sexta-feira, 28 de maio de 2010

SIDADE dos mortos

SUI...IDA


Uma luz baixa ecoa no fundo dos últimos instantes de um dia que se desmancha. Junto a ela, chora-se tons de cores desfalecidos nas nuvens violáceas, violadas somente pelo mutismo de um surdo olhar, apregoado pela mancha do céu escorrido numa lágrima. Esta, cristalizada por uma melancolia surda e azul, molhada ainda estava pelos vestígios das imagens invertidas de córnea, dançando etéreas na plataforma de sua íris solitária, ausente, distantemente inviolável. Nada chegaria a lhe encostar.

Nada.

Sequer o canto de um pássaro amarelo. Sequer o orvalho sobre a tez de um pêssego. Acena de longe, afoito de introspecção, um adeus de tristeza lânguida e sem fim. Impertubável tristeza gélida no vidro da janela desse trem ,que parte para o nunca mais, para a outra estação, para além desse agora com cores e plantas, com frutos e amores. As notas são graves no adágio em serenata de uma juventude, cujo cântico se perderá nas vozes dessa infalível deficiência. Incurável destruição. Assim ela se manifesta, em todos os instantes. Como um purgatório num labirinto celular, sem saída. Como um barulho de mar incessante dentro da cabeça. Assim ela canta, em todos os detalhes dessa vida abreviada, desse destino interrompido. Pensamentos são facilmente seduzidos. A dança da noite. A valsa da morte. Beijam se loucas as moiras algozes da literatura infernal dos sonhos que nunca irão acontecer, por falta de depois, por falta de vida. Era assim o anoitecer para esse jovem pálido e quase cadavérico, aos poucos sem brilho, e sem luar; era assim o seu despedir, era assim que sentava no almoço, com essa certeza inabalável da morte que lhe foi posta sobre a mesa, servida na entrada, fria, em frágil porcelana, em angustiado tempero de dúvidas e isolamentos.



Ali, nesse encontro, ela lhe tocava a pele da nuca, sem mesmo lhe encostar, servindo-se apenas de seu hálito quente, de sua respiração constante e infatigável, contínua, próxima, inevitável. Não há rendenção. Em seu sangue estava o novelo de hades, as unhas da foice, que como lúnulas agarradas estavam a cada um de seus dedos trêmulos e medrosos de tanto sentir. Assim seria essa última noite na plataforma do trem. Esperava um pouco mais, o fim da luz, brevemente esquecida no planar das últimas nuvens ilumindas por esse lívido dia. Esperava o entorno de coragem que viria com o rosnar dessa locomotiva faminta e irrefreável. Os trilhos da morte percorriam suas veias, e suas veias eram os trilhos da morte, análagos aos trilhos das tonelada de ferro movidos a carvão, cinzas que viajavam de estação à estação. Assim era o trem, cinzas e cinzas sendo dispensadas pelo ar. Assim era tudo, cinza e pó.

Fuligem de sonhos.

Uma despedida sem cura. Não há redenção. E se algum dia houvesse, não estaria ele ali para se render. A expectativa, atirada junto de seu corpo magro, foi a última a depor seu testamento. Sempre resta um resquício de esperança. Sempre resta uma incerteza. O maquinista dobrou seus olhos. As xícaras de porcelana belamente estavam postas para o próximo chá nos vagões da primeira classe. Um grito, uma lágrima. As xícaras todas se quebravam no chão.



Suicida,

Apavora a noite sem demora
Sem tempo de hora
Apavora o beijo homicida
Que Descora enfim,
O tempo dessa carne em mim
Pois fora meu irmão, fatricida
De hora em hora
Em resto dos beijos que devora
Em pele adormecida
Da vida que descora
De hora em hora
E o sangue apavora
Em dor desmerecida
Pois fora em meu sangue
Cruel dor desfalecida
Meu irmão fraternal
Em incesto de alma
Perdida por Amor fatricida
Que Apavora
A carne adormecida
De hora em hora
Com beijos Suicidas
Que a carne devora
Que o tempo descora
De tempo em tempo
De hora em hora

Em dor incessante, que cobra

Em altar infestado
De um cético que ora
Vista visita em seu tempo
De pavor fora de hora
Ei que ora, por Deus
Por ora, ora,
A carne em redenção
Por paixão desconhecida
Amor de meu irmão
Em pele suicida
Ei que por ora
Sente amanhecida
Em seu corpo
Eterna dor que lhe devora
A noite do amanhã
Que sem demora
Se apaga na carne envelhecida
Que arde sem hora
No resquício de vida

Adoecida

Que apavora
Apavora a noite sem demora
Em beijo suicida
Da carne que chora
E chora
No hoje sem amanhã
De dor sem hora,
Sem perdão

Pois Não há redenção

Não há mais hora

Pois entao, visto atroz
Perpétua punição
Descora enfim,
O tempo dessa carne
Que resta em mim
Que ainda chora,
No instante do agora
A pele adormecida
Para sempre em seu velório
De beijo homicida
De dor que lhe devora
Visto a paixão fatricida
Que beija o seu irmão
De carne sem tempo
De morte sem hora
Que também sem redenção
Chora, em noite esta
Que apavora,
Em silêncio sem fim
Dessa voz emudecida
Que triste canta em mim
Um réquiem homicida
Eterno final que nos devora
Pelo beijo suicida
Pela síndrome de uma sina
Pelo adeus de uma alma

Sui generis, Sui SIDA

Sem mais tempo de hora!
Que chora,
Chora..
E no calor da dor
desmerecida
Para sempre
Sui sida
Evapora!


fernando castro

terça-feira, 25 de maio de 2010

a valsa de um dia

Dia nasce todo dia, pelos edifícios concretos de cinza solitário
Em mim, um desejo de evadir-se dessa rua,
E se misturar com a luz, com o a combustão dos gases invisíveis,,
Assim explode a paisagem nos meus olhos,
Encharcados pelo desejo de viver mais um dia
Um dia que seja, para descobrir o infinito dentro de tudo,
De cada folha arrancada dessas árvores de verde, de verdade
Que tanto nos faz se apaixonar, tanto me faz rasgar minha razão
E me perder embriagado pelas ruas dessa cidade
Que nunca acaba, e nunca responde nada além de risos entristecidos
E histéricos, e doces, e escancarados de felicidade humana
Tingida com todas as cores dessa manhã
Assim eu quero me perder, e me achar sem acabar
Nas ruas de vida urbana, de sementes amadurecidas no fim do mundo
Que juntas se perguntam
Para onde vão todos os pensamentos?
No meio dessa tempestade
Porque não posso ser a chuva,
E escorrer por cada um de vós,
Soltos delicadamente no impossível
Numa sedução absoluta da carne
Em beijos de água, e de perfume que uma flor nos dá
Por que não posso ser como essa rosa
Que brilha seu amor sem precisar falar
Por que não posso ser
E me perder na insensatez de vossos lábios
Umedecidos pelo suor do viver
Para onde foram todos os meus dias?
Soterrados num ontem, que mesmo assim
Sem o reflexo de um oceano de almas
Não virá nunca mais responder
Nem como , nem onde, e nem porque!
Por que?


