terça-feira, 29 de junho de 2010

a Estrada

Era noite já avançada, eu de longe, em pensamentos vagos,
Via, um pouco embriagado, uma fumaça no fim da estrada!
Eu vi uma estrada, um tanto esfumaçada, para além de minha brisa sem fim!
Para os raios de uma tempestade de fantasmas no jardim,
Para brisa encharcado pelas gotas de teus olhos
Chorando loucuras e paranóias sem sentindo dentro do poço sem fundo que nos habita, que nos perfura...
dentro de mim!
Em noite avançada, pouco bêbado, perdido na estrada da vida
Estrada da madrugada, escondida e infinita, sem acostamento
Dirigindo sem rumo nas ruas tristes de um pensamento qualquer, um devaneio
Morrendo de saudades, e vontade de ligar,
Gritar seu nome no silêncio da escuridão
Repetidamente você, no perfume da noite, no cheiro do vazio,
Estagnada e previsível imagem depois de cada curva
Cada avanço de sinal,
Nessa estrada sem parada, e sem ninguém para atropelar
Asfalto do desespero
Do nada depois de ti
Já era noite avançada, e a chuva insistia em lembrar
que estava ausente
a capota, o teto de vidro, o brilho solar....
Tecnologia da ausência
O vidro era elétrico, a guitarra era elétrica, os raios, o contato, a ignição...
Seus beijos poderiam o ser com o certo batom, com a intensidade nos lábios
Mas esses se perdiam no velocímetro dos teus olhos,
que não mais mediam a velocidade para me encarar, para me ultrapassar e me deixar obsoleto...
para perturbar minhas mãos trêmulas no volante,
para me fazer esquecer de desviar do buraco!
Já era noite avançada, na estrada da vida da madrugada sem fim
Estrada esfumaçada, e névoa sem explicação, de sereno quase neve
Neblina como o véu que te protegia nas festas,
No brinde do combustível ideal
Não enxergava mais nada, mas sabia que a gasolina estava no final
O perigo morava no espelho,
Em retroceder
No amargo do retrovisor
Onde podia ver o seu reflexo,
Sua imagem sem gosto dançando atrás de mim, me seguindo
Me assombrando
Cantando os pneus de um conversível sem sentido
Cantando no camarim de um prostíbulo sem porta de saída
Perdido no fim do mundo, antes da curva do juízo final, do fim do juízo!
O perímetro da loucura era tão instável, que os freios já eram dúbios demais para trazerem segurança
Acabaram as pastilhas
O disco já estava arranhado
Ninguém mais ouviria o final da festa,
A viagem tinha acabado sem você
Já era noite avançada,
Chovia muito,
Apesar do Marlboro continuar a queimar
Vivo, forte, sem se esquecer de ser um vício, sem se esquecer de mim
A estrada estava esfumaçada,
Noite avançada
Visibilidade atordoante
Uma placa: cuidado animal na estrada!
Acabaram as pastilhas
Uma tentativa de freio
No impossível, no absoluto, no inevitável
Você estava lá
Um veado no meio da pista
Um último suspiro
Um acidente
Era noite avançada,
Quando meu coração parou de bater...


fcastro

sábado, 19 de junho de 2010

AGORA

Sobrevoando as águas, das tempestades dos sonhos,
Assistiam os anjos as lágrimas do passado...



Liberdade, chovia do céu
E sorrisos, e perdão,
E o amor dessa vida, para o além do agora
Para tudo que abraça o mundo
Luz da pele, e do consolo de paz
Assim se fez um dia magistral
Era deus, cantando de robe de seda...Rosa
Bod Dylan em cima da mesa das nuvens
Cantando pedras rolando
Nos olhos de um menino, as labaredas
Da não pretensão , e da inocência infinita
Que cabe no sorriso a um desconhecido
Olhos de céu, face leda
O amor no estranho, pelo outro que toca
A guitarra sem as cordas da forca, e sem eco
Sem ruído, toca sem dó sustenido
Todo o amor escondido numa pele que sente
Transparente, amando sempre
Incondicionalmente
Sem razão, sem porque
Eis que é a única forma de tudo que anda
E dança, e da vida que canta,
E do sol, pincel e cinzel, espalha sentimental
O amor colossal
Eis que chove para o novo dilúvio,
Da esperança e da fé
Novas águas puras de meninas adultas
De sopro de cordas de Noé
É assim que é
Tempestade de amor
Por ti, e por tudo que vês, e por tudo que somos
Nada mais do que apenas isso...que esse amar
Isso é vida, é sopro que responde a inércia
É ar
No alivio, e na completa aceitação
Venha até mim meu irmão
Venha
Segure minha mão
Meu bem amado
Acima das colinas de um passado, onde existe o certo
E o conceito, mau feito
Do errado
És tu, sempre, aqui,
Do meu lado!
Onde vives, é onde eu moro
Na tua dor, se do mundo impercebida
Eu caio, e choro
Que a vida nasça
Uma só raça
E que o amor desfaça
Toda a invisível ilusão
Que nos separa, e na distância nos enlaça
E o medo, de olharmos para as estrelas
E enxergar a liberdade
Nos sorrindo do infinito
Pois nada mais existe
Além desse gigante e universal
Convite
Que nos diz simplesmente...
Ame, vença, faça


abcdefernandocatrogahijklmnopqrstuvwxyz...

domingo, 13 de junho de 2010

Le corbeau

Anda, rápido, saia daqui,
Vista tuas asas negras,
Sorria endiabrado! Perdi
O brilho de centelha
Desse vôo anoitecido
dos olhos em chamas
quando monstro alucinado
em mim , desfaleci
Teu sangue envenenado
que sorri... sorri!



