sexta-feira, 30 de julho de 2010

Fantasmamor..te !

Para além da voz, escuto sonâmbulo,
Os passos do seu canto,
Que me acordam desse sonho sem cor,
Me abraçam com encanto,
Com pílulas que me aliviam da dor!!!
Sim, este é o seu formato,
Uma silhueta em paixão ardendo no fundo do quarto
Este é o vazio que me deixa
Quando não encontro teu rosto no retrato!
Quando não sinto do perfume de teus lábios
O mínimo do substrato
Que preciso para me manter acordado!

Vivo esse complexo vestígio de sensações amontoadas no peito
Que se juntam cada vez que parte
Deixando meu ar rarefeito,
Por mais que eu trate de enxugar
O vazio nas lágrimas desse olhar desfeito,
Desse triste pensar sem nada esperar de ti,
Meu fantasma de volúpia e coração,
Não consigo conter...
Deixe comigo ao menos
O imperfeito
A sensação de lhe ter molhado nos lábios
O respiro último de um beijo
O gosto da mentira e seu efeito
A qualquer hora ,
A qualquer tempo!
Parta sem dizer adeus,
Mas não leve essa ficção embora
A ilusão do rosto no retrato
A paixao imortal e sua morte
No teatro de nós dois,
Na fantasia de um só...
Isso me acolhe na profundidade de uma lembrança
Uma única e delicada lembrança
Onde os teus olhos são o infinito
E o mundo todo ao redor
Onde o pressentimento de tua candura
É a morfina de uma alma rachada pela falta de misericórdia
Presa numa doença que não tem cura...
Numa prece que não se jura...
Numa dor que perdura..
E a carne perfura, cândida e cruel, sem lisura, sem respeito..
Numa pobre e triste
Imutável
Loucura....

Sangue que empreda nas veias
Falta de ar que se aproxima com sua presença
A pedra de teus olhos quando me odeia
Áspera, gélida, dura...
Quando me mira
Me dando uma surra
De palavras feitas de lâminas
E sorrisos feitos de uma ironia ácida
Que corroem a pele que ainda me cobre
E me guarda de ti,
Meu fantasma de volúpia e coração,
O beijo cáustico que me dás, e me faz mau
Arrasta meu corpo para o lixo, para a sobra,
Para o que restou pro final da noite sem aurora
Sem redenção...
Sem perdão e sem volta,
Pois eu sou um ponto navalhado e perdido
E tu, a magnitude do Caos

Eis que morro no começo de tua transcendência
No fim de teus antepassados,
E no meio de teus braços...
No teu coração!


Fernando Castro

Jura

Sem mais tempo, me despeço desses maxilares de força,

E deixo ir comigo o resto do desejo que ainda morde teus lábios,

Desacostumando meus pensamentos a se manterem longe de você!

Assim, digo que não basta apenas um toque, quando sentimos todo o resto...

Não basta uma ausência na espera de uma iniciativa, quando não se esta lá para se iniciar alguma coisa, quando se finge que não esta...

Já mais que uma vez estive lá, no lado que você julgasse mais próximo de você, e mesmo assim, estando aqui, se coloca sempre do outro lado...

Quebramos a mesma taça, e respiramos do mesmo calabouço os vestígios de lágrimas e gritos que sufocamos ao impedir esse beijo... esse último e derradeiro beijo na despedida de um sonho que sempre retorna, mas nunca se conclui,... um sonho que nunca deixa de ser um sonho!,

Isso é a sua face sorrindo pra mim no instante de um desespero onde você não está lá, onde sinto perplexo o corte da sua ausência em minha pele, e os tragos de solidão em cada cigarro que fumo somente para enxergar seu rosto na fumaça...

Isso é você vestido de noite, intacto, impenetrável, intocado pelos gestos de meus olhos, pela música de meus lábios,, isso é o que sinto cada vez que nos despedimos sem o corpo, sem fala, sem razão...

Mais que uma vez estive próximo dessa miragem de suor e felicidade, e mesmo assim, não alcancei a poesia com as mãos, não encostei o infinito com os olhos para poder chorar as lágrimas da eternidade,,,,

Não existe o para sempre onde poderíamos viver esse único instante, não existe calma,, não existe retorno sem dor... a pedra que empurramos, e que cai, que rola...somente para ser empurrada de novo! Somente para fingir a vida no túmulo de um coração sem voz... rouco de tanto falar... de tanto dizer... não da mais para esconder..! não da mais para não sentir...não da mais pra segurar...