fErnAndo CAsT..O

domingo, 23 de maio de 2010

O LAGO

Nesse dia invernal, de frio na espinha e calo nos ossos, esperando eterno estava eu,

A beira dessa laguna de fadas, de reflexo ameno, porém magistral, a pintura de um deus,

Ali, frente ao bosque, junto a aves que fogem do estio, estava eu, esperando o fim da história,

Com as lembranças passadas como um filme na memória, que sumia, sumia, e com o vento...

e seu sopro de lamento, fugia , fugia, de mim e de meus sofrimentos, sem ungüento, sem poder que pudesse me fazer crer, que espera nova não mudaria, o passado de pedra, no fundo do lago, que não mais voltaria!

Mas mesmo assim, atento ao inverno, continuaria eu, sempre esperando, se em vão ou não, já não importava, pois frente a esse lago, minha alma eu petrificava, nessa espera congelada em minha espinha, nesse mergulho abissal de minha sina, sem o calor de um afago, somente o frio exalado dos olhos do lago, que chorava, chorava, as lágrimas do meu passado, passado, no fundo das águas, afundado nos sonhos, imemoráveis, irretratáveis na superfície indelével desses olhos de lago, em mim espelhado, a dor de uma íris convexa de amor que para sempre se foi, e numa espera infinita, nunca mais voltou!

A espera maldita que tanto faz mau quisto o prazer do agora, que como as águas da laguna, em ocilação de dor e temperatura, evapora, e sem pressa, me consome as entranhas, tritura os ossos, engole as horas, o resto de vida que me devora, a todo instante, de fervor galopante, como o feitiço de um mago, a beira das águas, no precipício do lago, que tanto me olha, e chora, e chora, e diz sempre em toda espera, ao meu coração que se dilacera, que foi embora, embora, e não há mais tempo, não há mais lago,nem dor que caiba nas horas, que somem, somem, a beira das águas, ribeira do fim, não há mais cor, não há mais fada, não há mais amor, mais vida, não há mais nada...

Mas mesmo assim, nesse limítrofe infernal de inverno e estio, e loucura sem fim, numa prisão sentimental, que torna abissal o segundo em mim, que as barras sustenta dessas grades de ferro, sem esperança, afoito e cabal, ainda espero, espero, na ilusão otimista, um outro final, um outro momento além das horas, de poder autoral, que me dê o retorno que está fora, fora, de mim e do lago, que outrora, sem gelo, sorria sem medo, sempre mais cedo a meus olhos cortejar...

Até que então, nessa fatal ilusão, de vida sem hora, e alma sem degelo, ainda me encontro no escuro, de frente a um espelho, que trinca meu rosto, e na face me mostra, o tanto de dor que sobrepuja este amor, e prostra, prostra meu ser, que entregue a esse último tempo sem ar e sem saber, respira mortal, a certeza de nunca mais ter, ao longo dessa espera infinita de um lago perpétuo que em derreter demora, o que sobrou do amanhã, que nunca virá, e para meus braços gelados, despedaçados no lago, com vida voltar, e em mim repousar.!!

 E assim, morro sem tempo, sem hora, a espera da vida, que vive lá fora!


fernando castro.... ..... no inverno de todos nós.....!

sexta-feira, 21 de maio de 2010

O VELHO E A RODA

O jovem ancião
Deformado pelos cinzéis dos anos
Extremamente jovem em seu pensar
Contempla sua inaptidão
Esquecido numa poltrona a balançar
Balanço que como o pêndulo
Faz tilintar e lembrar, e passar
O tempo insistente
Que nunca pára, e para esse velho
Entristecido em viuvez
De alma para com o corpo
Sente cada reflexo com sua intacta lucidez
E mente, que não sente
E até mesmo se finge doente
Decrépito e ausente
Nos dias e noites
Sempre dormente, de olhos cerrados
Transpiração constante, vagarosa, pesada
Com o projeto quase que terminado
E mesmo assim
Ainda não sabe quem é
Somente o vislumbre daquilo que foi
E foi correto
Mas mesmo sendo algo
Já não sabe mais ao certo
Se algo de fato foi
Se contingente, se adequado
Totalmente liquefeito
No limbo do tempo
Não sabe o que se é
E se de fato é
Algo além do esquecimento
Balançando na poltrona
Frente a sala de jantar
Ávido por uma última ceia
ausente, de tudo incipiente
não alcança com os seus braços a corda
para de vez se esquecer
do tempo enforcado
sem corda, que roda
roda
girando em falso
numa envelhecida
cadeira de rodas!

 
...envelhecendo fernando castro...

CELEBRATION

Madrugada de amor rosa.

Vibrante teor de libações amorosas em copos descartáveis de prazer.

Adoramos os sentidos nos acordes enquanto acordados em êxtase e delírio,

E retocamos ao Máximo o ponteiro da chave, para manter aberta a sintonia dos anjos rubros de batom e de asas escancaradas, anjos de rabos celestes, e chifres que, talvez, não deveriam estar lá!

Assim, o ritmo das horas flui perpetuamente estável e indolor, transpassando nossos sentidos em absoluto silêncio, apesar da algazarra insuportável que imprimimos em cada metro quadrado do círculo que nos rodeia!

Vazamos o suor do pecado, e brindamos com os terráqueos lunáticos o hino da inocência do futuro, aquela que sorri pra essa timidez hipócrita e esse vestidinho cumprido abaixo do joelho!

Quanto mais recatadas, mais facilmente imoladas, e o leito sagrado de uma cama virginal se transforma em altar dos sacrifícios eletrônicos, estridentes, dilaceradores dos entes que não se amam, com o único propósito de abrirem suas carnes para melhor serem entregues à orgia!

A volúpia dos corpos vermelhos me fascina, e embebe meu pensamento como um fanático em busca de sua próxima alucinação!

De repente, o vazio.