Eram essas as palavras, o peso no ar se empestava de gralhados junto ao vento, urdindo pelas frestas da janela de madeira velha, pelo mínimo de espaço deixado ali para esse vento entrar, e ressonar com atrito sua voz sombria, seu grito de satanismo e genocídio pelos cantos do quarto profanar. Era esse o inicio dessa madrugada em tempestade, em dores nos ossos, e alucinações, e medos transfigurados no escuro. Por que não cantavas o amor? Por que não olhavas para a parte diáfana e colorida de seda do nascer encantado das coisas? Por que não sorria? E após este pensar, foi extamente após essa inquietação que assumia imperiosa cobrança frente a si mesmo, debulhado no pedestal de uma janela sem fim e sem término, no umbral, no exílio de um vendaval interposto entre a meia noite e o seu final, que no décimo terceiro andar de homicídio, ele sentia o desejo de não se perguntar mais nada, e se atirar não céu abaixo, mas na simplicidade de uma vida cotidiana, aplacada pelos calmantes que uma rotina pode lhe dar. Um trago, nesse momento um trago. Talvez o último, talvez o primeiro. Sabia que não seria naquele trago que sua paixão encontraria uma resposta ou um sossego, mas sabia que ali estava o agora, naquele mísero trago. Tanto faz. Podendo esquentar seus pulmões com essa magia que se mistura e derrete no ar, fumaça dos sonhos, ele se sentiria um pouco mais vivo e lúcido, pois ali ele se reconhecia, ali já era de novo ele. Sem fuga de nada, sem metamorfoses sem sentido. Queria o comum e o básico. O feijão com arroz ao meio dia, e sem exigir muito, o sono a meia noite. Um suspiro. Não seria assim. Nunca mais. A vida era um esqueleto, sem revestimento. Não havia mais pele, em nada, sua loucura havia lhe condenado para a maior das infelicidades terrenas. Viver essa poesia fantástica gratuitamente dada aos olhos com o desespero avassalador de sua inversão. Não existia mais pele, em nada, de tudo arrancado, até da mais irrelevante árvore, não haviam lhe poupado a beleza. Olhos molhados de tristeza e solidão. Oito gramas de cocaína em cima da mesa. Um canudo. Ninguém para levá-lo ao hospital. Sete dias depois...uma missa.



f.c.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

CIDADE das NOITES

E porque nao haveria de chorar?


Uma única vez sequer, porque não poderia rasgar meus olhos com as chamas das lágrimas sem motivo, sem gosto de tragédia e saudades, sem razão?

Pela loucura de todos morremos cada vez mais de pressa, e sem tempo, não aprisionamos nosso olhar no simples, não aprendemos com o cheiro da manhã respirar a tranqüilidade de uma luz solar ao se escorregar numa pele consciente de si mesmo!

Para onde foi essa percepção,, por que remoto se foi o controle do ar, mais condicionado a refrigerar todos os ambientes poéticos de nossa alma mais fria, mais esquecida ao relento?

Rapidamente, o clarinete desperatava meu dia como a garganta de um touro robusto e dourado, cuja pelugem brilhava em meu pensamento virilidade e desejos secretos de labirinto, onde nada se perde, e o nada se recria!

O sol insistia em chover aos pedaços, parcelado pelas nuvens de todos os tempos, as mesmas da antiga era da paz, e as mesma do futuro robótico das guerras, e da dor massificada em pensamento, alienada, amortizada pelo seu próprio excesso, que conduzia a carne a se acostumar com a própria falta de polidez! Assim era despejado os alimentos para as células da modernidade, mastigados e insípidos, sem gosto de vida com creme de leite, embrulhados em uma ração paletizada, triturada e moída com dejetos de transformação anestésica e cirúrgico calor!

Éramos todos livres, presos num quarto chamado Liberdade.

Um quarto de sala, um quarto de hora, um quarto de vida.

Esticávamos nossa pele e nosso tempo ludibriando nosso pensar com a primária sensação de se viver mais, porém abreviávamos a metade de nossas vida pela metade, e ainda pagávamos mais por isso.

Sem tempo para sorrir. Sem tempo para motivar um sorriso. Sem motivo para ter tempo.

Aonde estão os heróis que assassinavam os deuses? Para onde foram os braços que erguiam as lendas pra fora dos livros de papel, e sustentavam músculos mais belos do que todos os vícios anabólicos e obsessivos juntos?

Todo esse aglomerado de corpos soterrados pelo peso vazio de uma vaidade volátil, condutível ante mínimo sopro de reprovação, vulnerável, sempre na expectativa e na espreita do olhar do outro para se consubstanciar, para viver, para se sentir cheia em seu significado e propósito, de um outro que certamente espera o mesmo de você!