Se não morre-se de amor, morre-se de desamor... todos os dias eu morro na cilada dos teus movimentos,, morro seguindo sua pista...! uma pista que não me livra da dor, que não me leva a você...

me perdi no caminho, me perdi em seus olhos, cegos, sem escutar a música que te segue , como uma cauda de um cometa feito de paixão....

Acabaram-se as chances de viver de novo..., de anoitecer sem solidão...Acabaram-se as fichas... apagaram os números dos dados, Abaixaram o volume do som,... acenderam a luz....

Sem mais ter o que pensar, dizer, ou sentir...

Retornamos para o final, onde tudo começou...

A festa acabou,

Sem ao menos,

Eu te dizer o quanto

Preciso te dizer...

Adeus!

 
fernando castro

sábado, 24 de julho de 2010

Noite de Pedra

Uma noite de vício rasga o silêncio,
Grito de fome e desespero
Um sonho vira pesadelo
Em noite de fatos fora do quarto
Em silêncio de palavras
Que abrem o peito
E sangram um infarto
Na boca do lixo,
No silêncio do asfalto!

É assim que se despediu de mim
Com um passaporte nos olhos
De ida pro lugar que alguns
Chamam fim
E de volta pra um lar
Que outros chamam
Jardim!

É assim que sorriu pra mim
Tirando um sarro
Numa mão
Um copo trincado
De whisky sem gelo
barato
Na outra,
trêmula
Um cigarro,
Quase apagado,
Sinistro,
uma Boca no filtro!

Raspas de batom
Restos de som
Que ainda estremecem a cabeça
Dentro
Restos de vozes
Sem timbre, sem tonos
Perdidas e ecoadas
Pelas ruas do Centro

É assim que renasce a morte em nossos desejos
No desespero de uma noite
Sem possibilidade de recomeço
É assim que nos perdemos fácil nos repetidos erros
No intervalo de horas
Que fazem o pó amargo que somos virar gesso

Por que não mais um drink?
Para calar a angústia enquanto bebemos
Molhando o que sobrou de ironia
Na madrugada que se extingue
E devora os ossos da energia
Que ainda temos
Enquanto que com olheiras
que falam
Vivemos empedrados,
e continuaremos vivendo
Para além do dia
Nos restos da noite
Acordada em nós mesmos


fecastro

sexta-feira, 16 de julho de 2010

O Estrangeiro

Quem sou eu?
Andando sem sono pela madrugada
Atravessando os antros das badaladas
Fumando cachimbo com o fumo das fadas

Quem sou eu?
Sumindo de dia pelas mesas de bares
Corrompendo a honra de todos os lares
Envenenando os pratos de todos jantares

Quem sou eu?
Provando o amargo de cada licor
Brincando com as cores de cada flor
Tirando a roupa em cada pudor

Sou um pouco de tudo,
Ou não sou nada?
Sou uma terra erma e vazia
Ou uma floresta encantada?
Sou a mentira irrecusável
O desejo insaciável
Ou a doença sem cura?
Sou a morte cega
O vicio e a loucura
Será que sou a fissura
Do delinqüente?
O medo sem carne
Aparente....
A carta que falta
De uma última canastra
O doce coringa
O líquido incerto
Um perfume ou uma seringa?
Sou o louco doente
Será que sou ego,
Perturbado e indecente?
O suor etílico que escorre na farra
O sangue vermelho que não se narra
Estava perdido no coração de um inferno
Sou o frio que transcorre da morte no inverno
Quem sou eu?
Será que sou o que sou?
A pura falta de censura
Delicadeza esticada na mesa
A pura brancura
Sou todo incerteza
Balada de mephisto
Em suas notas mais escuras
Sou a contra mão gangrenada
Na torturada ditadura
O corte e a impostura,
Da carne mutilada
Rasgada e vexada
O olho mágico
Atrás da fechadura
Quem sou eu?
No gozo supremo
O Estado Maior
Do vinho terreno,
Em corpos sem nexo
Sou o cheiro e o suor
Da pele e do sexo

Sinto que sou todo esse descompasso
A moral em putrefação
Sinto que sou toda essa vida em orgia
Deliberada compulsão
Sou certo e errado
Sou querido e odiado
Sou tudo que não cabe em mim
Sou goles de perversão com
Azeitonas e gin
O canudo de prata
Sou mais do que o fim
Quem sou eu?
Que bala me mata?
Posso ser o cão
Na augusta consolação
De incesto da noite para com o dia
Da mãe com seu irmão
Sou Hipólito desossado
Pelo amor que ele não sentia
A falta de lógica
Um estupro e seu perdão
Sou a total ligação
Da cruz de madeira
E sua satânica inversão
Nos lábios de Fausto
A voz da decadência
O descontrole de Dido
Devorada pela paixão