Todos já estão condenados, e sabem disso, e justamente por isso celebram incansavelmente a cada dia essa inevitabilidade, essa armadilha, o fado interposto entre um começo e um fim, no qual de nada participamos além. Celebramos esse nó trágico e cruel, movedor de paixões e doenças mentais sem fim!

E assim nos vingamos: celebrando!

Nem mesmo temos que desgastar nossos olhos com lágrimas que não sejam o suor de olhos encharcados de felicidade....líquida!

Pois então, assim continuaremos celebrando para depor um testemunho sem fala, sem papel impresso fora do movimento. Assim continuaremos nos vingando a cada instante que nos resta desse lapso inextrincável, desse hoje sem volta e sem futuro. Desse amanhã que nunca mais.

Assim,

continuaremos nos amando, nessa solidão sem limites, condenados a nunca nos encostarmos de verdade, porém, absolutamente juntos, sorrindo sem fim, até o último suspiro em comum.



Boa noite,

fantasma do depois de amanhã!

f..c....

quinta-feira, 20 de maio de 2010

AMORFINA

De repente, acordo, e percebo o frio que nos encobre
A sutileza fina de um dia,
Correndo fora de um quarto
A frieza de uma vacina,
Pesquisada longe de um parto
Que essa dor alivia,
Ou pelo menos,
Aliviar iria
Se ao menos
As hipóteses macabras
Não teimassem em sua sina
Diluindo um pensamento
Que tormento de faca
E seringa
Corta pulsos de cobre
No pavor da cirurgia!
De repente acordo, e percebo o frio que nos encobre
A lata de vidro que nos envolve
Fria
Fina
Metalicamente morta
Agulha que costura
Alma já torta
Pela doença sem cura
Mau que exorta
Raspas de preconceito
Escorrendo na parede
De um cemitério de vivos
De uma orquestra de majestosos
Ditadores
Que ditam as normas
E deliciam-se
Com as dores
Com o barulho dos ossos
Que se quebram ao se encaixar
No caixão da cultura
Na impossibilidade de cura
Na dormência da fala
Na marginalização da impostura
Vista como degelo
No lago milenar
Desse inverno de céticos
Que se fingem teólogos,
Mestres, e éticos!
Deus nosso do amor pintado de inferno
Se ao menos pudéssemos perceber,
O frio que nos encobre,
E além de perceber
Aquecer
Os corações e alma
E diluir
E retrair
E perquirir
Essa mentira escabrosa
Essa falsa vacina...
Se ao menos pudéssemos ler
O nosso próprio sangue
A nossa própria dor
Desmedida
Na parede de nossos quartos
Na veia de nossos braços
Na morte que escorre
Em cada singular abraço...
Se ao menos pudéssemos ver
O quando de distância
Existe entre o Eu e o Ser
Não precisaríamos mais injetar
A dose letal que nos impede de amar
E não perceber o frio que nos encobre
Do real amor
Em sintonia fina com a alma do corpo
Amor sem temor da calma dose
De vida e morfina
Que faz renascer
Em cada um que é um
A não necessidade
De somente um não ser!

sexta-feira, 14 de maio de 2010

DASLÚGUBRE

Os ventos calaram os versos de pesadelo dependurados nas janelas desses olhos tristes e vazios, condutores dos mesmos cavalos de ontem, metalicamente mecânicos no hoje, porém, com a mesma blindagem de casta que por si só, já separa o humano do seu ser!

Era de novo noite, na saída dos palacetes de lojas, que vendiam belíssimas e lutuosas vestes a compradores ainda sem noção da morte abrigarem dentro dos ventres, corroídos pelo verme que dilui os afetos, e os transforma em meras obrigações convencionadas. Na suntuosidade das paredes de pedra, o mausoléu também não era percebido, e ainda enterradas estavam as invisíveis cruzes ao longo dos corredores e salas, e lojas, e incontáveis lojas que perdiam-se nesses corredores mortos transitáveis apenas de dia, quando o consumo atingia seu auge, e quando os mortos saiam de seu túmulo para sem questionar o que de fato faziam, irem descarnados a procura dessa ilusão que os alimentava na crença de estarem vivos. Viciados, torpes, malditos. Eram os pilares desse mundo de sangue e insegurança, eram o piche semeador das estradas, a graxa negra que fazia as roldanas girar, a engrenagem não ranger, e a felicidade permanecer um mito e ideal a ser alcançado, uma espécie de terra prometida, ferramenta para semear ainda mais um desejo e esforço de continuar se fazendo o que sempre se foi feito, para um dia alcançá-la, merecidamente, como um prêmio, uma espécie de recompensa pelo pó engolido numa vida de mentiras e resignação aos pés de uma mediocridade velada e exaltada como um estilo de ser. Todos presos num claustro de preconceitos e vergonhas, e nojo a tudo que vida fosse, um nojo percebido em cada recriminação e gesto de desaprovação para com a arte de viver-se de fato. Uma animalidade tão atroz e bestial, que se o aço do bisturi se revoltasse contra a decadência, os rostos flácidos de lepra não mais sustentariam os sorrisos falsos nos coquetéis de paladares da cultura, e se desmanchariam no primeiro impulso de inveja contido, mostrando os monstros podres por trás de cada plástica máscara de cetim.

Era assim que os mortos se reuniam de dia, para dormirem sem saber que morriam, para não significarem nada além de potenciais reflexões não germinadas, que apenas transitam num limbo que chamam casa e cidade, e ocupam-se de modos e costumes que chamam hábitos, apenas para se afastarem da real constatação que de fato estão mortos, e nada fazem para viver, um segundo sequer, nada fazem para imprimir sua voz e seus reais desejos no mundo, que cansado do suor da morte, implora a esses bastardos da vida, um mínimo de humanidade! Era assim que o silêncio reinava absoluto naqueles corredores onde todas as pessoas do mundo falavam, sem nada dizer. Onde todas as bocas gesticulavam automáticas, rarefeitas, impessoais. Lábios de plásticas imorais manchavam de ácido as bordas de copos finos, em finas mãos famélicas e cadavéricas, de mortas finas, e mortos em morfinas de casamentos, de filhos, de pais, de irrefletidos dispendiosos natais na cruz, a mesma cruz invisível abaixo desses pés frios e atrofiados que já sangram para terra, e atiçam os vermes devoradores de carniças vivas e mortas; a mesma cruz no natal de fantasmas de medo, de pólvora, e sem Jesus.