Vã presunção, ciente de sua pose em manequins que se mantém como as cracas presas em seus comparsas para melhor unificar a insignificância, e majestosamente, como bolhas de champanhe que explodem com o acordar do petróleo negro na espuma de um copo de cristal, se desfazem todos os dias, para se criarem de novo, todas as noites, exatamente iguais.

Assim era o funesto brinde do amanhã, mergulhado nesse momento de gozo ao se acordar, olhar para o lado, e ver um estranho sem roupa se desmanchando na sua intimidade, violando o seu silêncio com sua respiração invasora. Era sua carne que meus dentes pediam. Seu sangue infectado talvez seria o antídoto para o meu veneno...para a minha falta de cura. Na doença do outro perco minha sanidade, e na minha doença perco o outro. Como sobreviver a esse estupro? Como devorar a si mesmo com a garganta empapada de sangue alheio, que quente escorrega por uma traquéia de fumaças e gin?

Beijamos o que sobrou do estraçalhamento de cadáveres mortos ao longo de anos de racionalização do extermínio em massa em máxima eficiência. Somos o produto de sucessivos testes nucleares, e nada mais se espera de nosso esperma radioativo e estéril, onde nada mais se cria fora a palidez incansável de uma orgia sem desejo e automática, conseqüência dessa herança genética de noites que se repetem, e nunca se acabam. Desta forma abre a luz um corte em meus olhos ao atravessar um sulco na janela trancada, como um bisturi em seu apogeu perfura minha retina seca, dando uma agulhada em meus sentidos embevecidos com o escuro. Sou o vampiro de mim mesmo, e passo nas trevas eternas buscando buracos em espelhos para depositar meu viciado desejo. Somente esse reflexo apagado da vida que enxergo, e tudo o mais diferente se tornou para mim invisível, atravessando meus sentidos como esse feixe de luz que agulhou a calcanhar de meus olhos. Busco um osso para palitar os dentes de minha genitália, e pouco bêbado, me conformo com o lixo augusto de uma menina das camélias, prostituta de vinil, em botas de couro e cinta de zinco e titânio. Algemo meu instinto na parede enrugada pelo mesmo mofo ardendo em nossa pele, e de cócoras, rebaixo todas as possibilidades de olhar para o amanhã, e espremo com meus músculos mais quentes toda a invasão repulsiva e consoladora desse objeto vivo que escolhi para ressuscitar-me ao menos nesse instante. Com olhos injetados transpiro meu prazer em loucura insaciável, em movimento cuja incansável repetição leva ao total aniquilamento de uma integridade que sangra compulsão orgânica e pedaços de sadismos, espalhados num tapete improvisado de lençol. Dentro de mim um braço, o tal braço do herói que um dia erguia lendas agora empurra meu intestino cada vez mais para seu interior. Ai estão os heróis do agora. O cúmulo da obscenidade. No sangue e na urina que escorre de nossas bocas quando vamos à missa. Na santa ceia escatológica de todos os santos, que juntos devoram seus pecados e mordem as vísceras do demônio no café da noite, no chá da manhã, e no almoço da madrugada. E logicamente isso é apenas o começo, pois quanto mais enterramos em nossa carne o falo da destruição, mais queremos rasgar o resto de dignidade que possivelmente poderia se insurgir contra esse novo paradigma moral, onde a amoralidade nasce com a escassez de saliva na pele, suor na seringa, e lágrimas nos quadris. Um brinde aos demônios da serenata ao luar, ao doce de mácula negra borbulhando debaixo de minha língua, testando o meu paladar com ruges comentários de sentinelas virtuais que muito se assemelham aos monges da perfídia medieval, sempre recalcados de desejos, e sempre na espreita de uma cena decorada por outros corpos para alimentar sua voracidade de imagens e experiências as quais não têm a devida coragem para viver.

Sim, essas assombrações do delírio desprovido de culpa perseguem o vexame histérico de minha lucidez esparramada com a sujeira da sarjeta, deflorada pela luz da manha virgem de rostos sinceros e mãos por demais macias para afagarem carinho. Assim caminhamos torpes e invadidos pelo cinza de uma calçada abjeta, descalços no concreto da cidade do fim dos dias, na cidade das noites! A luz cada vez mais se encurta em seu espaço de papelão, como fósforos que nunca serão acesos dentro de seus sarcófagos, caixas, e mais caixas empilhadas no escuro, pretas, estremecidas pela continuidade infinita dessa escuridão que o dia devora, e a noite propaga, que a seiva absorve e o negror do veneno de um vício pelos corredores sem teto destila, ofegante, cadavérica, impura. O rastro da decadência presos nos tecidos esfarrapados de meus cílios, bagunçados, atados no véu das máscaras, na cola da ante-face, que asfixia cada centímetro dessa sensação de autonomia que compramos nos novos tablóides alternativos, editados por nós, e feitos para nós. Agarrado na cauda dessa decadência em formato de cometa sideral, cintilante, hipnótico, de luzes negras e voláteis, sufoco o ventre de minha mutação, e como um girino entorpecido por si mesmo, que não desgruda sua língua de um rabo lascivo, impedindo assim sua ascensão para qualidade ultima de anfíbio perfeito, adaptado ao mangue e ao lodo contemporâneo dos tóxicos e poluentes do pós industrial, permaneço flutuando nessa galáxia sem referências, onde todas as referências se comunicam e se referem a tudo, e nada dizem ao mesmo tempo, nada de novo, nada além de sofisticada rebeldia, recheada pelo mesmo gosto infantil dos meninos e meninas cuidados por padrastos pornográficos de imagens e proibições. Os rebeldes sem futuro. Sem porque. O que fazer com tantas pontes, com tantas portas abertas? Com tantas calçadas sujas? Como escolher a melhor janela para se suicidar se todas estão abertas? Será mesmo igual o efeito?