Quem eu sou?
Nesse mundo sem respostas
De quem sou ?
Nessa terra sem dono
O que sou?
Nessa translúcida realidade
Quem sou eu,
Além do começo
de um outro dia condenado
a sumir na eternidade?
Além do esquecimento
inventado para memória
dormir em liberdade?
Além de mim mesmo...
E Todos, de verdade?





fernando Castro Castro Castro Castr...Cast..Cas...Ca...C.....

fernando castro

terça-feira, 13 de julho de 2010

J.S.

O mago das palavaras,
Cego de amor em cataratas
De águas e versos que escorrem no infinito
Por suas páginas desenterradas
Da terra dos romances
Da poesia letrada
Eis que surge um mito que escrevia lendas,
Eis que nasce uma fenda na história
Que sangra agora,,
E te abraça na memória
Das palavras, o mago
Dos lagos de frases
Dos rios de sentenças
Chegou sua vez
De ir para o depois
Da alma e do solo português
Eis que se fez
Um marco na inteligência
E na reminiscência do mundo
Que chora tua ausência
E sente
Seu corpo docente
Em palavra dolente
Ir se embora
Inigualável mago
silente
Mago das palavras,
Da sensatez das concordâncias
Do verso português
O mago
Em todo absoluto
Adeus irmão,
José Saramago !!!


Fernando J C...

Uma árvore de noz

Estou amarrado nos nosso próprios sonhos,
Não sei ao certo, mas parece que ainda espero você
Desci das estrelas na última vez que nos vimos, mas agora elas estão tao desertas
Nem brilham mais, apagaram o céu...
Os pontos estão escuros, como seus olhos
Negros,
Negro como o meu sangue, que escorre pela agulha cravada no seu disco,
Fico assim, um pouco mais surdo
Quando sua guitarra atormenta meus pensamentos
Não consigo dormir
Tremo de amor
E solidão
Estou preso em mim, sozinho em meus medos
Em nossa incerteza,
Será que teremos outra chance?
Me disseram que você não está com ninguém
Seu cigarro ainda esfumaça meu quarto
Me disseram que você tem medo mim
Quero mais que cinzas...quero a brasa viva de teus olhos,
Sua delicadeza de artista preenchendo os meus jantares
Quero provar que pode ser muito mais do que pensa
Só basta dizer sim
Sim
A vida te pede isso,
Para se bastar em mim,,,
Nunca irá saber se calar essa boca,
E engolir essa voz que pede para ser arrancada das suas entranhas
Esta tudo ai
Escuta, e diga se estou louco
Só sei que não irei dormir
Para ouvir você dizer que também acha pouco
Para ouvir tua música chorar
O amor que esconde em teus olhos
Que guardou para me dar...

FeC. p/...