Caia o crepúsculo nesses olhos de treva, e na tarde que dourava o céu num mundo que ainda nem descoberto sido tinha. As lojas logo encerrariam seu expediente, robôs de carne apodreceriam na cama de um estoque, e nas garagens, carruagens blindadas esperavam seu cocheiro, plenas de combustível de sangue e óleo de gente, de sacrifico humano desgarrados de vidas que por nada lutaram, sem conhecer por quem lutaram, e sem saber se de fato lutar precisavam. As mesmas artimanhas sutis e o engodo das pequenas vinganças mimetizadas com a moral fustigadora do sorriso das caveiras. Ainda o mesmo espírito de rancor movia o mundo dos mortos, e os impedia de viver. O mesmo sangue nos óleos dos tanques de combustível, combustava nas veias desertas de compreensão do diferente que era mais do que igual, era óbvio. Nada mais faria sentido naquele pedaço de vazio, de terra civilizada transformada em esqueleto, em parede desnutrida de proteção e propósito, transmutada em cela, em opressor concreto do aperto e da angustiante fome de sobrevivência, a mesma fome que atira os ratos para lutarem entre si.

Era assim que os tristes se despediam da vida. Era assim, que ao voltar para casa, farta de nada, de canapés, e de uma bebida que vinha de lugares que fingia conhecer, que ao esquecer parte de sua blindagem, ao ser relapsa com a automação de suas neuroses, com a eficiência das paranóias, com a trave de segurança que selava seu túmulo e transformava seu pequeno sofisticado metro quadrado em um lugar a parte, intocado, divino, seguro, que as pedras mortas de seu pescoço, as pedras de morte, infelizmente pedras mortas que brilhavam mais do que seus mortos olhos, convidaram a morte estranha para se sentar do lado direito da morta vida, no passageiro banco de um couro também morto. Ali, depois de anos ela via paixão, apesar do desespero, ela via verdade, apesar do medo, ela via vida. Somente um grito, e dois disparos. E a morte imita a vida. O carro morreu.

 
f.e.r.n.a.n.d.o...c.a.s......................................................................................................................................

quinta-feira, 13 de maio de 2010

o ROMERO bolero da JACA JUCÁ

“O Senado tem que discutir essa matéria e emendar no que tiver de emendar porque isso mexe com o futuro dos parlamentares

(declaração dada ontem a imprensa, dia 12.05.2010)



Foram essas as palavras que o líder do governo no Senado, ROMERO JUCÁ escolheu para se manifestar sobre questão, que, se diz respeito ao futuro dos parlamentares, muito mais diz sobre o futuro do país, e dos brasileiros, que por sinal, determinam quem é e quem não é parlamentar, pela letra da magna lei, pelos ditames dessa eficientíssima democracia.

Confesso, ilustríssimo SENADOR ROMERO JUCÁ, que de fato muito me comove sua honrosa preocupação e sincero zelo pelo futuro dos colegas, afinal, não importa a classe, de lixeiros, mecânicos, políticos, quanto mais unidos seus membros, melhor seus interesses são defendidos, e mais poder rogam para si. Por falar nisso, fator invejável é essa união de vocês, políticos, que muito deveriam ensinar desse carinho e afeição extrema de uns para com os outros, para as outras classes de trabalhadores do país, que muito tem que aprender com essa ternura suprema e cristã, capaz de relevar as divergências da oposição de ontem com um facilidade surpreendentemente rápida e sincera. Mas a matéria que o excelentíssimo senhor se refere e da qual a cerne aqui discutimos, é a aprovação e votação pelo Senado Federal do projeto FICHA LIMPA, que visa impedir políticos potencialmente corruptos, no sentido estrito da palavra, de sequer terem a possibilidade de se candidatarem a um cargo que muito compromete o futuro não dos parlamentares, mas sim dos governados, que o elegeram.

Gostaria de me explicar melhor, pois percebo o seu enorme cuidado com os amigos, e isso é lindo, mas talvez tenha lhe escapado, ilustríssimo senador, um pequeno detalhe de crucial importância, que certamente o aliviará do peso dessa louvável preocupação. Veja bem, para ser um parlamentar, segundo a própria letra da lei e a idéia lógica e natural intrínseca a essa palavra inserida no contexto democrático de nosso governo, presume-se um membro de um parlamento na existência de pessoa cuja reputação seja de toda ilibada, para poder de fato representar o interesse do povo, onde qualquer indício de corrupção e torpeza de conduta já afasta e descaracteriza o sentido estrito de ser parlamentar, fazendo dessa pessoa algo entre um falso parlamentar e um ladrão, dependendo da gravidade do delito. Ou seja, essa lei, ao contrário do que o senhor disse, não mexerá no futuro dos parlamentares, que tem seus destinos garantidos pelos bons atos e estimável decoro ao longo da vida, e sim no futuro daqueles que por excelência não são parlamentares, e jamais serão. E além do mais, garantirá que vocês, guardiões sinceros de nossos interesses, não sejam confundidos com mesquinhos sanguinários que não pensam em nada além de garantirem uma vaga no governo, para através do desvio de verbas públicas, muitas dessas oriundas dos tributos impostos a população, ou seja, do dinheiro arrecadado não só com o adimplemento dos ricos abastados, mas também de pobres famílias e trabalhadores onde a falta de um único vintém pode ser sentida na redução de alimento dos filhos, ou num eventual corte de luz, continuarem patrocinando suas orgias particulares, seus vícios pessoais, seus lazeres contínuos sem sequer convidar o povo para festejar o bacanal público, e tomar os goles do público champanhe que servem em suas mesas de jatobá.

Portanto, quando o respeitadíssimo ilustríssimo reverendíssimo Senador RAMEIRA Jucá anuncia seu crasso interesse em “emendar o que tiver que emendar”, indo contra muitos outros parlamentares que anseiam pela votação urgente do projeto-lei, como o Presidente da casa, o Senador José Sarney, e outros, e rediscutir a matéria do mesmo, matéria esta já muito discutida e rediscutida, e já aprovada pela Câmara dos Deputados, pode incorrer no risco de dar, logicamente que equivocada, impressão de querer propositalmente adiar a votação da mesma e sua eficácia, que segundo a Ordem dos Advogados do Brasil, pode valer para as eleições desse ano se votada até dia 9 de junho, para que a mesma não atinja os corruptos em potencial que dessa eleição participem.

Somente para esclarecer melhor os fatos, esse projeto FICHA LIMPA, que através de iniciativa popular, colheu 1,6 milhões de assinaturas, se aprovado pelo Senado, impedirá a candidatura de políticos condenados em foro colegiado, o que normalmente se da em segunda instância, de pleitearem o cargo, mesmo sem o trânsito julgado da respectiva ação, visto que ainda existem outros recursos que podem ser interpostos para reformar a decisão, já duas vezes proferida pelo Judiciário.