Será que existe efeito? Ou será que somente existe efeito sem causa?

Assim transpiro meus dias, anuviados por uma procela de deuses infernais masoquistas e temerários ao risco de enjoar-se da vida por tanto viver. Em breve, nem mais as crianças nos seduzirão, e seus corpos também não bastarão ao nosso desejo sem prece, sem obstáculo. Porque não posso desfilar a sutileza de meus órgãos nos beijos das delicadas pernas desse menino impúbere, que com sua pele em marfim pisca aos meus olhos de rubi? Porque não posso despejar meu conteúdo contaminado de perversões livres do asilo de pandora para dentro de seu reino já fadado aos tijolos de um muro chamado Sodoma?

Ainda tentam encontrar uma ética no meio de uma selva estraçalhada por bastardos atômicos e elétricos, onde se fumou pedra sobre pedra, e reduziu-se o solo a uma solidão de temperos e iguarias cobertas pelo pó químico de extintores de incêndio. Algo que se salve, algo que valha a pena. Algo para se proteger e lutar. Um sinal que não seja cinza. Uma cor. Como se precisássemos dizer, estão vendo, nem tudo está perdido. Como se algum dia não estivesse. Como se de fato existisse essa distinção. Como se no âmbito particularmente privado fosse tal idéia aproximar se do mínimo de relevância para significar uma física manifestação de qualquer coisa. Como se isso fosse impedir a humanidade de sempre gozar suas loucuras e intermináveis doenças e a rir daqueles que acham que o mundo algum dia foi conservador, ou que a vida alguma vez conservou qualquer coisa ou valor que ela mesmo não transgredisse infinitamente quantas vezes quisesse, de baixo de quantos olhos que quisessem ver. Como se ainda restasse alguma dúvida de seu sarcasmo numa história exótica onde convidavam-se pessoas para assistirem seus irmãos sendo incendiados no meio de uma praça. Como se não existisse outra forma de incendiar alguém. Como se fossemos de verdade livres. Se é que essa palavra tem algum significado real. Liberdade. Se é que existe nela alguma coisa além da própria metáfora do aniquilamento e da prisão, da própria condição escrava do homem perante tudo que o cerca, inclusive e principalmente, a consciência de si mesmo. Liberdade. Intagivelmente livre. Um lindo convite para ser pintado e posto em uma tela de museu, e guiar multidões à uma vala que cheira cadáveres mortos em cada um dos que aqui nascem sabendo que morrem, como um chip, perfeitamente adequado a todas as particularidades dessa livre criatura, esplendidamente livre. Fantástico. Quanto mais livre ela se vê, quanto mais sentir essa liberdade única, impagável, menos necessidade terá de irromper, de fazer qualquer esforço para operar a vida de outra forma, para deixar de ser livre. Imaginem uma prisão de segurança máxima onde nenhum dos presos acreditam que estão presos. Não existe fuga. Não existe prisão. Não há saída.

Um brinde à Liberdade.



E apagaram a luz. E foi desfeita a ilusão.



fernando castro !

terça-feira, 8 de junho de 2010

O FAZENDEIRO & a Rosa

Num belo dia ensolarado,
de matizes de fogo,
cujo céu encantado de nuvens mais que rosas,
de colinas mais que verdes,
e campos sem fim de matos ceifados,
ou quase intocados,
brilhou um pouco mais,
nos fins dos quintais
da casa de campo desse homem barbado,
pela labuta da terra,
com o cheiro de grama acostumado,
fazendeiro aposentando,
cultivador de bananas,
de tempo e sapiência,
de alta gerência,
de fato,
mais do que a terra ligado,
um gigante do interior,
de pompas e gado,
de tudo aprumado,
em uma mão seu charuto,
esse rosto marcado,
e na outra bengala,
de tanto pelas terras,
com fome de ouro ter andado,
ter feito mulher revoltada
quadro sem moldura
em parede de senzala;

brilhou um pouco mais o amanhecer
para esse Homem coronel,
de porte, e rigidez;
em seus calos a grosseria inerente ao mundo recluso
de seu povo e sua gente,
do resto, do além que não interessa,
que não diz nada de bem,
que nada significa para sua labuta,
esse homem de peso e de galho,
de barba hirsuta.


Exatamente nesse dia magistral,
de beleza infinita e indizível,
de perfeição silvestre absoluta,
inconcebível,
que no meio do bananal,
numa sombra reclusa,
em um pedaço de nada,
esquecido pelas outras plantas por ali germinadas,
que sem razão e sem porque,
sem possibilidade aclamada,
sem muito menos um planejar ou um querer,
se viu nascer,
encantada,
de amor filial,
aos pés das bananas,
muito mais que um motivo,
e muito menos que um roseiral,
apenas
uma,
singela,
delicada,
a luz de um sol infinito,
abaixo de um azul celeste, intocado vitral,
de cadência completa,
com sua música silenciosa,
uma,
perfeita,
vermelha,
espontânea
Rosa.