Madame Enila

Ela ainda era velha, e permaneceria em silêncio para o resto dos seus dias. Isso não mudaria quase nada daquilo que sempre foi, um simulacro de paixão, silencioso, um coração em cima da mesa de jantar que se esquece de bater. O sangue ainda jorra pelo lado esquerdo de seu rosto, manchando um pouco mais maculado corpo com os vestígios de um desespero que não se encaixa na vida. Viver era sofrer, e a cada tilintar das horas seus olhos secavam ainda mais, por mais que insistisse em sorrir, em sua face uma cicatriz de tristeza já havia paralizado seus músculos, e a pele como pedra, trincava, fazendo sulcos e trincheiras em sua palidez facial. Seu nome era Enila, Madame Enila, assim gostava de ser chamada por seus alunos, assim seria lembrada nas horas escuras do dia, nos intervalos hostis das aulas ministradas com rancor e frustração, por não ter, como aqueles alunos, continuado a perseguir a vida em todas as possíveis formas de existir e transgredir. Não sabia perdoar, e fazia questão de envenenar o ambiente exalando esse forte perfume misto entre convulsão e crítica mordaz. Suas palavras atemorizavam os pequenos estudantes, que muito não sabiam do poder infausto da vida e seus abismos. Eram jovens, queriam sol e música, queriam cantar com os amigos e nadar no mar, queriam não ficar de recuperação em pleno verão, queriam sorrir. Madame Enila não podia compreender a felicidade contida no sol, talvez por nunca ter olhado para ele sem óculos escuros, talvez por nunca ter pensando que ele é imprescindível para nossa existência. Sua maior companhia era um gato preto, vivo, e um outro branco, empalhado. Sua consciência mórbida das coisas chegava ultrapassar os labirintos da imaginação e se projetava tão pugnazmente na realidade, que chegava ao ponto de chocá-la. Seu figurino também era preto, roupas de tule negro misturados com xales e linho faziam dessa senhora um ponto exótico no meio do fim do mundo. Pouco restava dos seus dentes, amargurados pela falta do riso, e pelo excesso de censuras. Seus lábios recortados equiparavam-se a aridez de um tapete de caatinga, no auge da seca, onde apenas abutres e roedores escolhiam a cena para desfilar. Não chovia em seu olhos há mais de década, e a rigidez de todo o seu caráter jamais permitiu com que Madame chorasse. Pobrezinha, ainda acreditava que sempre foi justa, e estava a cima do comum, da causa ordinária; acreditava que devia-se ter uma causa, apesar de nunca ter ficado muito claro pra ela qual fosse. Impecavelmente pontual, fazia da engrenagem de um carrilhão competidor iniciante, pois estava sempre mais pontual que o próprio relógio. Cobrava essa sublime perfeição de cada um a sua volta, e fazia seus alunos perderem quantas viagens quanto necessário para aprenderem robotizarem seus hábitos. Considerava seu fanatismo como sendo classe e etiqueta, e adorava dar aulas sobre como se portar em todos os lugares, nas mais diversas situações. Tinha resposta para tudo, e de tudo certa estava que seu ponto de vista era incorrigível. Apesar de não sorrir, conseguia sarcasticamente distribuir conselhos e lições de moral. Era impagável, Madame Enila, em todo seu linguajar, em toda sua robustez, jamais se viu professora como essa nos confins da humanidade. Ossos a flor da pele rasgavam o quase nada de carne que cobria o quase nada de vida, guardado por uma magreza gélida o suficientemente azul para delinear os limites de um necrotério em suas entranhas semi vivas. Uma clara antecipação da morte. Uma negação da vida.

O sol tinha ainda mau se declarado nesse dia de despedida. O cinza e a palidez do amanhecer escondiam o aviso fúnebre que chegaria de imprevisto. Por alguma falha ou precisão, seu despertador não tocara aquela manhã, e seus olhos se acostumaram a permanecer fechados sem ele. Pela primeira vez em anos de docência chegaria atrasada. Isso seria por demais indecente. Teria que abrir mão do mingau com aveia de todos os dias. Apesar de morar a algumas quadras da escola, essas quadras teriam que ser percorridas, e suas pernas já não eram tão lépidas quanto nos dias de sua mocidade, de sua interrompida volúpia. Ainda bem que não usava maquiagem ou perfume, pois não haveria de perder tempo com essas bobagens. Naquele mesmo dia, outro despertador havia se atrasado. Diabólica coinscidência. Um de seus alunos já enfrentava o desespero, frente a pavor imposto por Madame Enila aqueles que não se mostrassem presentes nos primeiros 5 minutos de sua permanência em sala. A mãe do menino fazia de tudo para aliviar o fardo do filho, pois mais do que ciente, já estava cansada desse temor infundido pela professora as crianças. Tinha tido algumas poucas palavras com ela a dois anos atrás quando o menino não fora considerado apto o suficiente para passar de ano. Poucas e suficientes palavras para a mãe reconhecer sua impotência frente a amargura inamovível de Madame Enila, e amaldiçoar aquela velha bruxa por sua intransigência. Era uma mulher de decisões irreformáveis. “Vaca, tomara que morra!” Não deixaria seu pequeno ser humilhado de novo, ser impedido de assistir a aula, carregar mais uma falta por falha técnica do seu despertador impreciso. Não, isso não iria acontecer, nem que para isso fosse preciso atravessar um farol vermelho. E foi justamente a 10 metros do colégio, que os espíritos do passado levantaram das tumbas que guardam os destinos e as desgraças humanas para cantarem o hino da maldição atemporal, aquela apta a devorar seus pedaços em qualquer lugar da linha do tempo. Abria-se o túmulo de Pandora onde dormem as Eríneas vingadoras. A professora ofegante em sua pressa, estava mais distraída do que nunca, e só enxergaria o mundo de novo quando atingindo seu destino final. O farol de fato estava vermelho. A mãe não teve tempo de brecar, e confesso que sentiu uma certa satisfação pessoal inconsciente. Nunca esqueceria aquele rosto, esmagado no seu pára-brisa estraçalhado. Madame teve tempo de uma última olhada para dentro do carro, para os olhos daquela mãe que reconhecia atrás do volante. Pura ironia, lembrou que na ocasião a recebeu na porta, e nem ofereceu um café! Um barulho de pneu rasgando o asfalto assustava os pássaros. Agudo. Vermelho. O cemitério local ganhou mais um pouco de adubo, e as aulas estavam suspensas até segunda ordem.