Francamente meus senhores, não deveriam nem hesitar para se aprovar tal projeto. Aliás, por tudo que uma democracia em tese representa, um projeto como esse já deveria estar nas entranhas de qualquer sistema de governo, e não deveria se perder tempo em ter que aprovar algo que é óbvio, e ainda se discutir sobre isso. Creio que um candidato que vê seu nome nos jornais em sucessivos escândalos de corrupção, mesmo sem um inquérito instaurado, ou o trâmite de alguma ação, de certa forma, já não possui uma reputação de toda ilibada. Imagina aquele que além de sair nos jornais, já foi condenado reiteradamente pela Justiça do país, não uma, mas duas vezes; o que se dirá desse sujeito quanto a sua reputação, como permitir um abutre carniceiro voltar a planar na Alvorada do nosso Brasil?

É claro que a turma do contra, pois sempre haverá opositores ao novo, ao célere, ao justo andamento das coisas no mundo, sempre haverá aquela turma de ressentidos amargurados que apesar de todo o champanhe que encheram suas piscinas ao longo da vida, e de todo caviar que arrotam, roubado ou não, convergem todos seus desígnios e a força motriz de seu ser para impedir as mudanças e manter a lama na sala de jantar dos outros, simplesmente porque são infelizes, e sabem disso. Insistem em atrasar a vida e a tentar impor sua tristeza e solidão eterna nos sorrisos daqueles que de fato amam viver. Esses argüirão que a tirânica medida irá contra a segurança jurídica do país, visto que a oposição pode corromper juízes para favorecer o interesse dos verdadeiros corruptos, ou que o pobre coitadinho condenado em segunda instância poderá ser absolvido no STF e terá tido seu futuro prejudicado. Dois são os pontos que devem ser levantados aqui:

• Primeiro, que mesmo supondo-se que o injustiçado, ingênuo político que sem querer se meteu em esquemas de corrupção sem saber, como lembro ter ocorrido uma vez com o presidente que sabe que nada sabe (pois as vezes acontece, não é mesmo? Fazem um bacanal no primeiro andar do nosso apartamento, com o dinheiro do condomínio, e nós nem ficamos sabendo, dormimos tranqüilos no andar de cima da casa... é super normal, acontece de fato nas melhores famílias), seja de todo inocente, é melhor e muito mais coerente e justo, que ele sofra os prejuízos de fato, e eventualmente até ingressar com uma ação de perdas e danos contra o Estado, direito garantido a qualquer cidadão, do que a nossa nação correr o risco de eleger um ladrão para administrá-la. Em centenas de situações o interesse público está em supremacia em relação ao interesse do particular, inclusive esse é um dos pilares que conduzem e sustentam nossa administração pública: porque no caso especifico de um particular, aspirante a parlamentar, ou parlamentar, aspirante a parlamentar permanecer, será diferente? Porque fecharemos os olhos e correremos um risco que não precisamos correr? O que está sendo defendido aqui é a nação, ou a vida social desse parlamentar, que já está envolvido com o Judiciário? Com o que devemos nos preocupar mais, com o futuro do país, ou com o futuro dos parlamentares? Existiria parlamentar sem o país?



• Segundo ponto é que, nessa linha de raciocínio, institutos como a prisão temporária e a prisão preventiva deveriam ser abolidos, já que não só impõem uma restrição funcional, como também privativa de liberdade ao acusado, também antes do trânsito em julgado, que poderá decretar a absolvição do mesmo, e sua inocência. E pelo amor de deus, eventual corrupção dos colegiados pela oposição, o que tornará o ladrão um mártir, em duas instâncias? Realmente é estar demasiadamente acostumado com os hábitos de casa e achar que em todo lugar se faz igual! Não que não exista juiz corrupto, mas a corregedoria da magistratura e o Ministério Publico costumam ser mais eficientes do que as satirizadas CPIs, que dão impressão de existirem somente como simulacro, paliativo, colírio para os olhos de uma população, que se vê constantemente lesada e usada como meros brinquedos pagadores, que na hora de eleição devem escolher sempre entre as mesmas cartas marcadas do baralho, que brincam de se revezar na quadra do poder, nesse café com leite constitucional.

Desta forma, por tudo exposto, muito me surpreende a declaração do líder do governo, o ilibado senador ROMERO JUCÁ, já que seguramente deve ter ciência que na hipótese desse projeto ser emendado, deverá voltar para a Câmara, e isso afastará a incidência de seus efeitos nas próximas eleições. Certamente tenho certeza que ele deve ter cometido um erro, e ter se esquecido dessa circunstância, pois certamente não penso que o senador tenha intenção ou motivos para impedir o sucesso de tal projeto nas próximas eleições, que dignifica nosso governo e seus representantes. Também imagino que o fato dele, o atual senador ROMERO JUCÁ e líder do governo do respeitabilíssimo presidente LULA, ter sido acusado de:

- ter se envolvido com esquemas milionários de corrupção;


- de ter feito empréstimos fraudulentos em bancos federais (BASA);


- de ter oferecido fazendas fantasmas como garantia de empréstimos milionários;


- de ter se envolvido com venda ilegal de madeira de reservas indígenas quando presidente da Funai;


- de ter desviados recursos da Funai;


- de ter montado projetos de fachadas para a captação de recursos federais;


- desvio de máquinas e equipamentos de órgãos públicos para suas empresas


- prisões de aliados em escândalos em órgãos federais;


- desvio de verbas públicas;


- compra de votos;


- transações suspeitas com emissoras de rádio e televisão em nome de laranjas;


- contratação ilegal de empresas de limpeza em Boa Vista;


- nepotismo com a contratação de sua filha sem prestação de concurso público para exercer funções públicas, além desta receber quantias maiores do que as devidas;


e também o fato de sua mulher, THEREZA JACÓ, também ser acusada de estar envolvida em diversos esquemas de corrupção na capital de Roraima, alvo de escândalo de desvio de verbas públicas que em alguns casos chegaram aos 5 milhões de reais, e a coincidência do ex-deputado RAMIRO JOSÉ TEIXEIRA, que foi preso, acusado de ter desviado 34 milhões de reais da FUNASA (Fundação Nacional de Saúde), que foi nomeado para o cargo pelo nosso ilustríssimo senador em questão dois anos antes das investigações consubstanciarem sua prisão, de nada influiu em sua declaração para a imprensa, honesta, sincera, e de toda emotiva, que mostra até onde a preocupação de um homem justo, de moral, de conduta, um pai que certamente seus filhos têm orgulho de ter, vai para proteger eventual ameaça para com os seus ilibados colegas.