E tudo estava ali,
o tempo e o amor,
e também o fado,
desse mundo de tudo um pouco encantado,
para lhe sorrir,
e lhe plantar amorosa,
encharcando a raiz de sentimento tal,
e assim lhe nutrir,
e fornecer todos os sais,
cada pedaço de algo que necessitais,
estaria ali,
para assim se fazer,
e com todo o cuidado e zelo conceber
o crescer infinito da Rosa,
que sem fim estaria para a todos encantar,
e assim seria, pois isso era seu ser,
sorrir e dizer,
mais e mais,
o quando temos de amor para florescer,
para ser,
em cada pétala,
em cada parte de seu talo,
estaria firme afirmando o eterno dizer,
em seus beijos de orvalho,
e convidando ao natural mergulho
pra o dentro abissal,
do mundo do jeito que é,
sem o véu capital,
assim ela faria,
pois foi feita para tal,
pois nada era
além da mágica poesia da vida,
as vezes um pouco sofrida,
e ai também,
nesse exato momento de solidão,
e não compreensão,
também estaria ela,
sorrindo,
com paixão,
vermelha em seus lábio de pétalas e coração,
assim seria feito,
pois ali já estava,
nasceste,
vieste,
cresceste,
o sol lhe beijava,
e em teu mundo despejava a luz,
e também vinha a chuva,
a água do deuses,
e em seu solo depositava a seiva, o néctar,
o sustento desse amor que nunca lhe faltava,
para germinar, e eternizar essa expressão celestial,
e florir sua cor,
espalhando essa arte por todo o bananal,
assim era pra ser,
e assim o seria, se...


Com olhos céticos não a tivesse enxergado
o Senhor Maioral,
o plantador de bananas,
rico e bem quisto,
por uma família muito igual,
que logicamente atestava,
com lúcida capacidade,
para tudo que o contestasse,
no seu direito de propriedade,
no seu domínio sobre cada ser que ali,
baixo alcance de seus olhos,
viesse por um acaso do mundo,
a nascer e a se estabelecer...
e talvez por vileza
ou falta de sensibilidade
desse homem banal,
ou por terra nos olhos,
ou até mesmo
um pouco de lama,
não teve o bom senhor o cuidado esperado,
de só perceber
que ali estava uma rosa,
fruto da terra,
fora da lama,
e que outras plantas também podem nascer
onde só existem bananas...


Talvez por querer do mesmo jeito,
tudo sempre fazer,
e já esperar tudo acontecer,
como sempre foi feito,
talvez por não saber esperar algo
que já não seja o esperado,
ou até mesmo,
por não permitir
ou em seu pensar conceber outra forma
ou outro método desenvolto,
outro produto que não seja
minuciosamente o seu labuto,
destemido, inofensivo, pronto
e perfeitamente acabado,
surpreendentemente igual,
o mesmo sem susto,
delimitado,
pré concebido em seu querer,
aceito por tudo que já tem,
tudo que cabe no pedaço do todo,
elegido como o Todo,
de um Tudo que por algum motivo não vê.


Talvez por não querer,
mas foi assim que em seu andar,
o Marechal,
Senhor Absoluto,
Presidente dos destinos das terras,
da vida que cabe dentro desse grande cercado,
para além do alcance da vista grandiosa,
ao longo da jornada,
de um dia ordinariamente diário,
como foi o de ontem e o será o de amanha,
em sua caminhada baixo ardência
dessa vida de Sol,
de pássaros e Moinhos,
e suor de pele calorosa,
sem querer tropeçou numa pedra,
a tal pedra no meio do caminho,
e caiu frente a única,
silenciosa
Rosa,
e no cair,
sem ver,
sem sentir
a Rosa que ali estava apenas a florir,
resmungou poucas palavras,
graves, agudas,
que pediam,
e exigiam,
ao séquito falaz,
aos ventos emudecidos pela solidão,
e aos ruídos que um boneco careta faz,
uma convincente explicação,
um motivo, um porque, uma súbita resposta,
sobre tal visão mentirosa,
sobre o que ali estava, e como ali podia ser,
o que alia fazia uma banana rosa?


“de certo esta doente,
 ruge de efervercência,
atesto eu com quase 100 anos de experiência,
que uma banana rosa não pode ser
simplesmente”


E então,
para pugnaz terror,
concebido além do azar,
e de má sorte tão mordaz,
foi o senhor,
de perto a tocar,
e desprovido do cuidado,
sem carinho,
esbarrou seus dedos de lei,
no silêncio de um espinho,
que abriu sua voz,
tingindo sua pele de vinho,
para de todos o estupor,
ante grito imoral,
e xingamentos de dor,
condenava suas falas provindas do corte a Rosa,
a uma precoce
impensada,
túrbida morte,
anunciada pelo vento,
e pelo súbito fechamento
de nuvens antes róseas,
que como algodão plainavam no firmamento,
e agora,
tetras e carregadas,
negras pesteavam o céu
com suas funestas risadas,
nascidas da maldição,
de impulsiva condenação,
destruição de uma infância,
pelas garras robustas
de um cetro de ignorância...


