colher
O doce amoníaco
Sou um homem mulher
No orgasmo da flor
No Sexo lírico
Sou o que resta nos bares
Tijolos e garrafas
E os pratos nos jantares
Das santas casas tantas
Que rezam meus pesares
De joelhos em seus filhos
Do seu mal
Sou o início
Ainda resta-me o suor
Resta-me o vício
Da euforia ao redor
Resta-me seu corpo
Desnudo de amor
Sou atemporal
O tapete de averno
Sou coringa infernal
Resta-me o inferno
A santa ceia
Resta-me a dor
Saltando na veia
O sangue no quarto
Que escorre da cama
Resta-me o vício
E a lama,
A lama...

fernando castro

VENTO

Vento,
rasga as minhas vergonhas,
E assopra meus vícios e fraquezas
Para os campos do norte, para lá das montanhas!

Esconde a poeira dos meus pergaminhos
E arrasta os meus mortos,
Que ainda falam comigo
Quando ainda me importo,
Para fora de casa, para fora do ninho!

Apruma as tantas velas nos portos
Dos vizinhos perdidos na beira do cais
E recolhe a lança desses meus inimigos
Que fazem das minhas noites inocentes
Belos Amantes infernais!

Vento,
Lágrima de ar na corrente do dia...
No decair de uma tarde,
Que escorre pela face do espaço
E que arde no frio da pele mais que fria
Socorre os meus lamentos,
E cante para longe as dores e os prantos
Que postos aos olhos tortos dos santos
Já não tem mais ungüento,
E que no peito dói tanto,,,
tanto,
que invento
que lhe tenho ao meu lado
a qualquer instante,
a qualquer momento!

Ausência e loucura
Que fazem a luz do Sol ser tormento
Um brilho que queima os olhos
Mofados e cegos numa sala escura
Não enxergam mais teus braços
Onipotente Vento,
Não enxergam mais teus passos
E fazem palhaço chorar no teatro
Na fama tão loira
No peito um inchaço...
Fazem os ponteiros voltarem ao atraso
No simples contratempo
Do perdão que desfaço
Do amor indizível
Transformado em fracasso

Ó Vento,
Por que nos perdemos?
No tempo, no espaço?
No espaço do tempo
No terror do descompasso
Por que esquecemos
Do tempo que vivemos?
Por que me desgraço?
Por que a febre nos ossos?

Em Tempos modernos
De amores insinceros
De homens devassos
Por que não venero
O seu corpo tão lasso
De luta e de sangue
Tua fibra e teu aço?
Por que ao seu lado
Sempre o mesmo cansaço?

Vento,
Já não tenho mais tempo
De tentar curar
A infecção no pensamento
Já não tenho mais nada
Para amanhã no esquecimento
Me lembrar de assoprar
A vela que nos arde
Em cruel banimento
Para nunca mais voltar
A ser talento... numa alma
Que não seja nada mais
Do que puro e lento
Eterno, incontroverso

Falecimento!


Fernando Castro

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Corpo Manchado

Prometi as verdades por tantos caminhos
Mas não cumpri nem metade
E me vejo sozinho!

Senti os seus pecados com todo carinho
Se mudou de cidade
Arrasou meus moinhos!

Hoje sou rei de minha solidão
E do teu rosto tão caro
Me resta uma face que não me desce o perdão!

Atravesso o tempo com uma faca sem corte
E no sangue um veneno
Com gosto de morte

Meu corpo manchado
Estou preso em você,
Meu rosto marcado
Estou indo a mercê

De seus passos passados
Rompi nossos laços
Trai seus projetos
Mandei tudo pro espaço

Prometi as verdades por tantos caminhos
Mas não cumpri nem metade
E me vejo sozinho!

Senti o seu fado com todo sorriso
Mas não sorri com coragem
E me vejo perdido

E se hoje definho,
Meu corpo manchado
De mágoas e vinho
Sei que não posso
Nadar em seu mar
Sem estrelas, sem cores,
Sem golfinhos...

Sei que não posso
Sentir seu carinho
Meu corpo manchado
Na rosa da morte
Meu sangue marcado
Pelo corte do espinho

Sei que não posso
Viver ao seu lado
Trilhar seu caminho
Meu corpo manchado
Não cumpri nem metade
E me vejo sozinho!

Fernando Castro

domingo, 1 de agosto de 2010

Homens de Antenas

Homens da noite, do pecado de um só
Homens em quarentena
De cidade pequena,
Que amam sem medo, e choram sem dó!

Varrem minhas lágrimas
Em noite tão serena
Onde estrelas tão terrenas
Viram lágrimas em pó!

Homens do lado de lá
Da alma que acena
Pro amanhã que virá
No cheiro de noite diluído ao redor!

Homens da cidade, tão pequena
Sempre ligados, de antenas!
Saem de cena, quando os astros vão brilhar
Despindo o manto desses olhos de Iracema
Perfume alfazema nessa noite serena
Onde olhos maduros
Nos homens escuros
Sem estrelas vão brilhar

Homens da noite, do pecado de um só
Homens em quarentena
De cidade pequena,
Que amam sem medo, e choram sem dó!

Homens da cena
De antenas
Perorando no bilhar
Com bolas de faísca e fumo
Na ponta dos dedos
Um taco, e uma noite, pequena
Desses homens em quarentena
Mirando em meus olhos
Escuros
De cena
Jogam seguros, com tato
E no momento exato,
Uma tacada,
Amena
Em olhos que jogam bilhar
Nessa noite sem estrelas
Que dói e condena
Esses homens de cor...obscena,
Morena
Que não sabem amar!

Homens da noite em quarentena
Que jogam sem dó
Um tiro certeiro
Na alma terrena
Desses homens da noite
Desse homem tão só!

de fernando p/ chico buarque, p/ a., p/ g., p/...  etc!

Intermezzo contínuo

Vazio, no gosto do itervalo…Sombrio,
Pressinto esquecimento nas palavras que te falo...
No gosto das horas passadas,
No tempo das noites sem horas...
Desaparecimento,,
Pressinto sofrimento nas palavras que te calo...
Envelhecer a cada momento de desperdício
No vício de perder o tempo agora,
E deixar amanhã ser algo
Para se desejar e lembrar
A cada instante hoje
Quando sabemos não ter
Em nosso travesseiro...Vazio
O desejo que queremos...
A todo instante, a qualquer hora!!!