Com certeza, senhor Senador ROMERO JUCÁ, não penso que o senhor tenha o menor desejo de impedir que esse projeto seja votado a tempo para nessas eleições já dificultar corruptos de se entranharem no poder. Depois de tudo que já enfrentou na história de sua exemplável carreira, do quanto de vítima já foi de ávidos usurpadores do poder, e ávidos corruptos ladrões que tudo forjam e fazem pra incriminar inocentes como o senhor, e com um breve retrospecto e exibição de sua admirável vida pregressa, estou firme e seguro, como qualquer brasileiro, que o senhor apóia a necessidade de urgência na votação desse projeto, e que fará de tudo que está em seu alcance para da forma mais presta e ágil, concretizar essa votação o mais rápido possível. E sendo um cidadão como o senhor, cuja transparência se exala pelos olhos, motivos tem para se auto parabenizar pelo seu papel na política de nosso país, e continuar a zelar um nome que, inclusive, inspira o nome de um projeto lei como esses, FICHA LIMPA! Obrigado senhor ROMERO JACÁ, em nome de todos os brasileiros, principalmente daqueles do estado de Roraima que o elegeram para o cargo de senador da Republica Federativa do Brasil, por ser e continuar sendo o político e modelo de homem e caráter que é para a nossa nação, e para os nossos filhos.



Fernando Castro

terça-feira, 11 de maio de 2010

AmorAlidade

O amor morreu.
E com ele os corações de treva, que o apagaram lentamente ao longo dos séculos,,,
Sangraram sua memória...derramando a dor de seu pranto
pelas páginas de sangue,
Páginas no fim,
Em branco
Esquecidas ao longo da história!
O amor se perdeu.
Nas entrelinhas e no convés de filosofias que o embarcaram para o naufrágio,
Num oceano de alheiamento e falsa segurança, onde os destroços humanos
São confundidos com conquistas e sufrágios,
Universais, individuais,
Perigosos venenos adorados como eram os deuses nos tempos dos faraós!
Imperativo categórico
É aniquilar esse sentimento que cinge
Os preconceitos e distâncias
E impõem pensamentos,
Que Desmontam Esfinges
Sabias guardiãs do paradoxo moderno: o amor que finge
logos no doxo
De não amar para si amar
De não doar, para dar
E sofrer, fingindo que não sofre
E perder, mostrando que vence
Temer, dizendo que não corre
Se bastar, querendo pertencer
Onde tudo é ilusão, e nada mais convence!
Diabos malditos que nos fazem perecer,
Aonde colocaram esse altar
De nobre sentimento?
O que fizeram com seu valor?
O que de fato,
Depois de tudo
É amor?


(Senão um túmulo...?)

   [____$__$____]

            *    *

     fernandocastro

             ___

segunda-feira, 10 de maio de 2010

um feliz dia das mães

“cegos anunciam o delirio comum. Ninguém estaria vivo para perceber, o quanto de tempo cabe num único gesto sincero, para se poder desperdiçar... tempo”



Boa noite, ainda te sacodes na cama?
Ainda sobras em ti os vestígios,
De um dia de sacrifício?
Em teu olhar, sensação estampada
Do vazio, do desperdício!
Ainda sobrou em tuas insuficiências
Algo a se aproveitar, que não seja
Um completo malefício?
Neuroses que chamas regras
Virtudes interpretas como vícios
Mais que pena,
Ainda acometido de insônia
Revirando-se numa cama que arde
Num travesseiro que condena
Mais que pena,
Faz da vida um suplício
Num coração de cortiço
Onde tudo que é lixo pode entrar
Onde tudo que é vento pode moldar
Será que com olhos puros e teus,
Boneco da vida
Não podes olhar?
E enxergar, o quanto de ti não existe em ti,
E o quanto de ti não é teu?
Meu querido boneco,
Agourado filisteu
Filho de pai também engessado
Espera o mesmo de filho teu
Será que não vês
Que existe muito mais vida
Além daquela que teu pai lhe deu?
Muito mais para visitar
Além da mesma droga de lugar
Que ano após ano,
Não cansas de retornar?
Será que não vês?
Não percebe o porque da cama arder
E nela se retorcer
E morder,
E,
Sem ter o Ser
Toda noite,
Um pedaço
Morrer
Sem viver...
De real nada ser, do sangue humano
Algo que não seja acordes de condutas e valores morais
Volúveis, mutáveis, profanos?
Será tão difícil assim
Por um instante não julgar?
Ou se julgar, não condenar?
Não sabes pedir, e sem clemência,
Imposta a voz
Para impor,
Impor
Para tudo e todos
da forma que lhe agrada
Dispor
Sem razão, sem lucidez
Boneco de insensatez,
Encontrar posso que forma,
Para angústia essa por pra fora?
Meu irmão, debulhado por si mesmo
Tens que aprender a falar
Pois sei que amas
E se atormentas no expressar
De que forma, meu querido ente cingido,
Posso as lâminas retirar
Para menos te deixar ferido?
Sei que amas
Por isso reviras-te na cama
Por demais amar
E calar
Com medo de falar
Vergonha
De mostrar
Talvez!
Lúgubre insensatez
Diga-me, existe acaso um bálsamo no mundo?
Para além da hora,
Silenciar o corvo de Lenora?
Pois teu amor me convenceu
Teu respiro de solidão
O meu, comoveu
De tua alma arrancar
Ajuda-me a espada!
Para não como uma fada
Dormir
Mas também,
Em destino outro que o de Romeu
Que envenenado de amor
E rancor
A vida em si,
Não conheceu
Boa noite papai, ainda te sacodes na cama?


fernando castro....
uma homenagem na madrugada do dia das mães...., e dos pais !