Assim seria feito,
porém seu séquito falaz,
e de todos,
em especial seu jovem precavido primeiro capataz,
em óbvia prudência lhe aconselhou,
percebendo o negror sideral
e das aves o lúgubre clamor,
sabendo tal um explícito sinal
de mau agouro dial,
e de tudo sendo total
supersticioso e moral,
preferiu em louvor divinal permanecer,
com sua intentada misericordiosa,
e não poupou esforços ao dizer,
quando interferiu pela Rosa,
argumentos que levaram o fazendeiro refrear
sua sentença odiosa,
e refletir novo destino,
um apogeu à renascença,
à planta lacrimosa.


“pois então, visto infame insistência, acordo que com vida moral esta permaneça
a desfrutar da luz e do sal nos cercados de meu bananal,
mas para tanto, há de me provar ser uma Banana normal,
sem essa delicadeza multicolor, sem espinhos,
e que com firme rigor na terra se estabeleça: ereta, de áurea conduta, previsível e discreta, certeira,
um exemplo digno e fiel, inatacável, primordial de uma perfeita bananeira,
antes que próximo ar estival anoiteça,
senão por esse sangue que me corre nas veias, eu juro,
com as próprias mãos arrancar sua corola ou o que entenda por ser sua cabeça!”



Dito então,
do caminhar se evadiu,
e para casa partiu com a lembrança,
sentido em suas mãos agora sempre uma mancha,
pois querendo ou não,
havia sua aspereza
sido tocada pelo espinho da Rosa,
que mesmo cortando,
peca em delicadeza,
majestosa,
e assim espalha o teor de um amor absoluto
e invencível,
a imaculada beleza,
por tudo que brilha,
em tudo que toca,
semeando essa poesia infinita e amorosa,
que ao ódio desfoca,
o deixa contumaz,
que o perjúrio desboca,
em suas entranhas o desfaz,
que a inveja desloca,
e para a claridade lhe traz;
trazia agora em seu ser o gérmen da criação,
apesar de contrário a sua condição,
estava ali plantada o embrião da salvação,
do sorriso sem peso,
da leve sublimação,
de sua humana elevação...


E assim fora dito então,
pela voz do espinho,
era dado a vazão em sua alma banal,
o sonho da transformação,
pelo vermelho no sangue,
o vermelho da Rosa,
vermelho paixão...


Um pequeno corte,
o mínimo contato,
uma única dose,
basta um só olhar,
suficiente,
iniciada estava a metamorfose,
em seu corpo pedreiro,
de cascalhos de pedra em lugar de sentimentos,
de penedos e rochas logrando o entendimento,
ali estava o doce amanhã,
a vida real querendo em sua alma viver,
a felicidade,
estava tudo ali,
por um tropeção do acaso matreiro,
que levou esse rústico,
entristecido fazendeiro
ter sido pelo transcendente amor
depois de velho contaminado,
em verdade, ligeiro,
pelo espinho da Rosa
lhe veio a possibilidade....um beijo do cupido certeiro!


E assim, o ano passando se foi,
e em seu tormento crasso,
rebelde debelava-se contra o estabelecido prazo
dado a Rosa para sua absurda,
impossível transformação,
pois como se faz planta gigantesca em alma e poesia,
se ver transmutada em outra pequena de cor e delicadeza de iguarias?
mesmo com esforço, mesmo com dor,
como se faz para transformar em sentimento outro este que seja o de puro e absoluto amor?
Como?
Mesmo em insistência,
mesmo com todos os adubos dos solos do mundo essa Rosa infestar,
nessa planta chorar os desaguando, despejar e contaminar,
com fermentos outros,
com tentativas das mais criativas,
com a luz da disciplina ética,
com escolas céticas,
com consultas esotéricas,
ungüentos de superstição
e psicologia,
e aprimoramento das altas técnicas,
com tudo procurado,
tudo feito para o mais alto sucesso inteligível buscado se ver realizado,
em vão,
tudo e pouco mais,
como transformar o inapreensível?

Pois então,
na certeza do arraso,
e na quase extinção do estipulado prazo,
como mais proceder,
senão com inteira desistência,
apagando-se a chama
da delinqüência que clama
por ver num roseiral
o brotar da banana,
de demência a clareira,
pois transformaste a Rosa em tudo menos Rosa
e em tudo menos bananeira!


O que ser?
O que fazer?
Como calar a voz que ainda canta?
Impossível será não ser.
Impossível calar um ser nascido para rosar.
Impossível é não amar!


Findo o prazo tal,
no horizonte a esverdear o derradeiro dia estival
se propunha a menos de hora se enterrar.
Estava triste o bananal,
e o seu fazendeiro,
em conflito infernal,
pois tinha em seu ser a semente de seu rival,
o amor transcendental,
que ardia para florescer,
para ser,
ardia fenomenal,
em cada molécula,
para esparramar em cada raiz,
radícula,
em cada fécula desse bananal,
o substrato principal da unidade em comunhão,
do além em adjunção com o todo do agora,
posto em firme lastro de paz e clareza total,
intumecidos olhos todos de beleza,
plenitude do Ser,
cheio, completo, de vida e certeza,
do amor substancial,
do universo inteiro dentro de nós,
do bem e do mau,
tudo posto quanto tal o é,
desfeito conflito moral,
e abraçado o mundo,
de todas as possibilidades,
onde tudo é diferente,
e o pode ser sendo absolutamente
contundente,
e perfeitamente igual!