fernando
castro

sábado, 10 de julho de 2010

2o. Turno

As ruas ainda escuras, os muros delinquentes derretiam os tijolos
Argamassa espacial, para rechear as cartilagens e as plásticas
Das crianças sem colo,
Sem cloro, sem vida
Beijos de abutres podres em clorofila
Rasgam as carnes dos amantes em pedofilia
E fazem politicagem de garagem com
Ouro em pó e alquimia
Acento retal numa acústica sem precedentes
Fazem os bebês nascerem doentes
Gravatas umbilicais e orçamentos de fézes
Pura licitação sem o brinde da libação
Apenas o silêncio da catequese
Onde sem gospel ou soul
Beijam-se meninos depois da missa
Ao som de ave Maria e rock n roll
Assim fizeram com cristo
Castrando sua virilidade
Assim farão com todos os que vêem
Com peito de aço e verdade
Num formigueiro de ratos
Arrota-se penas de anjos
Veste-se com plumas
E cheira-se os paetês...
Contra o giz dos fatos
Escrevemos antes que suma
O que restou de lucidez...

fc

sexta-feira, 9 de julho de 2010

loja de conveniência

Que horas sao?

Nao sobrou muito mais para dar,
Talvez você pense que nunca lhe dei nada,
Mas talvêz seus olhos nunca estavam la para olhar...
Eu sei que pensa que sempre enxergou meus defeitos
Mas onde está seu coração nesse seu mundo perfeito?
Talvez não tenha visto o meu sangue!
Mas o meu até logo já te fez corar de paixão
Que horas são?
Ainda sobrou um minuto para um último vexame?
Talvêz voce ainda precise pedir perdão!
Quem é você para julgar?
Apenas com um relógio, sem pulso!
Quem nunca subiu em cima de uma mesa de bar?
Quem é voce para não amar?
Não sei se realmente sobrou algo para oferecer
Ou algo para você sugar
Sei que perdi as horas
E já não tenho mais tempo para contar
Tudo pode ainda acontecer
Mas quem se importa,
Quando a felicidade está morta
Um abraço na sua alma vazia,
Que sempre estava lá,
Quando ainda havia restos de alegria
Para te alimentar
Que horas são?
Acabaram-se as bebidas,
Talvez não tenha mesmo mais nada a oferecer
Quem sabe numa esquina...
É hora de se deitar!!

fernando castro

terça-feira, 6 de julho de 2010

tempo perdido

Para onde foi o tempo, na cidade que cresce em meus braços vizinhos, em meus corações na lareira? Num inverno de palavras de amores, para onde foi o tempo, quando ainda era claro, e eu só nos seus olhos, só via o seu tempo?

Quem sabe para onde foi  esse tempo, na despedida dessa vida sem lábios, sem o calor das suas palavras que acostumaram tantos corações, e coraram tantos meninos que morriam de frio, em baixo de uma ponte sem destino, sem carros, sem ninguém para atravessar em cima dos meus medos e solidões, e sugerir uma luz num sorriso sem preço!

Para onde foi esse tempo de sonho e de lua, de brilhos e delírios de mel, de favos molhados de chuva, de algodão doce de ser, e morrer sem tempo de pensar o que poderia se ter sido se tivéssemos mais tempo?

Para onde foi você, meu menino de todos os tempos, nessas lágrimas de todos dias, onde nada mais flori na jardinagem de uma alma solitária, apertada por uma saudades que nem se explica, e que muito menos pretende ter um fim?

Já é hora deles partirem, e carregarem nas malas as pequenas alegrias, deixando um último sorriso de enfeite dentro do aquário, meu menino de peixes, de sonhos em baixo da água, mergulhador de horas sem nome em minutos sem ponteiros!