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Pôr do Sol

Calmamente pálido, desce o Sol para trás das montanhas de nuvens e fumaças que cercam essa selva de prédios e pontes, de luzes e ruas, de mortes em vidas, de dores e amores. Tudo fica um só. A paisagem do céu se mistura com o contorno dos prédios, que estão à beira de serem abraçados pela escuridão. Está-se nesse momento peculiar do dia, onde os resquícios da claridade ainda emanam sua presença sutil e quase delirante: cores que dançam entre si, se apertando, se provocando, testando os limites da poesia com as nuvens que se transformam em véus, e as luzes das casas, que se transformam em estrelas. O tom afogueado é diluído devagar pelo infinito, junto às imagens sugeridas pelo traço de um pincel que arrasta os amores dos deuses do dia, e das divindades da noite, em puro confronto de paixões, de opostos. E o céu se transforma em palco, e os nossos olhos, todos os dias, em platéias. Giro esplendoroso dos astros que nos cercam, e nos elevam a condição de criatura que aprecia, para além do ilimitado, porém, absolutamente presa por tudo que não seja pensamento e imaginação. Criatura que noção tem de sua extrema impossibilidade, porém não sonha que de fato é impossível não ser exatamente como aquele pôr do Sol, que em instantes, passou, deixando um rastro de fantasia e lembranças pela tarde que nunca mais entardecerá. Os choques das cores são as emoções fervilhando no caldeirão dos ímpetos e vontades, no desejo ardente de ultrapassar os limites do corpo, e as condicionais de um pensar que em tese, poderia ser ilimitado. São os mistérios e o convite para o outro mundo, o impenetrável imaterial das fantasias das mentes, da plenitude da imortalidade no instante, que morrerá logo em seguida de ter acontecido. A cidade era a vida para todas aquelas pessoas que se abraçam no claro e no escuro. A cidade era casa. Era mistérios e experiências, prontos para serem descobertos, pequenos tesouros escondidos no labirinto da eternidade, que nunca precisaria se repetir, mas que sempre acaba sendo percorrido pelos mesmos caminhos. Esse pôr do Sol viria para ampliar essa noção de infinitude, e de glória, e de experiências que não se esgotariam numa única vida, num único lapso de tempo que ante o todo incomensurável é nada! Todos os dias, viria como arauto da poesia infinita, do beijo eterno, da pomba vermelha e branca, que conduz às prisões da alma a chave mestra, a realização do desejo de voar. Em cada estrela uma janela, aberta ou fechada, uma luz que representa uma vida, que pressupõem diálogos, que esconde histórias ainda não ouvidas, amores não experimentados, beijos e perfumes não saboreados pelos sentidos para sempre aprendizes de tudo nesse mundo inacabado e perfeito, e infinito, infinito, tão infinito que por mais que o possam cercar, agrimensores da terra e da vida, com seus radares delimitadores de fronteiras e instrumentos catalogadores dos fatos, eu o afirmo, com meus olhos que sangram lágrimas de todos os corpos em volúpia de carícias de todas as almas, que é infinito, pois mesmo que vivêssemos todas as vidas, e voltássemos para todos os pôr dos sóis, nunca, nunca, jamais conseguiríamos viver tudo que nele cabe, com todas as pessoas que nele existe, e com todas as coisas que ele, com a supremacia de um deus absoluto, coloca ao nosso incontestável alcance. Assim se põem o Sol no meu dia, para amanhã eu poder me apaixonar de novo.

fernando castro...
no fim da tarde!

A Rosa de Noel

Um amor de botequim
Plantado em garrafas
Em versos embriagados
Que tua voz
Cantou pra mim
Um amor de fim de tarde
De inverno e estio
Que sobrevive por um fio
De rosa
No jardim
A mesma rosa
Apaixonada e indecorosa
Que voce plantou pra mim
Nos versos embriagados
Que regavam,
Apaixonados
As flores desse jardim
Que voce plantou
Em mim
As rosas de botequim
Que espelham no céu
Quando nosso amor morreu
Nosso último desejo
A eterna Rosa de Noel !

de fernando castro  p/  papai Noel...... 06.05.10...12:00

um adeus

Os seus rancores, nao plantei,
Assim como os males
Que te cercam
Não cogitei,
Tampouco as dores,
E os quadros tortos na parede
Incolores
Não pintei
Estou certo do que digo
Mais do que ninguém
Eu sei
O quanto
Dos meus valores
Eu te dei
E o quanto
Do teus desamores
Com palavras dóceis
Repudiei
Pois entao
Não me digas
Que não te quis
Eu não me culpes
Por hoje
Quando me queres
E não me tens
Estar infeliz
Pois eu
No meu silêncio
De tudo já fiz
Com a minha ausência
Tudo falei
E gritei
E berrei
E esperneei
Para além das fronteiras
Para fora do mundo
O quanto te amei
Mas tu,
Moribundo
Calado e obscuro
De orgulho profundo
Fizeste-te surdo
Mudo,
Imundo...
Pois entao não me venhas,
Agora,
Depois de tudo,
Meu bem,
Me reivindicar
Porque não adianta
Querer escutar,
Quando finita a orquestra
As Palavras mortas
Que Até o vento
Custou pra levar...

fernando castro.... 06/05/10....para despertar!

um despertar

Casa de palha, q sobressai sobre seus pés
Amor que empalha, os vestígios
De uma saudades
Do abraço de um homem
em corpo de mulher!
Passeando ao luar,
De mãos dadas com a felicidade
Acontece de noite,
O insinuado pelo fim da tarde
E no peito,
Dileto,
Surge o nome
Límpido
Desse amigo
Secreto
Que sem pedir
Invade
Já tao tarde
As pradarias dos sonhos
Que nos fazem rir
E com seus beijos
Quentes,
Sentir
O pouso dormente
Da vida,
Eloqüente
Nos limites da carne,
Que de tanto encarnar
Se fez exausta
E silente!
Se fez
Como a rosa sem luz
E com fome,
O sutil feminino
Na pele de um homem!

fernando castro....06.05.10.... para dar adeus....

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Sambas Gloriosos

CRIANÇA ESPERANÇA

Desponta no arraial
Belo dia sorridente
No espaço sideral
Para alem do simplesmente
Se sambar tristemente
Sem a tal conversa
De jogral
De criança e esperança
Que condenada
Sem lembranças
Já cedo na rua aprende
Os passos da confiança
Que na rua faz sambar
De fome de medo e de chuva
Criança linda a desfilar
Na rua cedo aprende
Sem teto já sambar
E samba esperança
Nos olhos de chuva
Da criança
Que samba, samba
De fome, de medo, de rua
De lama no salto
E veia na agulha
Samba de fato
No lixo, no rato
Na ponta do pé
No cristo da fé
Sem vileza, sem maldade
Samba nos confins da cidade
Ruidosa, temerosa
Descalça na cidade maravilhosa
De ponta cabeça
A quem se enterneça
De junto sambar
E essa criança do samba
Esmolar,
E colar, descolar,,
Na escola
Os sacos de cola
Que também vem sambar
No mito, e no grito
Nas ondas da praia
Na pelada e no rito
No rabo de saia
Que Também vem sambar
De olhar
Certeira
Criança marota
Do samba de gafieira
Se esfola na vida
E na sola
E nunca do samba se cansa
Nunca pára de sambar
Criança do rio, do mar
Que Dança, dança
Criança do samba esperança!
Nunca pára de sambar!