Assim queria rasgar sua carne,
e assim faria,
enlouquecer o mundo com absoluta sabedoria!
Era tal o fado,
que sonho este posto a nado
no rio da vida se faria
na terra de Deus o principado!


Propenso o fruto, na árvore dependurado,
na eternidade o absoluto da impossibilidade,
da Rosa transformar, e da beleza negar!
Assim realizaria a luminescência divina em olhos parvos,
seria completa a profecia,
se nosso mestre em luta desigual,
tivesse pouco mais se desgarrado do entulho,
e não ouvisse o passado enterrado em seus pés,
não subjugasse seu mover ante fatal orgulho,
âncoras amarradas no calcanhar,
que lhe desmanchavam o futuro,
e se permitisse abrandar os temores,
os gritos de socorro,
que lhe imploravam desapego,
um convite ao novo,
sem tablado regrado,
sem discursos manjados
na tábua imóvel dos valores!
Fatais valores, que como horrores
lhe cegavam o ouvir da dial melodia,
o correr de seu sangue manchado de novo,
liberdade de amores;

mas seu ser tão moral e calado ao perfume celestial,
se viu engessado e finito,
e envergonhado de si, por ousar dizer,
ou até mesmo assumir,
um outro discurso,
ou um outro ser,
em si estabelecer,
pois o que faria,
com os olhos acostumados dos outros
que já sabiam como ele
sempre cobrou o proceder?
Como ousar em não ser
o que sempre foi?
Como dar o prazo a torcer?
Como viver?
Como não honrar?


E dado intransponível muralha,
no plantio nuclear,
se viu o exausto fazendeiro,
exaurido de forças,
quando sentida perdida a batalha contra si mesmo,
era invencível,
escravizado pelo seu próprio sagrado,
imutável,
Senhor Bananeiro,
e incoercível
no terreiro,
sem mais adiar,
visto o fracasso explícito
de um ano de intento,
e o que antes era rosa agora nem mais a rosar,
e muito menos,
um fruto alheio a suas pétalas iria lhe dar,
mandou revoltado,
perturbado,
a planta executar:
que lhe jogassem ao mato,
ordem esta a ser cumprida de imediato!


E assim foi feito,
Rosa dos anjos em tudo mais que bela,
seu viu despojada de seu leito,
e expulsa do tálamo,
tendo por uma foice perdido a vida
quando cortado seu talo...

E assim foi feito,
perdeu a vida essa flor,
por não ter sido compreendido o seu amor!

O amor morreu.
Os anjos choraram,
desfeito himeneu...

E por triste final,
quando levada a notícia ao Senhor do bananal,
este em urros
e remorso visceral,
não agüentou seu condão,
uma vez infectado de amor,
uma vez de vida contaminado,
se viu na dor,
um infinito desespero,
e em seu eterno silêncio permaneceu,
resignado,
se encerrando dos dias,
sozinho
enlouqueceu!


Assim foi o fado,
assim não teria sido,
se não fosse fado!

Se não fosse a escrita dos homens
em vícios de verdades impenetráveis acostumados!


Assim foi um adeus,
do amor tatuado em uma flor,
sumariamente executado,
na dor crucificado,
em horror de vermelho e espinho...


Assim foi como veio,
silenciosa,
em sua poesia de morte,
que nada pedia,
além de vida,
e alegria,
assim partiu a Rosa...silente!


Mas pela graça crente dos povos,
e dos amores vindouros,
como deixou o louco um filho,
também se viu,
na terra rosada,
manchada de sangue de Rosa Vermelha,
o brilho de uma rósea... semente!

Se viu a vida de novo,
plantada no solo,
nas cores da alma,
no amanhã do hoje... poente!

E assim se fez a Luz..
E assim,
Nasceu a Fazenda...



fernando castro.................cuidando do jardim.

quinta-feira, 3 de junho de 2010

O PAI & o filho

Da noite repentina, em triste céu sem encanto,
Em cidade sem nuvem e de pranto,
Um rapaz ao seu pai dizia,
“se eu pudesse eu não seria”

E o pai, de astral incontroverso,
Olhos lancinantes e turvos,
De todo, ou em parte,
Da verdade se ouvia surdo,
E indo avante ao disparate,
Com amor tanto perverso,
Ao filho respondia,
“se certo fosse, Deus queria”

E o rapaz, já perdido em seu tempo,
Arrebatado aos poucos,
Em tristeza de vozes,
de obscuro sofrimento,
não sabia enfrentar,
ou mutilar seus algozes,
pois muito bem lhe sentia,
ao pai amado,
que em vida ou em morte,
tanto lhe queria,
não sabia se amava,
não sabia se sofria,
ou se amando sofrendo,
algum mau assim fazia,
ou de tudo, um pouco crente,
de súbito e de repente,
certeza tinha
que amava sofrendo,
e amando sofreria,
mas sem evitar o seu contendo,
simplesmente lhe dizia,
“se eu pudesse, eu não seria”

Em altivez e decidido,
O pai já não queria,
De todo ouvir resposta,
Ao seus ouvidos aturdidos,
Ao seus sentidos espremidos,
De dúvida interposta,
Ante questão indecorosa,
Não haveria como ser,
O que nunca teria sido,
Em seu mundo, em seu ver,
Pois algo bem vivido,
Não haveria de viver,
Um mau tão destemido,
Da vergonha de perder,
retidão de caráter,
e a integridade de ter sido
como todos devem ser.