Já é tarde, e o vento encosta mais forte em nossos dias, se apóia mais pesado em nossos ombros, nos fazendo sentir um pouco mais desse pêndulo que persegue, e que agora grita para nós que de fato existe, e nos faz assumir o final de nós mesmos diante de nosso próprio amor, que supostamente, seria sem fim.

É tempo de terminar o que começamos, e de sorrir mesmo chorando na alma, para as últimas flores que nascem nas guirlandas de nosso filhos, que sem saber, já se despedem de nós, e choram o tempo sem cara que escorre de nosso olhos, meu amor....

Jamais me senti tão só, e tão sem tempo de te dizer o quanto posso ainda te amar,

tão frio, tão fraco ante tudo que nos separa!... paredes e tijolos abraçam o abismo..

o céu também chora, e os pássaros cantam na chuva a melancolia do adeus...

para onde foi o tempo? Quem sabe me responder para onde ele foi agora?

Os amigos também deixaram a estação; era como se houvessem pensando que tivéssemos enlouquecido, e que com o passar das horas, tivéssemos parado no tempo, e não mais serviríamos para suas piadas do fim de tarde, não tínhamos mais nada para dar...

Era como se não houvesse mais nada no mundo, nem mesmo o tempo, nem mesmo quem amo, e ainda assim insistisse em conjugar os verbos em pessoa fantasma, no plural da solidão, num eufemismo para total abandono, em nós mesmos sem ninguém!

Não tinha mais tempo, não tinha mais você!

Quem sabe para onde foi todo esse amor?

Já é hora deles partirem. Não existe mais redenção. O relógio parou, relógio de pulso, sem tempo, sem pulso, parou de bater.

O que mais posso sentir nesse agora de pulsos abertos? Que tempo me resta para saber, para onde foi todo esse tempo que nunca soube me responder...

Para onde vai o tempo, quando estamos sozinhos?


fernando castro

domingo, 4 de julho de 2010

Aline

ela surgiu a nado,
do oceoano dos amores, veio regar minha praia
seca, sem galhos, sambando com os olhos molhados
de mar e de sereia
sambando descalça com versos de deusa
na areia
foi assim que ela surgiu
no meu coraçao mareado
pequena, perfeita
foi assim que ela dançou
serena, inteira
era mais do que linda iluminada sob as águas
um oceano, uma cena
mais que o sol que te ilumine
assim ela lavou as máguas,
dos mares, terrena
assim se fez a mulher, pequena
aline

quinta-feira, 1 de julho de 2010

A MARé...

Mar aberto, maresia salgada respingando no silêncio da pele
Sol se pondo no infinito,
No céu aberto, a maré alta beijando a sola dos pés.
Nuvens e gaivotas dançando nos seus olhos
Refletem azul, mais azul do que cabe na esperança
Mais cor do que cabe no céu...

Para onde vão as mãos que se abraçam nesse fim de tarde?
Por que ela não será mais a tarde nos problemas do amanhã?

E assim, a tarde se dilui com o vento, com a mistura de suor e sal, com beijos molhados, com risos perfeitos!
É assim que você cabe em mim, como uma tarde intocável flutuando no mar da vida, na praia dos sonhos!
É esse o motivo, e o porque... é esse o sentido, o perfume de um amor inexistente amanhã, mas oceanicamente tão sublime no cair das horas, que não posso mais viver sem!
Não posso mais mergulhar em nada que exista sem ter a certeza de pelo menos poder lembrar, e saber que uma lembrança é mais que um pensamento, é a certeza de que estamos vivos!
De que estou vivo com você, sozinho dentro de mim, para todo o sempre, para além das lágrimas do final,,,,
As tais lágrimas de sal, de Fernando em pessoa, de pessoa em todos nós, as tais lágrimas de um anti-retroviral!

As ondas ainda se quebram na pedra, onde nasce um amor impedido pelo medo de se quebrar, medo que impede amar, a incerteza de poder se livrar da morte, ou pelo menos, do filho que ela gerou dentro de nós!
São lágrimas de impotência que choram antes do fim, e que dizem tanto mais quanto esse fim de tarde,,, não esperam mais, não choram mais!

É assim que nada esse pássaro beirando os limites do céu, entre o abismo e a liberdade!

É assim que somos nós... na praia dos sonhos, no colorido que seus olhos me deram de presente, no presente em você, por estar ao meu lado!
Mesmo distante, abraçado pela vegetação dessa ilha que somos, sinto o perfume de seu carinho, e a proteção de seu sentimento!

Obrigado

Pois seria apenas um náufrago sem a balsa de teus braços.

fecastro