(Uma homenagem ao piedosíssimo DiDi)

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SAMBA DO GIZ

O quanto mais melhor
De pandeiro e regalo
Pois Vai de mau a pior
A feira nova do aprendiz
Que vende chama em compota
Para incendiar
Uma frota
De maluco que não me quis!
Vai de mau a pior
Essa gincana
De sara gana
Que não engana quando diz
Largue o pó meu bem
Tu cheiras giz!
E assim
quando padece
O triste louco
Que enlouquece
E não sabe mais viver
Sem saber que não merece
Não saber que viver
Muito enriquece
Ai, se tu soubesses
Se tu soubesses
Eu então,
Nada mais faria
Pois do ar
Tiro alegria
E então
Eu nada mais diria
Pois ao calar
Eu dançaria
Ai, isso entristece
Esse teu rosto
Que no desgosto
Apodrece,
a face tua
da alma pura
Que insegura,
Fora do tempo,
muito envelhece!
Ai meu bem,
Se tu soubesses!
Se tu soubesses!

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TRAJADO SEM RIGOR

De traje a rigor
Vem meu amor
Me convidar
Pra subir na passarela
E com ele desfilar
Sem traje e sem pudor
Passa por ela
A passarela
Dos confins
Desse meu amor
E nos fins
dos finalmente s
nasce esse samba
irreverente
que felizmente
faz meu amor
de tudo sambar!
De traje e sem rigor
Desce o louvor
Do ensaísta
Em passos largos
De sambista
Desce em socorro
A voz do morro
Equilibrista
Que me delira
E me alucina
Essa nossa lira
Da voz do povo
Que faz o morro
Todo sambar
E eu,
Que já não morro mais
Não fico atrás
Desse fervor
Da avenida
Que sem traje e sem rigor
Me faz calor
Na alma dessa escola
Que de samba e cartola
Me faz na vida entrar
Sem pudor e sem esmola
Junto aos pés
Dessa cidade
Maravilhosa
Para sem fim
Assim sambar!

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BRASIL

Ó, meu pandeiro mulato
Do samba mais nato
Que tanto desfila
No meu porta retrato!
Vem, vem pra perto cantar
Mais pra perto sambar,
O resto que sobrou pra dançar,,
Vem, em noites alvas tão falantes
Em rosa púrpura amante,
Com versos de lábios triunfais,,,
Conversa de rimas ancestrais
Vem, para alem da ladeira
Brasil brasileira
Brasas em tuas fogueiras..
Brasas de bravo Brasil, Brasil..
Tão Bravo, nesse samba que é gente
Nesse calor que desmente
A Frieza na alma do olhar!
Vem, se tu assim nu me vem..
Não mais preciso de nuvens
Para sem asas voar,
Em ti, pra ti,
Vivi, tanto, nesse Brasil tantos prantos
Nesse tesouro recanto
Esse teu jeito de amar
Vem, cada dia mais perto
Desse seu povo liberto
Do medo que impede sambar
Brasil, Brasil....
Brasil tão fogueiro,
De mulato matreiro
Numa esquina de bar
Samba, toda noite criança
Muito alem da matança
Do sangue que paira no ar
Vem, pro meu lado certeiro
Descalço e nu no terreiro
Em alma minha desfilar
Vem, tão sozinho e sorrindo
Vem com a graça tinindo
Para comigo dançar
Em ti, pra ti, vivi....
Brasil, Brasil,Brasil, Brasil....
Sei, o quanto devo sorrir
Por esse solo permitir
Tanta alegria pra dar
Sei, que devo imensamente
A todo o povo da gente
Que ta aqui pra sambar
Por ti, por mim, por nós,,,,Brasil!
Brasil, Brasil!

Sem mágoa, sem querelas!
homenagem sutil
pra esse país de aquarelas!
Aquarela do BRASIL!!!!

Fernando Castro


Hohoho...

sábado, 1 de maio de 2010

a lagarta na casca de nós

Uma lagarta morta, que escorre de minha pele em sua metamorfose dos amanhãs ainda não nascidos, dos dias felizes encobertos pelas mágoas e medos do ontem morto e passado, e que de tão distantemente próximos, secam o vale dos meus olhos túmidos de esperança pelas lágrimas de uma borboleta que nunca nasceu. De súbito, a vontade de morrer de novo se apodera de meu sangue e de cada célula que vibra em meus quereres e metas, e uma lucidez horrenda surge de meus pesadelos concretos numa gargalhada fantasmagórica. Estou precisamente no mesmo lugar onde sempre estive, e dessa constatação surge a agonia para o próximo passo, que nunca acontece, e morre a cada instante, de novo, se repetindo para sempre a cada dia que me resta, a cada nascer e morrer do sol, que me ilumina, apagando com sua luz, a pele que o tempo descasca de meu corpo, sendo eu nada mais do que a vida desprendendo-se de mim. Encaixotado pelo hábito de permanecer refletindo, na inação eterna, respiro a mediocridade que herdei como carne dessa lagarta que me abraça, e me faz respirar aquém de mim mesmo. Como um espelho que reflete uma melhor possibilidade de ser, e se quebra quando tento me apoderar da imagem. Inalcançavelmente perfeita, intocavelmente bela. O vidro estilhaça, e corta, e sangra. E os urros dos mortos continuam alucinando minha carne desprovida de alma na janela do outro mundo, na terra da fantasia, na alucinação infinita que colore minha realidade pequena com cores de desejos secretos, de habilidades e poderes que ainda não despertaram do mundo dos sonhos. Essa possibilidade de não ser permanece real em cada copo d’água, em cada bom dia disperso aos vícios que me dominam, em cada despedida de alguém que nunca mais volta. Perco totalmente a referência de quem sou, onde nada sinto, senão o completo retorno do nada triunfal e absoluto. Nada significa. Tudo sempre foi o mesmo, e a lagarta nunca foi a borboleta, e a borboleta, por mais que seu espelho pinte o contrário, nunca sequer mensura a possibilidade, em seu infinito vôo de liberdade infinita e poética, de ter sido uma rastejante, irrefletida lagarta.


Assim morre o homem, com asas que nunca existiram, mas sempre estiveram lá!

fecastro.... boa noite, borboletinha!....