Pois o filho nada era,
Mais que sonho ou quimera,
Uma vida sem saber,
O que de fato tanto peca,
Já que vive como é,
Já que sente e venera,
Esse pai com tanta fé,
Que impunha ao dizer,
Sem medir o seu sofrer,
Nas palavras que trazia,
As letras que diziam:
“se certo fosse, Deus queria”

Dito isso,
impetuoso em seu vigor,
Articulava seus olhares,
E ardia em seu amor,
Não haveria o que falasse,
Seu filho em crua dor,
Que remisse ou atenuasse,
Esse ultrajante usurpador
De juventude e ambição,
Que ardia em querer ser
Mas em explícita privação,
Desprovido do poder,
Sem alguma explicação,
Não sabia o que faria
Para seu pai esclarecer,
Sem maldade ou ironia,
Filho este que dizia,
“Se eu pudesse, eu não seria”

E assim, calavam os anjos
Frente a vozes não ouvidas
De surda teimosia
Cuja certeza inabalável
Filho este interrompia
Em seu contínuo amanhecer
Quando vinha a voz tardia
Que não se esquecia de dizer
"Se certo fosse, Deus queria”

Pois dada temerosa insistência
De palavras em filosofia
Que atinavam a persistência
Reforçando a eugenia
Veio com a tarde desse dia
Desmanchando-se nas nuvens
A imagem de um anjo
Que ao seu pai encaminhado
Com melífluos lábios
Sorrindo lhe dizia
“se Deus quisesse, também seria”

Agora em aturdido devaneio
visto que esse pai não entendia
o que seria de fato
frase esta que o anjo proferia
“se Deus quisesse, também seria”
e não entendendo o seu querer
se era medo, ou prazer,
ou até mesmo possibilidade
de algo que não seja também ser
atrelado a vontade
e ao desejo de poder
coisa outra que a mesma
que sempre quis viver
pois se Deus quisesse ele seria
o que de fato ele quer ser!

Pois então,
nesse abraço de inocentes lágrimas
veio esse anjo esclarecer
que se o filho quisesse
ele não seria,
mas que querendo ser
assim o faria
e que também este pai
se quisesse consentia
e que tudo, mesmo a morte
tem mais vida e alegria
quando livre o seu querer
libertado do dever
de não se poder ser
o que de fato se seria!

E quando nessa divina inspiração
pôs se o anjo frente ao pai
que não sabia mais se podia,
desejar o que sentia
junto a esse anjo mais que belo
que aos seu lábios lhe dizia
este beijo eu lhe daria
se não fosse tu
amado
quem mais queria
E nessa completa sedução
assistiu o filho ao pai
estremecido ante a dial beleza
dessa anjo que dizia
se tu quisesses, me beijaria

E nas lágrimas do céu
numa luz que acolhia
a redenção que escorria
entregava este pai
os lábios a este anjo de Adônis
que com amor lhe beijaria
e mais do que prazer
este beijo eterno lhe daria
um poder além do ser
que até então em si cabia
veio esse anjo em seus lábios escrever
para todo o sempre
“se Deus quisesse, também seria”


fernnado castro

CrowdeAd Crow

And so, smashed by the future of this sorrow,
I hear the nightly crow,
Crying blood as tears of tomorrow!

Unusual feel I the word bending to his lips
While you sing it so
Straightly narrow
To those doomed by this crow
That hurts with no forgiveness the world
And fearless, threat us both!

And so it flows,
In the darkness of this black rose
It flows
And it flies
With no redemption
Melting the tenderness of the nightly sky
As a dark knight in the wing of this crow
Spreading the solitude
That surrounds us below

And so, melting morning with this shadow
It whispers now
Forever singing the silence
Alone in its grave, shallow
Waters might it be, he warns us
But deeper loneliness
Shall I lay
among your callow feet

That is the answer of tomorrow
to end with the dance,
A scary bird like a devil with no mallow
crying out our last chance
to be out of a endless silence
and break through the endless fence
of the furrow of our madness
that keep us insane
As a dead crow in a crowded world
With ghosts in the heads instead of names

And so,
Completely lost the lack of hope measure I
A glance of a time lost in its row
and the muteness in the lips
of our scary children playing the deadly bow
Unsleeping eye of this scarecrow

And so, smashed by the future of this sorrow,
I hear the nightly crow,
Crying blood as tears of tomorrow
While we cannot do
Anything else, but let it go


And so, it goes…




fe.r.r.n.n.a.a...nn.d.oo.oooooo c....atro

Smoky eyes

My baby, shine n shine
Lost in the night, that might
Never pass by!
That is my lover
In the darkness of crime
Lost like the smoke
We melt behind our eyes
When we pretend a smile
In a night that we cry!

So baby, more than rimes
In your singing lips
I feel this shine,
Peculiar taste of lie
That might
Be hidden behind your
Smoky eyes!
When you kiss, when you shine

So, dance our last moment
In this life that passes bye
When we fall in love
In the instant that we die
Turning to smoke
Our lips
When we kiss to say good bye !


.......and.. cast..